Ibrahim Traoré, Bassirou Faye e a 3ª Revolução Africana _ Parte 10

OPINIÃO

Felisberto Botão

Sumarizando tudo

General “chief of staff” do exército francês, Thierry Burkhard, afirmou recentemente que a europa deve defender seus interesses em África, na sua entrevista em abril último, e que a França definitivamente iria fazer isso, incluindo meios militares. Veja a mentalidade colonial desta gente, o facto do Níger, Mali e Burkina Faso reclamar a autodeterminação e controlo dos seus recursos, para eles é contrário aos interesses franceses, e inaceitável.

A presidente da comissão europeia, Ursula von der Leyen, foi considerada culpada de casos de corrupção, e até criminosa, mas a europa não está a puni-la ou responsabiliza-la legalmente. Vimos a acontecer o mesmo com o presidente americano Joe Biden e sua família. São sinais suficientes que estas não são democracias para seguir, são sistemas criminosos onde os integrantes se protegem uns aos outros, e sorteiam a vez de quem lidera a quadrilha, e chamam isso de eleições “livres, transparentes e justas”, e estão a arrastar as nossas sociedades africanas para o mesmo modelo, que apelidam de democracia.

A democracia anda junto com a economia de mercado, que na verdade não existe. Agora que outras economias estão a apertar o passo, o ocidente já não quer jogar aberto. Vejam o monte de restrições e proteccionismo que os estados unidos e a europa está a impor aos produtos chineses. Quando era para eles entrarem no mercado chinês, inventaram economia de mercado livre, agora que a china cresceu e quer entrar no mercado deles, já esqueceram tudo, a ponto de destruírem a fundação de tudo o que construíram.

O ocidente não sabe coexistir, prefere destruir o planeta, a deixar que todos prosperem, incluindo eles. África não deve deixar-se continuar a arrastar por este sistema parasita e autodestrutivo, a sua auto libertação será a libertação do mundo todo. África é a peça que falta para a restruturação da ordem mundial, de unipolar para multipolar. Apesar de ser o continente que mais sofre os impactos negativos do sistema unipolar ocidental, África é o continente que mais apego tem ao sistema, e se amarra a si mesma na pobreza e subdesenvolvimento.

África é a maior de todas as conquistas dos europeus, na verdade a maior de um povo sobre o outro, a todos os níveis, primeiro por representar uma reserva infinita de recursos, e segundo por representar a conquista de um povo muito superior a si. Quando por força de circunstâncias, você conquista e domina alguém muito superior, isso não lhe deixa tranquilo, por medo da vingança, daí a grande paranoia do branco com relação a necessidade de controlar e monitorar o africano, em todo o mundo.

Como Deepak Chopra diz, “a necessidade de aprovação, a necessidade de controlar as coisas e a necessidade de exercer poder externo sobre os outros, são necessidades baseadas no medo”. Este é o estado permanente da raça branca, e pela forma como conspiram para controlar o mundo, acabam arrastando a todos os outros povos a entrar nessa sua paranoia do medo.

Então, o branco precisa “validar” o tempo todo, que o preto é inferior a si, daí chegarmos a casos de abusos, e quando é na própria terra do preto, a validação e mais convincente. Em Moçambique, isso se espelha um pouco naquilo que vemos no sistema bancário, nas multinacionais portuguesas, e outros sectores …, onde o preto precisa pedir favores para ser enquadrado, e deve “comportar-se adequadamente”.

Portanto, África, é hora de acordar, tudo o que é, ou vem do ocidente, é para o benefício deles, e nunca do benefício comum, e muito menos de africanos. Eles são assim, não sabem viver em comunidade. A França, Inglaterra e Alemanha estão a mãos com problemas orçamentais, e precisam de África, o que coloca o continente mais uma vez em posição de força negocial, mas infelizmente os líderes africanos resistem em fazer a leitura correcta e objectiva da actual geopolítica.

O Tinubo está a tentar derrubar a refinaria do Aliko Dangote, em defesa dos interesses dos carteis da indústria de petróleo do ocidente. Como é possível ter uma indústria estratégica como uma refinaria de petróleo, num investimento de mais de 20 biliões de dólares, que pode tornar o país autónomo, pode ser motivo de questionamento do próprio governo? Não pode haver uma tristeza maior para um povo.

