Guebuza reaparece com força e acena para uma nova era com Daniel Chapo

OPINIÃO

Arão Valoi

A política moçambicana parece estar a passar por uma fase de reconfiguração bastante interessante. Enquanto decorre a campanha rumo às eleições de 9 de Outubro, nos bastidores, há uma movimentação e reposicionamento das peças estratégicas no xadrez político do País. Sumido do mapa durante a governação de Nyusi, Armando Guebuza, Presidente do País de 2005 a 2015, reaparece com força no endosso ao jovem candidato Daniel Chapo. Aliás, o entusiasmo de Guebuza foi notório no momento das felicitações após a eleição do candidato da Frelimo naquela polémica reunião do Comité Central. E aquele entusiasmo manifestado através de um forte abraço e lábios rasgados não foi ao acaso. Guebuza sabia que a eleição de Daniel Chapo, embora inicialmente não prevista, tinha um significado enorme para as suas aspirações estratégicas e o seu reaparecimento na vida política do País. Foi pelas mãos de Guebuza que Daniel Chapo começou a despontar na arena política.

Chapo foi conservador e notário na Cidade de Nacala-Porto, em 2005, naquilo que marcou o início da sua caminhada e ascensão na sua carreira profissional. Em 2009, o candidato é nomeado Administrador de Nacala-à-Velha, um distrito pacato, mas com enormes potencialidades para o seu desenvolvimento. Chapo lidera com perspicácia a instalação de investimentos de grande envergadura e acompanha toda a dinâmica posterior de desenvolvimento. Além de promover emprego para jovens, conseguiu reestabelecer as relações entre o Governo da Frelimo e as comunidades locais, na altura ferrenhas apoiantes da Renamo. De Nacala, Chapo passou para Palma e depois para Inhambane como Governador da Província. Ou seja, Chapo olha para Guebuza como um pai, a quem deve respeito e admiração. Aliás, dias depois da sua eleição, Chapo fez questão de visitar os dois ex-presidentes, Armando Guebuza e Joaquim Chissano. Ao fazê-lo, Chapo enviou um sinal positivo, não só para dentro do Partido, acostumado a cantar hosanas ao Presidente, mas também para toda a sociedade. Beber da experiência dos mais velhos, é a melhor coisa que se pode fazer e, principalmente, quando não se tem bastante domínio dos assuntos.

Mas se por um lado, a Governação de Nyusi foi marcada por um distanciamento entre ele e o ex-Presidente e toda a sua cúpula, principalmente, pela forma como foi gerido o escândalo das dívidas ocultas, por outro, a eleição de Chapo serve como uma lufada de oxigénio para Armando Guebuza. Ou seja, ele reaparece com alguma oportunidade e capacidade de influenciar a agenda política do País, aconselhando ao jovem candidato sobre como navegar em águas agressivas. As últimas aparições públicas de Guebuza transmitem uma grande confiança ao candidato. Guebuza está ciente que, apesar das dificuldades e de todo um contexto desafiante em que o País se encontra, Daniel Chapo está em condições de navegar no que ele chamou de “águas agressivas”. Em outras palavras, Guebuza deixa transparecer que ele está à disposição para ajudar Chapo a dar os seus primeiros passos como Presidente.

Um facto notório que reflecte a influência de Guebuza no pensamento político de Daniel Chapo é o retorno do discurso sobre o Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD), os famosos sete milhões de Meticais, que foram determinantes para a criação de oportunidades de crescimento através da geração de emprego e renda. Nos seus discursos políticos Chapo resgata esta ideia e várias vezes repete a ideia de patriotismo e soberania, altamente presentes no pensamento político do Presidente Guebuza. Apesar dessas nuances que mostram esta tendência de aliança, Chapo vai, neste momento, agindo como mandam as regras – sem necessariamente ter que revelar ou mostrar, de forma clara, essa aliança. Estrategicamente, não convém que o faça. Aliás, mesmo sabendo que ele precisa de diferenciar o seu discurso do de Nyusi para estabelecer uma identidade própria e evitar ser visto como uma continuação ou uma repetição do estilo e das políticas anteriores, Chapo prefere manter a coerência e respeito por quem ainda governa e cuja influência será ainda sentida, pelo menos, no primeiro mandato de governação. Aliás, este jogo de influências, incluindo a entrada em cena do Presidente Armando Guebuza, fará com que, a curto prazo, haja um período de tensão e disputa, mas também a possibilidade de novas direcções e reformas. A longo prazo, a estabilidade e a eficácia do governo serão moldadas pela forma como esses movimentos se traduzem em acções concretas e na capacidade dos líderes envolvidos de manter a coesão e a governabilidade. Para já, está mais do que claro que Daniel Chapo, conta com um aliado de peso e esse chama-se Armando Guebuza.

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