- Mais de 21 milhões Rands a uma empresa que prometeu trazer dinheiro
- Contrato da FMA terminou em Maio e houve dois arranjos para permitir pagamentos Setembro
- Empresa sai em silêncio depois de uma entrada pomposa e apadrinhada por Magala
- Depois do fim do contrato, habituado a “gudezas”, Sérgio Matos tentou emitir bilhete e foi recusado
Foi através de uma circular interna, de “três linhas”, que os trabalhadores da LAM ficaram a saber que o “contrato entre as LAM – Linhas Aéreas de Moçambique, S. A. e a FMA- Fly Modern Ark chegou ao seu término”. Primeiramente, o contrato da empresa terminou em Abril passado, depois sofreu duas adendas, uma até 12 de Julho e depois até 12 de Setembro corrente. Ambas adendas foram feitas a posteriori, quando a nova administração se recusou a fazer pagamento mensais de 1 400 000 Rands, quase cinco milhões em meticais, com argumento de não podia proceder com desembolso sem contrato. Neste intervalo não era mais confiado nenhum trabalho à FMA e muito menos tinha Gabinete. Ao todo, sem incluir os meses de Setembro e Agosto, a FMA facturou da LAM mais de 70 milhões de meticais e não há evidências de resultados positivos da intervenção, um contraste com a promessa de injectar dinheiro, trazer aviões à companhia da bandeira e capacitação técnica aos quadros. E dessa gestão ficam os marcos desastrosos: uma companhia sem aviões, a incerteza da problemática operação Maputo – Lisboa, as dívidas acumuladas aos fornecedores, as sucessivas avarias de aviões e o sumiço do ministro Mateus Magala, o “padrinho” que dava garantias de que a FMA iria renovar o contrato por excelente desempenho do controverso Theunis Crous. É o resumo de uma intervenção que deixou fortes indícios de uma gestão fraudulenta.
Nelson Mucandze
A intervenção da FMA na LAM foi anunciada em Abril de 2023. Na mesa, estavam as promessas da entrada de uma FMA séria, com uma experiência no ramo da aviação civil e com robustez financeira e técnica que serviria de tábua de salvação à LAM. A FMA entraria na LAM com aeronaves, financiamento e capacitação técnica de recursos humanos. E a remuneração da FMA nessa parceria seria através da partilha dos resultados no final de cada exercício económico, em função da relação custo/benefício. Foram palavras do ministro de Transporte e Comunicações, Mateus Magala, que chegaram a ser proferidas no Parlamento, depois de ter anunciado a entrada da empresa num evento pomposo, realizado na cidade de Maputo.
De Abril de 2023 a Abril do ano corrente, os resultados da intervenção na LAM mostraram-se desastrosos. Quem vê de longe depara-se com avarias constantes das aeronaves; falta de refeições a bordo; atrasos dos voos; pilotos despreparados; frota diversificada e obsoleta. Mas, quem vê por dentro, retrata uma empresa com dívidas acumuladas, falta de aviões e uma gestão que esteve mais voltada para o lucro do que para salvação da empresa. O papel do ministro, que mentiu sobre a FMA desde o primeiro momento, foi determinante para a permanência da FMA, mesmo sem aparente resultados. Num claro amparo político, mesmo com tudo apontando para degradação técnica e reputacional da LAM, a FMA viu seu contrato estendido, enquanto o ministro dava garantias de que a intervenção continua, num contexto em que os fornecedores ameaçavam e cortavam os serviços por causa das dúvidas, como se viu com Euronet, Petromoc, IATA, entre outros que chegaram a executar a ameaça.
Depois de findo o contrato e nomeado a nova administração liderado por Américo Muchanga, a FMA que integra na sua estrutura Theunis Christian De Klerk Crous, seu representante e dono, Sérgio Matos e o especialista de aviação, Malola, de nacionalidade Malawiana, viu a LAM recusar de pagar suas facturas de quase um milhão e meio de Rands por falta de conforto formal. Foi daí que se renovou o contrato até 12 de Julho e depois até 12 de Setembro, ou seja, mesmo diante de falta de trabalho, num contexto em que a FMA já não tinha nem Gabinete, o negócio não foi beliscado, abriu-se arranjos para garantir honorários à FMA, enquanto são adiados despesas pontuais que são determinante para operação da empresa.
Passados 16 meses, e mais de 70 milhões de meticais pagos, e sem qualquer pompa, no dia 19 passo, o “Conselho de Administração informa a todos os colaboradores que cessam todas as acções todas executivas e administrativas que a FMA exercia na LAM”, le-se no comunicado interno. Sem nenhum relatório que ilustra o nível de desempenho e muito menos, o ministro chegou a confundir-se com o padrinho da FMA.
A ruptura
E é assim que sai a Fly Modern Ark (FMA), uma empresa quase sem funcionários e que partilha escritórios no 2126 do lado oeste do quarto andar de Nelson Mandela Square, em Sandton, e sem nenhum histórico de gestão de uma companhia comercial. A única especialidade dos donos da FMA é a caça de oportunidades, através de penetração no seio dos partidos políticos como ANC e agora, Frelimo. Quanto mais corrupto, maior é a inserção.
Suspeita-se que foi assim que Theunis Crous, através da sua esposa Duduzile Crous, criou empresas como Segers Aero South Africa (2008), Ehang Africa (2013), Segers Aerospace Africa (2015), Segers Corporation as (2017), Phakama Civils and Projects (2018), S A Lasertech (2019). Em Moçambique, a FMA (2016) é anunciada em pompas, apadrinhado pelo ministro Mateus Magala que fez uma descrição enganosa daquela empresa, definindo objetivos da intervenção que não foram alcançados e modelos de compensação que foram de imediato rasgados. O contrato da FMA foi classificado como confidencial e os desmandos tomaram conta da LAM, com o dono da FMA a exibir a musculatura de que está na gestão em nome do ministro.
Desavenças entre Ministério e A IGEPE foram indisfarçáveis, e esta última virou as costas, fazendo vista grossa às necessidades que podia pontualmente atenuar, como pagamentos a IATA, que, pela primeira vez, vieram a falhar e colocaram a LAM fora de rede por um mês. Fazem parte da lista os cortes para fornecimento de combustíveis, que expuseram a falta de integridade da FMA ao mentir publicamente sobre as causas de não fornecimento de inglês.
O caos estava instalado, com despesas a aumentar através de medidas que ilustravam uma tendência suspeita de aposta em aluguer de aviões, a abertura de rotas justificava muito bem a necessidade mais de aviões, sugerindo haver outras motivações estranhas às necessidades da empresa, além de ter sido uma medida que ia contra as promessas da FMA. Foi o próprio ministro que teria dito que a empresa que faria intervenção devia trazer os próprios meios, desde financeiros e materiais.
Na semana passada, a LAM fez circular um comunicado interno, no qual informava os trabalhadores sobre o fim da relação com a FMA. O contrato com a LAM havia terminado antes da indicação de Américo Muchanga, novo presidente do Conselho de Administração, que, diferentemente dos seus antecessores, tem a graça de ter poderes executivos.
No entanto, os gestores da FMA continuavam pelo corredor da empresa, Theunis Crous, Sergio Matos e o competente de Maloal, mas sem gabinete e nem actividades. O isolamento era palpável e as suspeitas de que esta gestão bicéfala seria prejudicial à LAM cresceram, devido à postura competitiva dos gestores da FMA.
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