A forma como os líderes africanos roubam do seu povo, mostra o quão desligados estão deste. Olha o Tinubo com o seu sobrinho Wale, a destruírem a refinaria nigeriana do Dangote, para meterem produto refinado fora, e de muito baixa qualidade. Veja a saga dos 2 biliões de dólares em Moçambique, da famosa dívida oculta, nem se quer 2 milhões converteram-se em um activo para o país. Olha o Ramaphosa, um bilionário escravo, que para manter o seu status, vende todo um país, reduzindo a zero o sacrifício de milhares de compatriotas seus que morreram para libertar o país. E como já não tem nada para vender, os brancos vão destrui-lo, pois tornou-se um “preto inútil”. Olha o Ruto, numa posição patética porque o seu mestre percebeu o excesso de zelo, e está a distanciar-se dele. Agora passou a ameaças, e não tarda que vai começar a perseguir e matar seus jovens, em defesa da democracia e a ordem pública.

O nosso líder imita o europeu, mas não repara que este quando rouba de África e manda para a europa, está a mandar para a terra dele. O africano só fixa que “rouba-se de África e manda-se para a europa“, e pronto, faz o mesmo, pois o europeu, intencionalmente não lhe explica porquê se manda para a europa.

Na sua maioria, o povo não está com a actual liderança africana, e se mantém vivo na esperança do aparecimento de um revolucionário, numa perfeita imagem da frase explorada pelo Paulino Intepo, de Cabo Delgado, no seu artigo “sobreviver hoje, para continuar a lutar amanhã”.

O que estamos a viver hoje e consequência da 2ª revolução, onde fomos derrotados por confundirmos o momento, ao herdarmos as instituições do colono, e termos acreditado na coabitação, sem perceber que estávamos a abrir alas para o neocolonialismo. A vitória das independências foi aparente, e hoje está claro para todos africanos que as mesmas não trouxeram a liberdade que o povo esperava, a soberania é uma falácia, e a democracia apenas serve aos europeus, e a condição de vida do povo piorou em relação ao período de gestão directa do europeu, por conta dos maus acordos de independência que os africanos assinaram.

Agora é a vez da 3ª revolução, que consiste na roptura do sistema neocolonial, que como disse o Kwame Nkrumah, “o estado que lhe está sujeito é, em teoria, independente e possui todas as armadilhas externas da soberania internacional. Na realidade, o seu sistema económico e, portanto, o seu sistema político é dirigido de fora”. Esta revolução é a mais difícil, porque parece que tudo está sob o nosso controlo, e o revolucionário parece o rebelde e o terrorista. Para normalizar a situação a nosso favor, devem ser contornadas as instituições e os sistemas vigentes, que na verdade são pertencentes ao colono, e através delas consegue controlar-nos a todos, incluindo a liderança política africana.

Os jovens devem liderar a 3ª revolução africana, e devem ser guiados por pilares sólidos, para evitarmos erros do passado:

