Edgar Remane: O homem que adiou o casamento para ir aprender a escrever para poder “assinar”

SOCIEDADE
  • Alfabetização de adultos começa a transformar vidas

 

Celebrou-se no passado dia 08 de setembro o Dia Mundial da Alfabetização. Em Moçambique, quase 40% da população moçambicana, dos mais de 31 milhões de habitantes, é analfabeta. Até bem pouco tempo, Edgar Remane, de 45 anos de idade, fazia parte destas estatísticas, mas o desejo de assinar com o próprio punho o livro de registo de matrimónio o fez tomar uma inusitada, mas sábia decisão. Então, com data marcada, decidiu adiar o seu casamento e inscreveu-se no Centro de Alfabetização de Adultos, onde aprendeu a ler e escrever. Como tal, um ano depois voltou ao cartório e com o próprio punho escreveu o seu nome no livro de casamentos.

Frederico Cumba

É caso de autoestima, mas também de superação. Edgar Remane, cidadão moçambicano de 45 anos de idade, residente no bairro Kumbeza na vila Municipal de Marracuene, província de Maputo, preparava-se para casar em 2021, entretanto não sabia ler nem escrever, facto que lhe impossibilitava de poder assinar seu nome do acto de contração de matrimónio.

Incentivado pela sua madrinha de casamento, decidiu adiar a cerimónia e inscrever-se num Centro de Alfabetização e Educação de Adultos. Em menos de um ano, realizou o sonho de subir ao altar com sua amada e com o seu punho “carimbar” o seu novo estado civil.

Este Domingo, na localidade de Matalana, distrito de Marracuene, durante a cerimónia de celebração do dia internacional da alfabetização e educação de jovens e adulto, Remane, que hoje frequenta o segundo ano de escolarização nesta modalidade de ensino, fez o seu testemunho sobre a importância de fazer parte do processo da alfabetização e educação de adultos.

“O que me motivou muito foi quando eu estava na preparação para casar. A minha madrinha comprou um caderno e uma caneta para eu estar a ensaiar o meu nome, porque ela queria que eu assinasse, mas mesmo assim não foi fácil. Então, a partir daí me inscrevi para estudar”, explicou Remane, para depois acrescentar “a outra coisa que me motivou muito, eu outro dia subi uma viatura cujo destino não era o meu porque não li a chapa de inscrição, a partir daí vi que nunca é tarde para estudar”.

O distrito de Marracuene conta com cerca de novecentos alfabetizandos, distribuídos por 23 centros de alfabetização e educação de adultos que operam em todos os postos administrativos distritais.

A demora no pagamento de subsídios aos alfabetizadores e a falta de material didático em formato físico constituem os maiores desafios no processo de alfabetização e educação de adultos no distrito de Marracuene, na província de Maputo.

Refira-se que histórias como a de Remane replicam-se um pouco por todo o país, como resultado do trabalho levado a cabo pelo Movimento de Advocacia, Sensibilização e Mobilização de Recursos para Alfabetização (MASMA), iniciativa liderada ao mais alto nível pela Esposa do Presidente da República, Isaura Nyusi.

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