Severino Ngoenha desafia candidatos presidenciais a resgatarem Moçambique do “colapso”

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O renomado académico e político moçambicano, Severino Ngoenha, desafiou, semana finda, os candidatos presidenciais a enfrentarem o “colapso” de Moçambique, exigindo respostas concretas para as crises urgentes. Ngoenha, destacou a necessidade de soluções eficazes para problemas críticos, como a educação, saúde, além de abordar a greve dos professores, dos magistrados, que afecta a qualidade dos serviços públicos. Por essa razão, instou aos candidatos a apresentarem planos claros e sustentáveis para resolver estes problemas e combater o terrorismo na Zona norte do país, Cabo Delgado.

 

Elísio Nuvunga

 

A situação de Moçambique é extremamente desafiante. Eu diria preocupante, pois a situação não está boa”. Quem assim o diz é o filósofo Severino Ngoenha, que falava durante uma aula de sapiência.

 

“A situação económica está desastrosa, os níveis de corrupção são altos, a guerra continua em Cabo Delgado, a questão da educação ainda continua extremamente problemática, parece que só agora é que chegaram os livros, os médicos continuam em greve, alguma activa e a outra silenciosa, a questão dos juízes ainda está em cima da mesa, por outro lado há negócios, negociações, negociatas que a gente não entende bem ligados agora ao porto de Nacala. Está tudo incompreensível, está na hora dos políticos, sobretudo os candidatos presidenciais, tomarem medidas com urgência para a história da colonização não se repetir”, disse.

 

Ademais, o filósofo entende que é nestes momentos de campanha eleitoral que os futuros presidentes deviam explicar, demonstrar todas as problemáticas, soluções, realizações que vão a influenciar naquilo que vai ser o nosso viver comum em Moçambique nos próximos anos.  

 

O filósofo não só chamou atenção dos candidatos presidenciais para as eleições de 09 de Outubro, como também destacou a importância do governo moçambicano adoptar medidas proactivas para evitar mais conflitos em Cabo Delgado, uma região rica em recursos minerais que têm atraído interesse de potências internacionais como China, Estados Unidos de América (EUA) e Rússia.

 

“Temos que procurar caminhos de sair dos problemas que impregnam a África, sobretudo do Congo e Ruanda, que acaba nos metendo em situações de difícil solução em termos de posicionamento e evitar a todo custo como na guerra de 16 anos seja terreno de luta e conflito entre os grandes poderes, esses poderes são a Europa, os EUA, Rússia, mas também agora são a China e outras força internacionais que juntam na corrida dos recursos minerais de que África é rica e Moçambique também, o que cria apetite dos grandes grupos internacionais no nosso continente”, refere.

 

Ngoenha alerta que a competição na exploração dos recursos pode intensificar tensões e provocar uma situação de instabilidade se não houver uma gestão eficaz. Por isso, o académico defende que o país precisa de uma base sólida de segurança para garantir o desenvolvimento económico, porque os exploradores pura e simplesmente já demonstraram que estão no país para servir os seus interesses e talvez criar tumultos entre irmãos.

 

“A posição desses grandes grupos está na defesa dos seus interesses, a Total, por exemplo, já nos demonstrou isso, a ExonMobill está a demonstrar isso, o roubo de madeira pelos chineses, dos recursos minerais, não precisamos de grandes demonstrações para perceber isto. Há comando, desmandos e incompreensões porque o nosso país passa até chegar na maior das incógnitas. Agora vimos a ExonMobil, junta-se a Total para criação de mais uma incógnita para o país nos próximos anos. Interessa mais tirar dinheiro e não acertar a nossa economia, e por último lugar essas potências, na posição de Moçambique, não são alheias aos conflitos em curso em Cabo Delgado, que tendem ou podem levar-nos a situação muito grave, como a separação ou a divisão do nosso país”, sublinhou

 

O académico observa que o maior problema de Cabo Delgado é fruto de interesses entre os exploradores internacionais que buscam tomar aquele ponto rico em recursos minerais, por isso alerta para o estado moçambicano tomar medidas fortes, para evitar qualquer hipótese de perder as terras, porque as consequências serão maiores, tendo em conta que o país, historicamente, tem um passado que pode propiciar para o efeito.

 

“Se perdemos o Cabo Delgado, é uma situação muito grave, temos a Swazilândia que nunca se contentou e que pensa que o território deles vai até Namaacha, passou para Boane agora chega até Matola, temos históricos conflitos com Malawi não só no Niassa como em Tete, temos sempre problemas de definição da nossa fronteira, em termos marítimos com a Tanzânia, temos problemas com Zimbabwe, temos a frança que reivindica uma parte do Canal de Moçambique pelas ilhas que anexou em Madagáscar. Temos sempre essa história de Boeres da África do Sul que o território deles iria até Vilanculos, quer dizer que as províncias de Maputo, Gaza, Inhambane, fariam parte deles”, observou o filósofo.

 

Em linhas gerais, na visão de Severino Ngoenha, os candidatos devem ter um pano de fundo nacional, internacional e continental para fazer um “verdadeiro discernimento e com serenidade fazer-se opções claras de que posições que realmente precisa tomar ou seguir nos próximos cinco anos”.

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