- Moçambique tem capacidade para produzir 29 toneladas de café em grãos
- “O café de Moçambique está qualificado na classe de cafés especiais” – C. Correia
- Organização Internacional do Café reconhece qualidade do café moçambicano
- Cafeicultores querem que o café produzido em Moçambique seja consumido no país
O ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Moçambique, Celso Correia, não tem dúvidas de que Moçambique tem todas as condições para se destacar no mercado internacional de café. Para sustentar a sua tese, Correia referiu que café moçambicano é orgânico, respondendo a demanda do mercado internacional, onde o consumidor é cada vez mais interessado por produtos orgânicos, tendo ainda destacado que a adesão de Moçambique à Organização Internacional do Café (OIC) é uma oportunidade para atrair investimento e desenvolver a indústria nacional. Por sua vez, os cafeicultores reconheceram que a indústria do café ainda tem muitos desafios e advertiram, por outro, que o café produzido em Moçambique deve abastecer o mercado nacional.
Duarte Sitoe
Em Junho de 2023, Moçambique entrou na Organização Internacional do Café (OIC), sendo que o acordo de adesão foi assinado pelo Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, e a Directora Geral da OIC, Vanúzia Nogueira.
Volvido um ano após a adesão a OIC, a capital moçambicana, Maputo, foi palco do primeiro Festival do Café, evento organizado pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADER) em parceria com a Organização Internacional do Café, Organizações das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, Associação Moçambicana de Cafeicultores e Agência Italiana para o Desenvolvimento (AISC).
Na abertura do evento, o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, lembrou que Governo tem vindo a dinamizar a produção, através do aumento das áreas de produção e envolvendo os pequenos agricultores que praticam a cafeicultura, em regime de consorciação com outras culturas, tendo referido que o país tem capacidade para produzir 29 toneladas de café em grão.
“Com o potencial de produção de café nas províncias de Maputo, Sofala, Manica, Tete, Zambézia, Niassa e Cabo delgado, a produção actual é de 494 sacas de 60 quilos de café, o que corresponde a 29 toneladas de café em grão, em paisagens naturais, áreas de conservação, de produção orgânica, com as variedades Arábica, Robusta e Racemosa (variedade está naturalmente descafeinada). O número de produtores envolvidos na produção do café é de 4000 pequenos produtores em regime de consorciação de culturas, sendo a projecção para 2030 de mais 3000 produtores”, sublinhou.
De acordo com Correia, que revelou que existem actualmente 13 empresas/produtores de café que nos últimos dois anos plantaram mais de milhões de mudas plantadas, o café moçambicano tem qualidade e, por isso, constitui uma oportunidade para o país entrar com player no mercado internacional.
“O café moçambicano é orgânico, respondendo a demanda do mercado internacional, onde o consumidor é cada vez mais interessado por produtos orgânicos, constituindo uma oportunidade para o país entra como um player. Bom posicionamento na classificação internacional, uma vez que, o café de Moçambique está qualificado na classe de cafés especiais, podendo, em função da melhoria da cadeia produtiva, alcançar a classe de cafés raros”, destacou.
Para colocar o país com player no mercado internacional do café, o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural defende que se deve abraçar novas tecnologias e reforçar quadro político para criar um ambiente propício ao florescimento do sector do café, sendo que com estas inovações não pretende apenas “aumento da produção, mas também padrões mais elevados de qualidade e sustentabilidade, assegurando que o café moçambicano se torne sinónimo de excelência, e ver um Moçambique reconhecido e celebrado no mundo do café, pelos sabores únicos e qualidade superior do nosso café”.
“Com a adesão a Organização Internacional do Café, assinado em Junho de 2023 em Londres, está aberta uma oportunidade para atrair investimento e assistência técnica para o desenvolvimento de uma Indústria Nacional do Café, que pretende se posicionar no mercado global de forma competitiva. As alterações climáticas, a volatilidade do mercado, a necessidade de melhorar as infra-estruturas e a formação e investigação são questões que temos de enfrentar”, sublinhou.
Cafeicultores defendem aposta no processamento para baixar preços dos produtos
Por sua vez, a diretora-executiva da OIC, Vanúsia Nogueira reconheceu que Moçambique tem condições para se tornar num grande produtor de café. Para Vanúsia, o primeiro festival de café foi uma montra para os produtores nacionais.
“Há aqui em Moçambique regiões com grande potencial para a produção de café. O Festival do Café é realizado em diversos países produtores do café porque é uma bebida para socializar. Eventos como este trazem actores de todas as cadeias que podem parcerias e entender melhor a forma de produzir e comercializar. Através deste evento Moçambique terá compradores internacionais que virão a busca dos produtos para conhecer os seus cafés”, testemunhou.
Genário Lopes, representante da Matheory Café, reconheceu o potencial de Moçambique na produção de café. Contudo, advertiu que o sector enfrenta muitas dificuldades e defendeu que para além de exportar os produtores devem produzir para abastecer o mercado nacional.
“Temos ainda grandes desafios em Moçambique já que a indústria é nova. Começou há seis anos. Temos agora muitos projectos no país que visam crescer e desenvolver a indústria no global. É uma indústria complicada para se trabalhar de modo sustentável e favorável aos produtos para que tenham bom rendimento e manter o foco da sustentabilidade. Há muita flutuação do preço e com isso o planejamento da cadeia do café em Moçambique é complicado, é aí onde os projectos devem trabalhar para os cafés tenham suas próprias características. Manter o café de Moçambique antes de exportar”, sugeriu
Em representação do Café Niassa, Jan Van Stelten, defendeu que os moçambicanos devem usufruir da qualidade do café produzido a nível nacional, sendo que para isso adverte que o Executivo deve apostar no processamento e embalagem com vista a baixar o preço dos produtos.
“Os preços baixaram muito nos últimos quatro meses. O desafio é a economia estabilizar para que as pessoas tenham poder de compra. Estou em Lichinga e lá é uma novidade para muita gente a produção do café em Moçambique. Eventos como este podem influenciar as pessoas a ter mais vontade de tomar café nacional. Todo mercado é interno, Moçambique deve apostar no processamento e embalagem para que os consumidores consumam produtos nacionais e com isso baixaria o preço porque não haveria necessidade de importar”
Por sua vez, Inês Ribeiro, que falou em nome do Café do Barue, referiu que Moçambique tem potencial para produzir café para abastecer o mercado nacional e internacional. No entanto, defendeu que o empresariado nacional deve apostar no agro-processamento para se dar oportunidade aos moçambicanos de consumir produtos de qualidade que são produzidos intramuros.

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