Defesa e segurança – África no geral precisa primeiro resolver esta equação de interesse nacional, com apropriação popular, e avançar com exércitos regionais, colaborativos, que actuam através de comandos coordenados, com não menos que 4 países. Precisamos proteger-nos, pois o seu explorador de ontem, nunca será seu amigo e parceiro de hoje. União nacional, regional e continental – união dos povos em África, permitiria a uniformização dos seus sistemas, de justiça, de educação, e outros, e também das suas instituições. Sistemas democráticos e culturais – os termos certos de mandatos governamentais em África, abrem espaço para a corrupção, ditaduras e governos fracos. Não há como tentar correr a máquina colonial, com métodos sociais africanos, não resulta, pois, os sistemas estabelecidos como o financeiro, bancário, democrático, fiscal, comercial, normalização e outros que lhe possam ocorrer, são criações do bloco ocidental, e só eles possuem o PUK, fazendo com que você, volta e meia, tenha que recorrer a eles para o desbloqueio quando enfrenta problemas. Conteúdo local – que ficou definido pelo branco como “dar preferência a fornecedores local “se” o custo, qualidade e pontualidade na entrega de seus bens e/ou serviços forem iguais em qualidade, ao concorrente internacional”. Pronto, o preto copiou a risca, sem perceber que o “concorrente internacional” é inevitavelmente um integrante dos “clusters” do homem branco, que já tem acesso as regras do jogo com antecedência suficiente para se preparar, que aqui na nossa terra ganham o nome de “empresa registada em Moçambique”. Retoma de posse da terra e dos recursos naturais – A terra onde se extrai ouro, carvão, urânio, petróleo, gás, grafiti, rubis e outras riquezas, pertencem ao povo nativo africano. Os recursos que estão a ser extraídos são seus, e por conta disso, eles deverão ser os primeiros beneficiários dos rendimentos gerados por estes recursos. O sistema europeu de estado, foi desenhado para roubar dos povos, ou seja, o estado materializa a legalização de roubo das massas por um grupo de certa elite. Enquanto África continuar a adoptar este modelo, não tem como evitar roubar do seu próprio povo. O estado deve administrar a terra, e não a tomar do povo, pois o povo foi a guerra pela terra. Desenvolvimento de infraestruturas – Todo desenho que o colono fez, desde as fronteiras, as redes viárias, as cidades, foi com o intuito de explorar e exportar matéria prima, e criar turismo exótico para o capitalista da metrópole – europa. Como nós pensamos libertar o nosso povo, e desenvolve-lo, se estamos a seguir a mesma agenda do colono? E a agenda do colono não era desenvolver nosso povo e nossa terra, mas sim o seu povo e sua terra. O desenvolvimento de infraestruturas para a nova rede administrativa, desde banca, vias de comunicação, telecomunicações, etc., será possível com o financiamento vindo do controlo dos nossos recursos, começando por estabelecer indústrias de tudo o que se extrai, e cancelar contratos daqueles que recusarem investir na indústria local, para transformar pelo menos 10% do recurso extraído. Este movimento de infraestruturas vai demandar consumo de nossos próprios recursos, que vai passar esta febre de dependência do ocidente em comprar de nós. O ocidente tem 1/3 da nossa população, portanto, nós precisamos criar capacidade de compra no nosso povo, que será possível pela correcta distribuição de receitas dos recursos pelo nosso povo, e correcta implementação do Conteúdo Local. Controle de tecnologias e sistemas de pagamento – O controle das tecnologias que usamos é fundamental para uma revolução sustentável. Já temos notícias de roubo de dados estratégicos no Burkina Faso e outros países do Sahel, isso porque eles não controlam a infraestrutura de internet e dados onde guardam a sua informação valiosa, entretanto a França e seus parceiros precisam espiar para reverter a revolução, e controlam as plataformas. Não podemos continuar a ter um banco central, que se intitula soberano e no controlo da moeda, mas que não pode e não deve cruzar a linha vermelha do FMI. Isso não é uma questão de normalização, como procuram gentilmente nos convencer, mas é uma questão de controlo, para que as coisas corram como o sistema dominante quer.

Chamei atenção aos jovens revolucionários sobre o risco do gradualismo e da captura das instituições pelo sistema, no modelo “Monróvia”.  Podemos ver isso a materializar-se no Bassirou Faye, do Senegal. Cá em casa, infelizmente o Venâncio Mondlane não vai ser o salvador que se espera, primeiro ele sustenta-se na religião, e segundo, na aliança com o sistema colonial, se considerarmos pela última viagem que fez a europa. Portanto, ele vai construir sobre uma fundação que não é sua, e que não tem nenhum controle sobre a mesma. É para esquecer no contexto da 3ª revolução, mas poderá ser uma alternativa nas actuais condições da democracia ocidental.

África precisa aprender com a história, se não dermos o apoio incondicional ao radical Ibrahim Traoré, que diz abertamente “para ter paz devemos travar a guerra”, vamos precisar de mais 50 anos, no mínimo, para libertar-nos do homem branco, desta vez, na 4ª revolução africana.

Do grande Império do Mali, a terra do Mansa Musa, o rei do ouro e do conhecimento, surge a esperança de África, hoje personificado na pessoa de Assumi Goita, rapidamente coadjuvado pelo Ibrahim Traoré e logo de seguida pelo Tiani. Eles já lançaram a fundação, e já mostraram o caminho que deve ser seguido para a liberdade, restando a África apenas se juntar a eles e copiar os processos, e talvez melhorá-los.

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