Chang expõe certificado dos camaradas e exibe musculatura financeira nos Estados Unidos

DESTAQUE POLÍTICA
  • Estudou em Londres, mas não fala inglês
  • Engane-se quem pensa que Chang ficou falido em cinco anos preso na RSA
  • Está disposto a pagar 64 milhões de meticais para responder em liberdade nos EUA
  • No seu curriculum consta que estudou em Londres, Inglaterra, mas não fala inglês

Na primeira audiência em que foi legalizada a sua prisão nos Estados Unidos da América, o antigo ministro das Finanças, Manuel Chang, sofreu a sua primeira derrota judicial nas terras do Tio Sam ao ver negado o seu pedido de fiança para responder ao processo em liberdade. O juiz alegou haver risco de fuga, argumentando que o antigo governante moçambicano ainda tem muito dinheiro que o possibilitaria engendrar esquema para escapar das garras da justiça. Mas, na audiência da passada quinta-feira, Manuel Chang expôs duas situações curiosas, sendo a primeira o facto de ainda ter um bom arcaboiço financeiro, a ponto de ter se proposto a pagar uma fiança de um milhão de dólares, qualquer coisa como 64 milhões de meticais. A segunda, ainda mais curiosa, expõe os currículos e habilitações literárias dos “camaradas” governantes, pois, contrariamente ao que consta do seu curriculum vitae em como estudou em Londres, afinal, Manuel Chang sequer sabe falar inglês, só entende, o que levanta algumas dúvidas sobre a veracidade de algumas das suas qualificações.

Evidências/ Agências

Chegou aos Estados Unidos na noite da passada quarta-feira e no dia seguinte já estava presente a um juiz que legalizou a sua prisão e carimbou aquela que é a sua derrota política. Visivelmente abatido e longe de lembrar aquele homem que já teve moçambique sobre os ombros, Chang precisou de um intérprete português durante todo o julgamento.

A situação chamou a atenção do juiz, que não compreendia como um indivíduo que fez, supostamente, um mestrado em Londres, na Inglaterra, não sabe falar inglês.

“Não falo, mas entendo”, respondeu em português Manuel Chang ao ser questionado pelo juiz se falava inglês, fazendo soar os alarmes sobre os currículos e qualificações literárias com as quais os dirigentes, sobretudo da Frelimo, se apresentam, o que relança debate sobre a proliferação de diplomas, certificados e títulos acadêmicos duvidosos na elite política nacional, uma herança da primeira república, em que muitos dos generais saídos da Luta Armada, sem ter uma vez sentado na carteira de uma universidade, se distribuíram certificados e títulos de Doctores.

“Estou perguntando porque entendo que você tem um mestrado da Universidade de Londres”, comentou educadamente o juiz federal norte-americano Nicholas Garaufis, antes de deferir o pedido do advogado de Chang, que afirmou que, dada a importância do processo, seria útil para seu cliente ter um intérprete.

Simpatia a parte, o juiz federal norte-americano mostrou que Manuel Chang poderá nāo ter vida fácil nos Estados Unidos, ao indeferir liminarmente o pedido pedido de fiança do ex-ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang, que deve, assim, permanecer atrás das grades enquanto aguarda o julgamento por fraude no famoso escândalo de “atum bond” que levou o país à falência.

Chang exibe musculatura financeira e propõe-se a pagar USD um milhão

Chang, que parecia frágil ao entrar no tribunal na tarde da passada quinta-feira no Brooklyn, segundo descrição da S, esperava sair sob fiança de um milhão de dólares, cerca de 64 milhões de meticais, depois de ficar preso por quase cinco anos na África do Sul enquanto aguardava a extradição.

Entretanto, o juiz Nicholas Garaufis negou o pedido de fiança do réu, considerando Chang um risco de fuga.

“Ele ainda poderia se apresentar à Missão de Moçambique junto à ONU na 55th Street, em Manhattan, e eles poderiam optar por abrigá-lo e devolvê-lo a Moçambique se quisessem, certo?”, perguntou o juiz ao advogado de Chang, Adam Ford.

Ford respondeu “sim”, mas propôs que Chang usasse uma “tornozeleira eletrônica” e concordasse em permanecer no Brooklyn, impedindo-o assim de entrar na Missão de Moçambique em Manhattan. Além disso, seu cliente lançaria uma fiança de reconhecimento pessoal de US$ 1 milhão, garantida por US$ 100 mil em dinheiro, e entregaria seu passaporte.

Chang pode apanhar até 55 anos de prisão

O promotor Hiral Mehta argumentou que Chang representava um risco de fuga porque não tem laços com os Estados Unidos, pode pegar até 55 anos de prisão se for condenado e está financeiramente bem, depois de supostamente receber US$ 5 milhões em subornos.

Os advogados de Chang contestaram isso, dizendo que, embora Chang tenha US$ 2 milhões em Moçambique, esses fundos estão congelados. “Ele não tem acesso a esse dinheiro”, disse Ford ao juiz. Garaufis não se convenceu e decidiu que “o pedido de fiança é negado”.

Chang é uma das oito pessoas acusadas nos Estados Unidos de uma suposta conspiração para saquear centenas de milhões de dólares de empréstimos no valor de US$ 2 bilhões organizados para projectos marítimos duvidosos, incluindo uma frota de barcos de pesca de atum.

Os procuradores dizem que Chang recebeu três pagamentos no total de US$ cinco milhões em troca de fornecer uma garantia do governo de Moçambique sobre os empréstimos arranjados pelo Credit Suisse. Quando os empréstimos entraram em incumprimento, levou ao colapso da dívida soberana do país, devastando a economia moçambicana.

Chang se declarou inocente de três acusações de conspiração relacionadas a fraude eletrônica, fraude de valores mobiliários e lavagem de dinheiro. Insinuando sua futura defesa, o advogado de Chang afirmou que, embora a assinatura de seu cliente esteja nos documentos do empréstimo, isso não indica que ele sabia da fraude.

“Ele foi obrigado a assinar um documento porque esse era o seu papel no governo”, disse Ford, dando a entender que, muito provavelmente, durante este julgamento poderá se saber quem foi que solicitou as garantias.

Três banqueiros do Credit Suisse já se declararam culpados no caso. Um executivo da PrivInvest foi absolvido em 2019. Os restantes três arguidos não estão em prisão preventiva e inclui alguns moçambicanos.

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