- O estranho julgamento do Caso João Chamusse
- Réu revelou supostos mandantes e motivações políticas, mas juiz mandou-o passear
Era para se fazer justiça sobre a morte de um dos mais verticais jornalistas do nosso país, João Chamusse. As esperanças de justiça estavam todas elas depositadas nas mãos do juiz. No entanto, na sala de julgamento do Tribunal Judicial da Cidade da Matola, foi quem menos esteve interessado em chegar à verdade sobre a fatídica noite em que se calou a voz de Chamusse, num crime que chocou a sociedade moçambicana e a comunidade internacional. Num julgamento com contornos estranhos e que durou menos de uma hora, o juiz negou que o réu se pronunciasse na língua que ele domina e melhor se expressa e ignorou parte dos depoimentos do réu, que chegou a apontar supostos mandantes que, curiosamente, estavam arrolados como declarantes. Como se tal não bastasse, dispensou todos os 19 declarantes sem ouvir sequer um pio destes, tendo se baseado somente na confissão do réu para dar como produzida a prova sobre o crime.
Elísio Nuvunga
Após dois adiamentos, decorreu, há cerca de uma semana, na cidade da Matola, o julgamento do caso do assassinato do jornalista e comentador João Chamusse, ocorrido em 14 de Dezembro de 2023, na sua Residência, na localidade de Ka-Tembe Nsimi, no distrito de Matutuine.
No banco dos réus estava Elias Ndlate, único arguido do caso, e 19 declarantes convocados pelo tribunal para testemunharem sobre o caso. Vizinho de Chamusse e com dificuldades de se pronunciar em português, o réu solicitou ao tribunal para que pudesse responder em ronga, sua língua materna, para melhor se expressar, no entanto o juiz indeferiu o pedido.
Não só o obrigou a falar em português, mesmo diante das suas dificuldades, como também durante todo o julgamento fez um esforço abismal para que o réu mantivesse sua confissão do crime sem aumentar uma única palavra.
No entanto, apesar das dificuldades de se expressar em português, Elias Ndlate confessou o crime e revelou em primeira mão ter executado o crime a mando da esposa de John Senzo Muthemba, proprietário de um estabelecimento comercial frequentado pelo finado e onde esteve na noite do fatídico crime.
Segundo escreve o semanário Ponto Por Ponto, o réu em momento algum negou a culpa do crime que culminou com o perecimento do jornalista. Aliás, Ndlate disse que a dita esposa do senhor Muthemba mandou-lhe para matar o jornalista e se apoderar do computador e telemóvel do finado, uma vez que o jornalista falava mal do seu partido. Pela execução do crime, o réu receberia uma compensação de aproximadamente 50 mil meticais.
Curiosamente, sobre este aspecto, o juiz pouco quis dar mérito, se limitando ao argumento de que estava perante um autor confesso, pelo que se dispensava tantos outros detalhes sobre o fatídico assassinato de João Chamusse.
Quando terminou a audição do réu, esperava-se que o juiz chamasse os 19 réus para cada um dar a sua versão dos factos. Contudo, sem nenhuma explicação plausível, decidiu prescindir de ouvi-los, apesar de estar entre eles o casal indiciado de ser o mandante. Imediatamente, encerrou o julgamento, convocando todas as partes para a leitura da sentença.
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