- Barulho continua e a posição do ministro não colhe consenso
- Não apresentou os resultados produzidos pela FMA em quase um ano, mas desafio os outros
- “Enquanto não me derem razões para eles (FMA) não continuarem, eles continuam” – Magala
- Grupos de interesses na LAM em medição de forças
Num acto que sugere medição de forças, veio o ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, garantir a continuidade do contrato da Fly Modern Ark (FMA) como gestora das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), em menos de 24 horas depois de a Presidente do Conselho de Administração do Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), Ana Senda, nomear Theunis Crous, dono da FMA, para director-geral interino, anotando, porém, que só depois dos 60 dias, em função do desempenho, iria-se de decidir sobre a continuidade ou não. O ministro decepou as dúvidas e confirmou a continuidade, mas constam que está a ser pressionado a apresentar os indicadores que sustentam a sua decisão. O SINDICATO da LAM solicitou, há uma semana, uma reunião com o ministro, mas ele só vai reunir-se restritamente com os diretores.
Desde o último dia 28 de Fevereiro que João Carlos Pó Jorge já não é director-geral das Linhas Aéreas de Moçambique. A nota de cessão de funções emitida pelo IGEPE justifica que a medida surge num contexto da implementação de medidas de reestruturação, no entanto, o Evidências apurou que, afinal, a data coincide com o fim do mandato de João Pó Jorge, que esteve em frente da direcção da LAM desde 2018, depois de assumir o cargo interinamente.
Para o cargo, foi nomeado Theunis Crous, dono e director-executivo da consultora sul-africana Fly Modern Ark (FMA), que passa agora de consultor para um gestor com acesso ao carimbo. Formalmente, Theunis Crous exercerá a função até ao dia 30 de Abril do presente ano, altura em que “será decidida a relação com a Fly Modern Ark”, escreveu o IPEGE, numa nota assinada por Ana Senda.
No entanto, em menos de 24 horas, o ministro Magala decidiu decepar as dúvidas e avançar que o contrato será renovado para depois de Abril, sem, no entanto, avançar os indicadores que sustentam a sua determinação, que vem se mostrando obsessivo muito antes da FMA provar suas capacidades de colocar a LAM na posição almejada.
Coincidência ou não, a prontidão do ministro em advogar pela FMA veio a sugerir nalguns sectores como uma tentativa de medição de forças, num contexto em que já é palpável a ineficiência da FMA, que viu sua última comunicação pública a ter três desmentidas, depois de expor uma suposta gestão danosa que está agora na lupa da Procuradoria-Geral da República.
O ministro de transporte e comunicações disse na sua comunicação, que surge depois da nota do IGEPE, que o futuro da relação contratual entre a Fly Modern Ark e as Linhas Aéreas de Moçambique continua, e se a FMA estiver a fazer bem o seu trabalho não há razões para não continuar a intervencionar a companhia aérea.
“O que nós fizemos no início foi trazer pessoas que podiam nos ajudar como consultores, como conselheiros das decisões prudentes que devem ser tomadas na gestão, operação das Linhas Aéreas de Moçambique. Essa é a Fly Modern Ark”, disse o governante.
Conhecido como bastante meticuloso na sua comunicação, Magala não se socorreu de nenhum indicador que ilustrasse o sucesso da FMA, pelo contrário, quer que sejam partilhados os indicadores que mostrassem o oposto: “a não ser que me dêem razões para não continuarem, enquanto não me derem razões para eles não continuarem, eles continuam. Esperamos um a três anos para a estabilização da LAM. Se for antes, melhor”.
Para Magala, a mudança do gestor da companhia aérea nacional é o caminho necessário para imprimir um novo dinamismo. “É um processo normal. Às vezes é preciso ajustar a máquina. Por vezes, você pode estar a ir a velocidade acima do recomendado para ajustar-se de modo a que o sistema funcione”, considerou, acrescentando que “é melhor darmos outra missão e pormos as pessoas que vão trabalhar como um sistema e gerir bem naqueles parâmetros que nós queremos”.
Mateus Magala pede paciência e apoio dos moçambicanos no processo de estabilização da LAM e assegura que, nos próximos três anos, a empresa poderá dar orgulho aos moçambicanos.
Sem apresentar os motivos concretos de gestão que levam o Governo a estender o contrato com a nova gestora da LAM, Magala disse não ter razões para não continuar com o acordo assumido em Abril de 2023 com a inexperiente e polémica firma sul-africana.
Segundo Mateus Magala, que nunca escondeu seu otimismo com a FMA, a consultora sul-africana é o parceiro que o Governo precisava para se aconselhar sobre as decisões prudentes a tomar sobre a gestão e operação da companhia aérea nacional.
O governante afirma que sempre foi plano do Executivo celebrar um acordo de recuperação da LAM com duração de pelo menos três anos, “dependendo da dinâmica”, de modo a se chegar ao período em que “achamos que podemos estabilizar”. Ele acredita que, dentro de três anos, os moçambicanos sentir-se-ão orgulhosos pela nova LAM em construção.
Na semana passada, o Sindicato da LAM solicitou um encontro com o ministro, mas o governante só manifestou disponibilidade de reunir-se restritamente com os directores de departamentos. Esta não é a primeira solicitação do Sindicato que já demonstrou a insatisfação do desempenho nos últimos meses que coincidem com a entrada, em cena, da FMA.
“Abril está longe, ainda é um longo caminho a percorrer” – FMA
Apesar do anúncio do ministro, Fly Modern Ark, de que o novo director-geral interino da LAM é dono, assinou contrato com o Governo de Moçambique em Abril do ano passado e está a dois meses do fim do seu mandato.
E nesses dois meses, o novo director-geral deve mostrar o trabalho que pelo menos em 10 meses não foi possível apresentar apesar de uma narrativa triunfalista e voltada a denunciar o caos em que a empresa estava no lugar de soluções.
Citado pelo O País, Theunis disse que “temos um programa que foi sendo implementado ao longo dos últimos oito meses. Não me pergunte sobre Abril, porque não estou a olhar para datas. O meu objectivo não é Abril. O meu objectivo é agora, no trabalho de hoje. Abril está longe, ainda é um longo caminho a percorrer”, considerou.
Adiante, questiona a razão pela qual as pessoas lhe têm perguntado se conseguirá ou não apresentar uma companhia aérea diferente até o fim do contrato da sua empresa com o Governo. “Eles perguntam-me o que ‘você pode fazer ou mudar?’ Mas nós estamos a fazer isso, não sei por que as pessoas estão a criar um grande problema sobre isso”.
Lembre-se que, há menos de três semanas, a FMA acusou os gestores da LAM de desvio de fundos, através da instalação de terminais de pagamento electrónico nas lojas da companhia, cujo destino não eram as contas da LAM, mas dos gestores. A LAM respondeu às acusações e disse que a tesouraria da empresa estava sob gestão da própria FMA.
Os posicionamentos públicos da FMA também foram colocados em causa, depois que a Petromoc negou ser responsável pelos constantes atrasos e adiamentos dos voos da companhia. É que, na mesma semana de troca de acusações com a então direcção da LAM, a FMA justificou os atrasos dos voos com a falta de combustível, uma mentira prontamente desconstruída pelas gasolineiras.
Na verdade, as gasolineiras haviam interrompido o fornecimento de combustível devido a uma dívida da companhia para com os seus fornecedores. Para o caso da Petromoc, por exemplo, a LAM devia 600 milhões de Meticais.
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