Felisberto Botão
Já visitei muitos países fora de África, em todos os continentes, América, Austrália, Ásia e Europa. Em todos estes países, em algum momento cruzei com um africano, ou afrodescendente. Somos uma comunidade global grande, com experiências diversificadas.
Há um fenómeno que é quase sempre um denominador comum quando nos cruzamos: uma sensação de mal-estar e embaraço, principalmente quando estamos em público não africano ou afrodescendente. Há uma sensação estranha de desconfiança, e muitas vezes nem se quer nos cumprimentamos, e olhamo-nos de esguelha. É como se cada um estivesse a passar o sinal aos outros, não africanos, que “eu me distancio dele”.
Isso é um sintoma claro que algo não está bem com o africano, que é urgente resolver. E o ponto de partida é a construção de pontes para unir toda a comunidade africana global. Precisamos desconstruir o nosso subconsciente, onde carregamos uma culpa que não é nossa, assumimos um status inferior que não existe, e activámos defesas do nosso semelhante por um perigo que achamos que ele representa.
As mentes brilhantes dos filhos de África devem ser colocadas ao serviço dos jovens de África, para possibilitar que estes tragam as mudanças que África precisa para a sua liberdade total e completa.
Toda sociedade é chamada a contribuir com a sua parte. Uns observam, fazem leitura e geram opiniões ou repúdia, que partilham através do discurso, escrita, música e arte; outros pesquisam, geram dados estatísticos que partilham nas várias bases de dados; outros interpretam dados e estatísticas, geram informação sobre comportamentos e tendências, que partilham em estudos e artigos; outros usam os resultados de estudos sobre comportamentos e tendências, geram ideias e soluções, que partilham em plataformas e academias; outros usam as ideias e soluções, investem nelas, e geram projectos empreendedores de produtos e serviços, que partilham no mercado com os consumidores; outros usam produtos e serviços, geram a “life style” que impulsiona o consumo e influencias todas as outras classes a ajustarem seus processos. …
Há espaço para todos, onde ninguém é superior a ninguém, mas todos se complementam.
Portanto, esta é uma chamada e um desafio para todos os jovens africanos em Moçambique, na África e no Mundo, para que vão lá para as vilas em África e falem com os anciãos e entendam o poder das plantas, a razão do modelo de vida que levam, e sua história; que vão aos mapas geológicos, e busquem técnicas modernas da área, para irem a selva em expedições buscar as riquezas e licenciar as mesmas para sua exploração; que estudem os recursos naturais, e busquem o conhecimento da sua utilidade e da sua cadeia de valores; que se conectem com outros jovens em outros países da África, e troquem experiências de pesquisas em diversas áreas; que os vários “digital influencers” do continente se conectem e assumam o papel de divulgação do conhecimento e da positividade de África.
O jovem africano, ou afrodescendente tem qualidades e capacidades que o mundo não pode continuar a desperdiçar. As políticas e instituições discriminatórias pelo mundo a fora, tem o inibido de contribuir, pior ainda, desenvolvem no jovem a atitude auto-discriminatória, resultado da perpectuação destas políticas e instituições no teatro das nações.
Procuramos promover aqui para si, um movimento e uma plataforma online para a captação do conhecimento em diversas esferas de especialistas a nível global, e agregar em um ponto único, para apoiar a juventude Africana, como o principal grupo alvo, na mudança de mentalidade com relação a sua cidadania, prosperidade, história, cultura e espiritualidade.
O objectivo geral é promover a actividade e o engajamento do Jovem africano, para que através da pesquisa, escrita e leitura, resgate a sua originalidade, e se capacite a participar e contribuir com a sua africanidade, na construção de uma sociedade global melhor para todos, sem exclusão, discriminação ou hierarquias de grupos sociais.
Queremos influenciar mentes, e hoje temos cada vez mais pessoas de todo mundo, de todas as raças e de todas as áreas de conhecimento, que suportam a causa do jovem africano, que pretendemos atrair com esta visão africana mais tradicional e sem censuras, para deia a sua contribuição nesta plataforma, com artigos de opinião ou científicos para engrandecer este movimento.
Nós temos consciência de que o sucesso deste empreendimento africano é contrário aos interesses de algumas nações fortes, portanto não haja a ilusão de uma transição sem dor. Devemos estar preparados, pois há um preço a pagar como filhos de África.
Não haja ilusão para ninguém. Os estados unidos da américa e a europa não vão facilitar esta tarefa, pois o sucesso de África representa um problema muito grande, e uma possibilidade muito forte de acabar a paz social nestes países. Eles vão se infiltrar no nosso meio e tentar corromper, vão tentar manipular com assessorias, vão tentar colocar intrigas entre irmãos, e minar a confiança, vão tentar assassinar os nossos líderes, vão tentar chantagear, enfim, vão tentar tudo ao seu alcance, e haverá dor.
É possível encarar esta realidade de frente? Tem sido adiado desde 1963, pois é ainda notória a mentalidade europeia na maioria dos africanos, resultado deste processo secular. Isso explica por exemplo o facto de alguns dirigentes não se importarem com o seu povo, e roubarem os recursos de seus países e mandarem para Europa. No seu subconsciente, eles estão a mandar para casa, como o europeu fazia. Este é um problema espiritual, que o homem africano não tem como controlar, sem ajuda espiritual adequada.
“Você não pode apertar a mão com o punho cerrado”, famosa citação da Indira Gandhi, antiga primeira ministra indiana, mas hoje o Ibrahim Traoré, presidente de transição do Burkina Faso desde 21 de outubro de 2022, está a mostrar que podemos sim, e depois de tanto nos terem faltado com a palavra, talvez tenhamos que adoptar o “aperto de mão com punho cerrado” como a maneira africana, quando navegamos a geopolítica internacional, e principalmente com o ocidente.
O seu comentário e contribuição serão bem-vindos. Obrigado pelo seu suporte ao movimento SER ESPIRITUAL https://web.facebook.com/serespiritual.mz/

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