A Comissão Política da Frelimo homologou os candidatos à cabeça-de-listas do partido para as eleições autárquicas deste ano, um processo que deverá conhecer o seu fim neste final de semana, com a realização das eleições internas para apurar os candidatos para as 6ªs Eleições Autárquicas, em todas as Autarquias Locais, que se vão realizar no dia 11 de Outubro de 2023, que se prevê renhidas.
Na sessão que se previa que a Comissão Política iria limitar-se a analisar os nomes enviados pelas Províncias, com o conforto das Brigadas Centrais, a CP referenciou alguns nomes, nos casos que se mostraram necessários, embora noutros, a decisão tenha se mostrado excessivamente intrusiva, o que pode gerar confusão nas bases.
O caso mais visível e necessário foi na Matola, onde depois de Calisto barrar tudo e todos, uma estratégia que sugere um Cossa que conhece o preço de tudo e todos, da base ao topo, numa aparente compra de lealdade extensiva à oposição, indicando para si concorrentes internos de fachada, sem um mínimo de capital político, a CP viu-se obrigada a intervir. Sacrificou do cume Júlio Parruque para devolver à Matola a dignidade e, a Frelimo, o resgate de credibilidade depois de um reinado que colocou a edilidade muito distante dos munícipes, com recorrentes queixas de obras cujos custos mostravam-se distante da qualidade apresentada.
As últimas (2018) eleições municipais não mentem, oficialmente, a diferença foi de 0,77 com António Muchanga, que teve 47,28%, contra os 48,05% de Calisto Cossa, depois de vencer por 59%, em 2013. Ou seja, depois dos primeiros cinco anos de “incompetência” manifesta, como a CP tenta mostrar ao sacrificar Parruque, a queda de Calisto foi contínua. Há quem arrisca dizer que até para se manter em 2018 foi preciso arranjos com a Renamo. Os 0,77% a mais para Calisto foram conseguidos numa eleição onde as irregularidades, confirmadas até pela CNE, embora tenha se refugiado na máxima de que não influenciaram no resultado final, não deixaram de ser gritantes.
A descida de um governador para o município expõe um Calisto incompetente, ao mesmo tempo que resgata a honra de uma Frelimo consciente de que afinal é possível isolar as prioridades estomacais em função das necessidades das bases do partido. A insistência de Calisto em aceitar ir às urnas internas com Parruque mostra sua ambição irracional, que além de alargar a sua impopularidade bem ilustrada pelos números acima, irá consolidar a percepção de uma Frelimo fragmentada. Por hipótese, uma possível vitória nas internas, onde a máquina já foi afinada a seu favor, irá expor quem apostou no Parruque. Ou seja, a continuidade de Calisto a pré-candidatura para um terceiro mandato na Matola será em si uma afronta a Frelimo.
O que os partidos devem saber é que as eleições municipais são mais exigentes que as presidenciais. No momento em que não temos oposição parlamentar com liderança, qualquer um na Frelimo pode ser Presidente da República, mas o mesmo não acontece nos municípios, onde apesar das fragilidades dos partidos da oposição, o capital político dos cabeças-de-lista é por si só determinante para vitória.É aqui onde a Frelimo precisa estar em alerta e rever suas escolhas na cidade de Maputo, onde colocou um anónimo (Razaque Manhique) para concorrer com Venâncio Mondlane, ou na Matola Rio, onde ousou colocar, para as internas da Frelimo, Abdul Issufo ao lado de Fernando Muzila. Não basta não ter mácula e mandar bons cheques à liderança da Frelimo, é preciso saber quem conhece as bases.