- IGEPE e Magala chegam a um acordo
- Nova estrutura de governação corporativa da LAM confere poderes executivos ao CA
- FMA continua a trabalhar com contrato expirado e em standby desde Abril
- Primeiros dias de Américo Muchanga marcados por falta de aviões
- Última vez que a LAM teve uma gestão bicéfala houve troca de acusações de sabotagem
Reunidos na semana passada em sessão da Assembleia Geral Extraordinária, os accionistas das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) deliberaram pela alteração da estrutura de governação corporativa da sociedade, passando a conferir poderes executivos ao Conselho de Administração, presidido por Américo Muchanga, eleito na mesma sessão. As mudanças de estrutura e da gestão ocorrem 15 meses depois da entrada da Fly Modern Ark (FMA), que de consultora, viu seu dono, Theunis Crous, passar a diretor geral interino por aproximadamente três meses, no entanto, nem como consultor e muito menos como director conseguiu estabilizar a empresa que vai conhecendo os seus piores dias, com beneplácito de ministro de Transportes e Comunicações, Mateus Magala, que vai desdramatizando fortes indícios de gestão danosa. No momento, não está claro o destino da FMA, mas Magala não disfarça seus interesses de manter a FMA, no entanto, a última experiência da gestão bicéfala mostrou-se prejudicial à LAM.
Antes da indicação de Muchanga, com passagens pelo Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM) e Aeroportos de Moçambique (AdM), o Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGPE) assumia funções do Presidente de Conselho de Administração não executivo, cabendo esta tarefa a um diretor geral, no caso Theunis Crous, que assumia funções do diretor geral interino, em substituição de João Pó Jorge.
Assim foi durante seis anos, até a última Assembleia Geral, que “deliberou pela alteração da estrutura de governação corporativa da sociedade, tendo na mesma sessão sido eleito o Senhor Américo Muchanga como Presidente do Conselho de Administração, com efeitos a partir do dia 10 de Julho de 2024”, lê-se no comunicado das Linhas Aéreas de Moçambique.
A entrada de novo PCA, não constituiu uma grande novidade, Muchanga já vinha preparado para função, participando, em reuniões onde se inteirava da situação da LAM.
Por quase 15 meses de gestão da FMA, tanto como consultor e depois com a nomeação de Crous a diretor geral interino, o Governo fez vista grossa aos fortes indícios da gestão problemática, desdramatizando até aspectos relacionados com segurança. De oito aviões, a LAM tem actualmente dois. Os atrasos passaram a ser uma tradição, vitimando até figuras altas do governo, como se viu no voo de Lisboa – Maputo, de 19 de Junho, onde a LAM teve de pagar bilhetes à delegação da Presidente da Assembleia da República, Esperança Bias. Um outro episódio que beliscou a reputação da LAM, está relacionado com o atraso, no dia 01 de Julho, em mais de quatros horas de voo que devia levar uma delegação do Presidente da Zâmbia.
Além de atrasos, avarias constantes de aviões por falta de manutenção, até a gestão de Thuenis Crous, a companhia não goza de boa percepção diante dos fornecedores, sofrendo ameaças constantes de cortes de determinados serviços, obrigando, nalguns casos, o Governo a intervir para manter a empresa.
São intervenções, que se viram, por exemplo, quando a Petromoc exigiu pagamento para fornecimento de combustíveis por falta de pagamento. A FMA mentiu publicamente a respeito desse episódio. O governo veio a intervir igualmente quando Zimbabwe inibiu a LAM de usar seu espaço aéreo. A CAAZ (CIvil Aviation Authority of Zimbabwe) só levantou a suspensão depois de intervenção a nível político.
É ainda dentro da gestão da FMA que a LAM viu-se suspensa da IATA (International Air Transport Association), também por falta de pagamento. A suspensão levou um mês, por duas semanas foi gerida em silêncio e já tinham passageiros a ter restrições no exterior, e o problema viria a ser resolvido depois da denúncia do Jornal Evidências.
Em contrapartida, um negócio que triunfa e com pagamentos pontuais, é de aluguer de aviões, num modelo (ACMI) oneroso para LAM, além de pagamentos a fornecedores sul africanos, mesmo sem contrato com a LAM. Algumas dessas denúncias eram feitas ao ministro Magala, que sempre saia em defesa da FMA, chegando ao extremo de especular, nos corredores, que a FMA não fez muito por que era vítima de sabotagem. Aliás, esta era a desculpa da própria empresa. Mas Pó Jorge foi exonerado, junto com os seus diretores, Thuenis Crous tomou posse, e a empresa piorou mais ainda. Por tudo isto, nunca falhou o pagamento à FMA de quase cinco milhões de meticais, pagos a cada mês, embora não estavam previsto no decurso de contratação, afinal, a informação avançado por Magala, que mais tarde viria se mostrar falsa, foi de que haveria partilha de lucros.
Quando a Fly Modern Ark entrou em Abril de 2023, a LAM estava mal e “tecnicamente falida”, mas a nível social era funcional, com voos a operar regularmente, e com funcionários e fornecedores a ser pagos. Seu retrato era público, seus problemas conhecidos e sua integridade na relação com parceiros, estava intacta.
Um ano depois, uma nova configuração retrata a empresa: tem uma integridade beliscada a todos níveis. Há fortes indícios de que os dados de autoavaliação partilhados pela FMA são viciados. Em termos funcionais, a empresa parou no tempo, os serviços de catering foram suspensos, os atrasos são comuns e sem qualquer informação antecipada.
Se os funcionários não recebem salários pontualmente, o caso dos fornecedores é mais aterrador, pois não recebem nada. A FMA não tem plano estratégico e nem orçamento para 2024, o que faz com que tudo seja feito por cima do joelho. É neste contexto que é nomeado Américo Muchanga.
FMA ou LAM: De quem é a honra a ser salva?
Fonte da empresa explicou ao Evidências que não se sabe o que representa o consenso entre IGEPE, na pessoa de Ana Senda, e ministro Magala, visto que há uma aparente unanimidade na mais recente decisão da empresa. No decurso da gestão da FMA, Crous explicava-se ao ministro, embora o accionista maioritário e parte do Conselho Consultivo, o IGEPE, não tinha papel activo e discordava muito das decisões da FMA. É só lembrar que o próprio ministro, no decurso da nomeação de Theunis Crous por um mês, viria a público dizer que a FMA vai renovar o contrato sem ao menos abrir espaço para fazer balanço do desempenho deste “consultor”.
Até ao momento não há nenhum documento conhecido sobre o desempenho da FMA. Com contrato expirado em Abril e sem informações a respeito da continuidade ou não, os receios de que Magala pretende manter a FMA abre espaço para muitas especulações, visto que mesmo quando era consultor, a FMA dependia de outros consultores contratados e pagos pela LAM. Em quase 15 meses, passaram de LAM uma média de seis consultores, além de acessos a facturas de pagamento, o Evidencias teve acesso a alguns contratos, que mostravam claramente que mesmo na qualidade consultor, estes eram pagos pela LAM.
Do resto, notar que quando a LAM era gerida pela FMA e direcção geral nomeada, havia problemas de acusações, partilha de informações sem concertação interna, entre outros problemas que mostram a real faceta da FMA: computador à procura de espaço para ganhar o que for possível.
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