“A tarefa de algumas pessoas é convencer aos africanos que (…) seus parentes representam perigo”

DESTAQUE POLÍTICA
  • Alerta Guebuza, à margem do lançamento do livro “Os Tambores Cantam”

O antigo Presidente da República, Armando Guebuza, partilhou, semana passada, momentos raros que lembram os sacrifícios da Luta de Libertação Nacional, período em que escreveu os cerca de 30 poemas que fazem parte da obra “Os Tambores Cantam”, lançada há 18 anos e agora reeditada para uma segunda edição. No evento solene, cujas apresentações feitas, em harmonia com o livro, reafirmam a personalidade africana, ameaçada com as imposições externas, Guebuza criticou as imposições daqueles que chamou de “algumas pessoas”, que colocam a sua cultura e tradições acima dos outros, a fim de dividir. Uma analogia que num olhar à lupa conclui-se que retrata mais do que o passado, mas o presente.

A expressão mais bela/ a mais linda palavra/ é liberdade/ Quanto mais bela e linda soa/ tanto mais sangue se escorre/ tanto mais vida se esgotam/ tanto mais sacrifícios se fazem. É uma estrofe que brota de uma mente jovem que, em pleno calor da guerra, mostra ciência do custo da liberdade. Seu combate não se limita no verbo, mas carrega nos ombros sua espingarda, conjugando as armas do poeta e do guerrilheiro. Mas é passado quatro décadas depois que o homem, agora um político controverso, expõem a sua lírica às novas gerações.

Num contexto novo, onde os desafios são palpáveis, o leitor encontra na obra uma fonte de inspiração. Como o próprio autor afirma, o objectivo da obra é inspirar novas gerações na construção de uma pátria cada vez melhor. O livro tem cerca de 30 poemas, a obra foi lançada há 18 anos, ou seja, em 2006. O primeiro poema foi escrito em 1963.

Segundo o antigo Presidente, à semelhança da poesia de combate, as histórias contadas têm como objectivo inspirar os mais jovens através da partilha do sacrifício que levou à construção da independência do país do jugo colonial.

“Queremos, nesta nova edição, que as novas gerações encarnem o espírito de sacrifício e luta que os seus pais e avós manifestaram para termos esta pátria com as conquistas alcançadas, de que nós devemos todos orgulhar-nos. Pretendemos que continuem a sonhar.”

Guebuza lembrou que a literatura ensina a preservar os valores morais e sociais de uma sociedade e o seu livro transmite tais ensinamentos. “A literatura sempre nos lembra quem nós éramos e a beleza das nossas coisas, da nossa terra e da nossa maneira de viver, e de como estas coisas devem ser valorizadas, preservadas e, se necessário, lutar por elas”, referiu o autor dos Tambores Cantam.

Os recados de Guebuza

Mais fiel à política do que à poesia, Guebuza centrou o seu discurso na reafirmação da personalidade africana, criticando as imposições externas que busca dividir e colocar na mesma comunidade uns contra os outros.

“A tarefa de algumas pessoas é convencer aos africanos que a sua comunidade, a sua família e os seus parentes representam perigo. Então, dizem que a causa da corrupção em África é a ligação que eles têm entre si. As qualidades mais humanas que nós temos viraram corrupção, mas só para eles. Deixemos que eles continuem a pensar que é corrupção, nós acreditamos que é um valor a preservar e continuar a defender”, referiu o antigo governante, refutando as “más línguas” do ocidente.

Nos poemas são notórias as marcas de pan-africanismo e negritude, envolvendo um forte sentimento nacionalista e revolucionário, uma personalidade que o autor mostra manter até nos dias actuais.

“Tanto na luta clandestina como na luta directa, a cultura foi uma das frentes de combate. Difundiam-se os objectivos da nossa luta e mobilizava-se o apoio interno dos moçambicanos e estrangeiros para a libertação de todos e a  erradicação do colonialismo. O acto de ser poeta deixou de estar num grupo pequeno de fazedores de verso para ser uma arte popular”, lembra.

A obra foi dedicada ao também antigo Presidente da República, Joaquim Alberto Chissano, a quem Guebuza considera seu irmão mais velho.

De resto, referir que uma das inovações que a obra traz é a introdução de artigos de análise (ensaios) do académico Nataniel Ngomane e do escritor Marcelo Panguana. A edição de 2006 foi prefaciada pelo saudoso poeta e escritor moçambicano Calane da Silva e nesta reedição foi incorporado, também, um prefácio da escritora moçambicana Paulina Chiziane.

Para Paulina Chiziane, socorrendo ao discurso do autor, Os Tambores que Cantam tem em vista inspirar os jovens a fazerem da arte um instrumento de libertação e usá-la como “repositório de memórias”.

Com uma linguagem simples e directa, Armando Guebuza, no conjunto dos seus poemas, exterioriza as profundas injustiças sócio-políticas, o sofrimento e imposições do jugo colonial português, e acaba por fazer um discurso de cariz lírico-pedagógico, não fugindo, assim, ao mesmo pendor temático-ideológico dos outros poetas guerrilheiros.

Segundo Carlos Pessane, Presidente do Conselho de Administração (PCA) da Fundação Armando Emílio Guebuza, a reedição da obra “Os Tambores Cantam” tem em vista adequá-la ao novo contexto.

“A Fundação decidiu reeditar o livro em homenagem ao antigo Chefe do Estado e patrono da Fundação. Também porque era preciso colocar o livro nas prateleiras com uma nova roupagem e num contexto actual”, referiu Carlos Pessane.

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