Washington aprova 60 milhões de dólares para Moçambique

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  • FMI: “O desempenho orçamental em 2022 ficou aquém das expectativas, sobretudo devido à derrapagem registada na reforma da massa salarial”.

 

O Conselho de Administração do Fundo Monetário Internacional (FMI) concluiu a segunda avaliação com Moçambique ao abrigo do acordo trienal da Facilidade de Crédito Estendida (ECF, sigla inglesa). De acordo com o comunicado do FMI, isto irá permitir o desembolso imediato de 45,44 milhões de DSE (cerca de 60,6 milhões de USD), que podem ser utilizados para apoiar o orçamento, elevando o total dos desembolsos realizados ao abrigo do acordo da ECF a 159,04 milhões de DSE (cerca de 212,09 milhões de USD) para Moçambique.

 

Ao concluir a avaliação, o Conselho de Administração aprovou também o pedido das autoridades para a dispensa de cumprimento de dois critérios de desempenho: i) o critério de desempenho do final de dezembro de 2022 relativo ao saldo orçamental primário interno, que não foi cumprido devido a derrapagens na execução da reforma da massa salarial e a quebras de receitas; e ii) o critério de desempenho contínuo relativo à não acumulação de atrasos de pagamentos externos públicos e com garantia pública, que não foi cumprido devido a atrasos no serviço da dívida por uma empresa pública. O pedido de dispensa foi aprovado tendo em consideração as medidas correctivas adoptadas pelas autoridades.

 

A banda de inflação da cláusula de consulta sobre política monetária foi excedida no limite inferior devido a uma desaceleração da inflação superior ao esperado. A consulta com o Conselho de Administração sobre a política monetária foi concluída. Aquele órgão máximo do FMI concluiu igualmente a análise das garantias de financiamento e aprovou o pedido de alteração da condicionalidade apresentado pelas autoridades.

 

“As projecções apontam para um crescimento da economia em 2023, impulsionado pelo aumento da produção de GNL, da atividade agrícola e do sector de serviços. A inflação regressou a um dígito graças a uma política monetária pro-activa e a preços de importação favoráveis para os produtos alimentares e os combustíveis”, lê-se no comunicado da instituição.

 

Segundo o FMI, o desempenho orçamental em 2022 ficou aquém das expectativas, sobretudo devido à derrapagem registada na reforma da massa salarial e ao fraco desempenho das receitas. “Embora os investimentos em matéria de GNL estejam a contribuir para o défice da conta corrente, o aumento previsto das exportações de GNL e a moderação das importações de produtos alimentares e energéticos deverão melhorar o saldo da conta corrente no futuro”, constata.

O desempenho do programa foi predominantemente satisfatório, com o cumprimento de importantes compromissos do programa nos domínios da governação orçamental e da luta contra a corrupção, mas registaram-se derrapagens importantes no domínio orçamental.

 

Atrasos no projecto de GNL representam riscos

 

Os riscos para as perspectivas encontram-se sobretudo enviesados no sentido descendente. Os atrasos nos projetos de GNL e o agravamento da fragmentação geoeconómica representam riscos, enquanto a inflação permanece vulnerável à pressão exercida pelos aumentos salariais. As catástrofes naturais e a insegurança alimentar também representam riscos de deterioração da conjuntura económica. As perspectivas poderão ser revistas em alta caso se verifique um aumento de projectos de GNL, entre outros factores.

 

De acordo com Bo Li, Diretor-Geral Adjunto e presidente interino do Conselho, que falava na reunião, “a recuperação económica em Moçambique está a ganhar fulgor graças aos projectos de gás natural liquefeito (GNL) em curso e à retoma registada em vários sectores. A economia demonstrou resiliência face ao ciclone Freddy, que atingiu Moçambique no início de 2023. Embora as perspectivas permaneçam positivas, subsistem riscos significativos associados, sobretudo, a fenómenos climáticos adversos e a uma situação de segurança frágil”.

 

Adiante, Li destacou que as autoridades estão a tomar medidas correctivas para assegurar a disciplina orçamental em 2023 e deverão igualmente prosseguir os esforços de consolidação orçamental a médio prazo.

 

Do lado das receitas, o alargamento da base do IVA irá ajudar a agilizar a mobilização de receitas. Do lado da despesa, a redução da massa salarial (em linha com o resto dos países da região) permitirá criar espaço orçamental para despesas de elevada prioridade. O reforço da rede de segurança social continua a ser importante para combater a insegurança alimentar e o aumento da pobreza.

 

A orientação da política monetária é adequada para ajudar a conter as pressões inflacionistas e a repor as reservas. Embora a inflação tenha abrandado mais rapidamente do que o esperado, as autoridades devem continuar a agir com cautela, de modo a ancorar as pressões inflacionistas e a apoiar a estabilidade macroeconómica. A implementação de uma combinação adequada e cuidadosamente calibrada de políticas orçamentais e monetárias é fundamental. A melhoria da transmissão da taxa diretora através da implementação de um regime de metas de inflação a médio prazo continua a ser importante para melhorar a gestão macroeconómica e permitir uma maior flexibilidade da taxa de câmbio para fazer face a choques externos.

 

São igualmente necessários progressos contínuos a nível da governação, da luta contra a corrupção e da agenda de reformas estruturais orçamentais, incluindo no que diz respeito à proposta de lei do Fundo Soberano submetida ao Parlamento para aprovação e que visa desenvolver um quadro transparente, responsável e eficiente para a gestão das receitas de GNL. Outras reformas fundamentais incluem melhorias na administração das receitas, na gestão das finanças públicas e da dívida, e na transparência das empresas públicas. O reforço do quadro de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo e o acompanhamento das vulnerabilidades do sector financeiro, incluindo dos riscos em matéria de cibersegurança, continuam a ser importantes. Dadas as fortes vulnerabilidades de Moçambique às alterações climáticas, será também necessário desenvolver políticas que promovam uma maior resiliência climática.

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