Enquanto o Governo tenta tapar o sol com a peneira, terroristas voltam a tomar vilas

DESTAQUE POLÍTICA
  • De Dezembro a Março terrorismo provocou mais de 80 mil deslocados internos

O Governo, a vários níveis, continua empenhado na sua estratégia de desdramatizar o máximo possível a nova vaga de ataques coordenados do grupo terrorista que desde 2017 semeia dor e luto em Cabo Delgado. Depois de acusar os jornalistas de estarem a difundir inverdade para espalharem alarme ao serviço dos terroristas, eis que na semana passada os terroristas voltaram a mostrar musculatura ao tomarem, durante algumas horas, sem grande resistência, a vila sede do distrito de Quissanga, local onde há cerca de um mês estiveram a cerca de dois quilómetros. Enquanto isso, o número de deslocados estabelece um novo recorde, com mais de 80.000 indivíduos deslocados devido aos recentes ataques em Macomia, Chiure e Mecufi. Trata-se de um fluxo migratório que é já considerado o segundo maior desde 2017.

Os discursos negacionistas do Governo, encabeçados pelo Presidente da República, Filipe Nyusi; o governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, e o ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Chume, que procuram desdramatizar a situação real no Teatro Operacional Norte, vão sendo desmentidos pela realidade.

Depois das autoridades terem desmentido que os terroristas tinham estado a cerca de dois quilómetros da Vila Sede de Quissanga, no mês passado, chegando a acusar os jornalistas de conspiração, os moçambicanos foram colhidos de surpresa, no passado sábado, com intrigantes imagens de terroristas a passearem num verdadeiro à vontade na vila sede do distrito de Quissanga.

A ocupação, aparentemente sem grande resistência, foi temporária. Os insurgentes em número não especificado terão pernoitado na última sexta-feira, 01, na comunidade de Mussomero, próximo da vila de Quissanga, e dia seguinte entraram na sede com o objectivo de saquear produtos alimentares, mas sem causar vítimas mortais e acima de tudo aconselharam aos populares para que não fugissem porque pretendiam apenas comida por causa da fome que passam e não para matar ou destruir infra-estruturas.

Foi precisamente na manhã de sábado e na companhia de crianças que arrombaram um estabelecimento comercial onde saquearam diversos produtos alimentares e posteriormente confeccionaram comeram no mesmo local e depois ficaram à vontade.

Alguns habitantes contactados telefonicamente pelo Evidências confirmaram que foram forçados por aquele grupo armado a participar numa reunião.

As fontes, na sua maioria funcionários públicos e que precisaram no anonimato, revelaram que a presença dos terroristas naquela vila forçou a retirada das Forças de Defesa e Segurança, incluindo os membros do governo distrital.

“Os poucos funcionários que já estavam na vila pararam as actividades e acabaram fugindo numa embarcação até a ilha de Mefunvo, buscando formas de chegar a cidade de Pemba. Até a nossa saída por volta das dez horas, os bandidos ainda estavam na vila a organizar os produtos que pretendiam”, explicou um dos funcionários, estranhando a falta de reação das FDS.

Ademais, conta ainda a fonte, os insurgentes depois de alcançarem os seus objectivos, permaneceram na praça de Quissanga, onde na companhia de adolescentes confeccionaram alimentos, comeram e descansaram livremente.

Um dia depois, ou seja, Domingo, os terroristas tomaram também por algumas horas a ilha das Quirimbas, no distrito do Ibo, tendo assassinado pelo menos dois agentes das Forças de Defesa e Segurança, segundo fontes locais.

“Mataram uma vaca, cozinharam e convidaram algumas pessoas da aldeia para se juntarem à refeição. As pessoas vivem com medo e as autoridades obrigaram as pessoas a permanecerem dentro de casa por razões de segurança. Ninguém pode sair de casa por ordens das Forças de Defesa e Segurança, porque eles ameaçam vir a Ibo depois de Quirimba”, revelou um habitante da ilha do Ibo, citado pelo Jornal O País.

Registada segunda maior onda de deslocados desde 2017

De acordo com dados da Organização Internacional de Migração, desde 22 de Dezembro de 2023, 81.721 pessoas foram deslocadas devido aos ataques ou medo de ataques em consequência dos ataques em Mecufi, Macomia e Chiure.

Vindos de Mecufi foram registados 948 deslocados internos, do distrito de Macomia registados 3.658 pessoas deslocadas e do distrito de Chiure cerca 63.115 pessoas deslocadas.

A OIM tem prestado apoio vital às comunidades afectadas, incluindo abrigo, serviços de saúde, saúde mental e apoio psicossocial, protecção, acompanhamento de deslocamentos, gestão de locais e esforços de coordenação.

Desde 1 de Março foram distribuídos kits de emergência de produtos não alimentares a 1.255 famílias através do Programa de Resposta Conjunta com a UNICEF e o PAM.

Entretanto, o número crescente de pessoas necessitadas está a ultrapassar as reservas disponíveis, colocando milhares de pessoas em risco, especialmente mulheres, crianças e idosos.

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