- Frelimo tenta debelar escândalo de suspeitas de compra de votos em Gaza
Logo depois da sessão extraordinária que culminou com a eleição dos candidatos a deputados da Assembleia da República e a membros da Assembleia Provincial, pelo círculo eleitoral de Gaza, começaram a surgir informações dando conta de um provável envolvimento de alguns membros num esquema de compra de votos e favorecimento de amigos e familiares. Uma das denúncias foi feita nas redes sociais e posteriormente formalizada numa exposição dirigida ao Comité de Verificação por uma camarada que responde pelo nome de Artimiza Magaia, que acusou o empresário e deputado Agostinho Vuma de ter subornado os colegas para se eleger. Na altura, a direcção do partido não se pronunciou, mas informações em poder do Evidências indicam que, afinal, por decisão da Comissão Política, apesar de ter sido eleito, Vuma não consta da lista final dos candidatos a deputados da Assembleia da República, submetida esta segunda-feira aos órgãos eleitorais.
Quando se pensava que a direcção do partido Frelimo fez vista grossa à denúncia de irregularidades, compra de votos e fraude eleitoral nas eleições internas, eis que últimas informações indicam que, afinal, o clamor dos camaradas que denunciaram as alegadas falcatruas foi atendido.
Segundo apurou o Evidências, a Comissão Política da Frelimo acabou decidindo por afastar Agostinho Vuma das listas finais dos candidatos a deputados, pese embora tenha sido o mais eleito entre todos os candidatos ao nível de Gaza.
Ao que tudo indica, as denúncias de compra de votos, com provas de supostas transferências expostas pela denunciante Artimiza Magaia, pesaram bastante para que a Comissão Política decidisse excluir Agostinho Vuma, que agora perde qualquer oportunidade de renovar o seu mandato na casa do povo.
Consta que a decisão da Comissão Política foi tomada depois de o Comité de Verificação ter chamado e ouvido Artimiza Magaia em resposta à sua missiva, em que escalpelizava o escândalo das internas.
Na referida carta, que chegou a apelidar Agostinho Vuma de “bandido”, pedia a anulação de todo o processo de eleição a candidatos a candidatos para deputados da Assembleia da República em Gaza.
De forma particular pedia anulação da eleição de Agostinho Vuma para a posição de candidato a Deputado, por prática comprovada de corrupção eleitoral, para além de instauração de um processo disciplinar contra este nos termos do Artigo 46 da Directiva, por este alegadamente ter distribuído dinheiro no decurso do processo eleitoral.
Aliás, chega a acusar Agostinho Vuma de ter lhe subornado com uma quantia monetária no valor de trinta mil meticais. Para comprovar o alegado suborno, Artimiza juntou à exposição um comprovativo de transferência, feito, supostamente, segundo ela, por um colaborador de Vuma.
Em termos rigorosos, não há nada que ligue de forma explícita Vuma a esta transferência, até porque, segundo consta, Artimiza não é membro do Comité Provincial.
Refira-se que Agostinho Vuma está prestes a fechar a quarta legislatura como Deputado da Assembleia da República, tendo já garantido a sua reforma, mas segundo Artimiza Magaia tem interesse em estar na Assembleia da República para poder obter imunidade.
Terão sido estas as razões que fizeram com que a Comissão Política, sem levantar muitos alaridos e sem chamar atenção, decidisse retirar o nome do actual presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA) da lista dos candidatos a deputado.
Na cidade de Maputo também houve ditadura das ordens superiores
Depois das denúncias de irregularidades relatadas em Gaza e Zambézia, onde, inclusive, os camaradas usaram meios legais para exigir a reposição da verdade eleitoral, na cidade de Maputo também houve contestação dos resultados das eleições internas, devido a um flagrante atropelo da directiva em cumprimento de supostas orientações superiores.
Segundo relatos colhidos dos membros do Comité da Cidade, num processo que se esperava ser livre e transparente, voltou a imperar a ditadura das ordens superiores, com indicações a dedo de camaradas que deviam ser eleitos e os que deviam não ser por mera vingança pessoal ou por não serem do agrado do Presidente do partido.
Um dos beneficiários das indicações à dedo na cidade de Maputo, de quem há contestação, é o jovem Jherson Fernandes, amigo de Jacinto Nyusi, filho mais velho do Presidente Nyusi. Segundo vozes contestatórias, o referido jovem tem estado a ter uma subida meteórica, tendo sido em pouco tempo eleito membro do Comité Central e agora está numa posição confortável para se eleger como deputado da Assembleia da República.
Bastante apagado em termos de intervenção e capital político, os camaradas dizem que a única qualidade que fez com que fosse indicado a dedo e com ordens expressas para que fosse “querido” é o simples facto de brincar com o filho do “chefe”.
Não obstante as indicações à dedo, os camaradas na cidade de Maputo denunciam uma gritante promiscuidade e compra de votos, o que levou a que um casal que partilha cama e mesa fosse constar da mesma lista como candidatos a deputados.
Mas o caso mais flagrante é o facto do primeiro secretário da cidade de Maputo, António Niquice, ter concorrido pela lista de continuidade, quando por força da directiva devia seguir pela lista da renovação.
Segundo Evidências apurou, houve orientação para que o primeiro secretário entrasse na lista da continuidade com a missão única de prejudicar alguns concorrentes. A orientação terá vindo de cima, sem se importar com um grave atropelo da directiva, que impede quem renuncia de concorrer da lista da continuidade.
Quer isto dizer que António Niquice, que renunciou o seu mandato em Março passado após assumir o cargo de primeiro secretário da Frelimo na cidade, querendo voltar à Assembleia da República, devia concorrer pela renovação conforme consta da directiva.
É que, só pode concorrer na lista da continuidade quem suspende o seu mandato ou quem está a exercer efetivamente o mandato. Quem renuncia é substituído e deixa de fazer parte dos efectivos, um princípio flagrantemente pontapeado com beneplácito das “ordens superiores”. Ainda houve tentativa de persuadir António Niquice para se conformar com a directiva, mas debalde, pois estava em causa cumprir os interesses do “chefe”.
As falcatruas, favorecimentos, compra de votos e outras engenharias antidemocráticas têm estado a gerar uma onda de contestação no seio dos camaradas na capital do país. Aliás, a contestação iniciou ainda dentro da sala e acabou transbordando para fora, contudo, mesmo sabendo deste atropelo, a comissão política está a fazer ouvidos moucos.

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