A sociedade civil, representada pelo Centro de Integridade Publica (CIP), Centro para a Democracia e Direitos Humanos (CDD), Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC), considera que a imensa fraude eleitoral descredibilizou todo o processo eleitoral e não legitima os vencedores anunciados pela Comissão Nacional de Eleições. Para repor a vontade expressa pelo povo através das urnas, a sociedade civil exige a recontagem pública de votos e publicação dos editais originais de todas mesas.
Olhando para o histórico das eleições em Moçambique, o CIP, CDD e CESC não têm dúvidas de que o pleito eleitoral em curso é o mais fraudulento de sempre e apontam o dedo para o partido no poder por assumir o controlo do processo eleitoral.
“Esta eleição foi a mais fraudulenta desde 1999 porque, passo a passo, a Frelimo tem vindo a assumir o controlo de todo o processo eleitoral. Por lei, as comissões eleitorais e o STAE são dominados pela Frelimo por este ser o maior partido no parlamento. E a Frelimo usa esse poder para garantir a sua continuidade. Os partidos da oposição podem nomear pessoas para os STAE e para as comissões eleitorais, mas estas são marginalizadas e não são treinadas para serem os olhos da oposição. O poder sobre os STAEs levou ao recenseamento de um milhão de eleitores fantasmas – mais eleitores registados do que adultos em idade de votar – em vários distritos”, refere a sociedade civil para depois referir que a Frelimo usa os MMVs para manipular os resultados.
“O controlo da Frelimo foi alargado no ano passado e este ano, através do controlo das assembleias de voto. Quatro membros do pessoal das assembleias de voto (MMVs) e os seus formadores deveriam ser seleccionados por concurso público mas, em vez disso, são agora seleccionados pela Frelimo. A maior parte deles são professores das escolas públicas, onde a Frelimo tem um poder particularmente forte. Depois de terem sido formados e selecionados, no fim de semana anterior às eleições receberam formação especial da Frelimo sobre como fazer batota – e fazem-no abertamente. Os observadores viram os chefes das mesas de voto com uma pilha de boletins de voto à sua frente e deram extras a pessoas selecionadas para votarem mais de uma vez”.
De acordo com as três organizações da sociedade civil, nas eleições do ano em curso, a lei foi violada pelos presidentes da mesa de voto que se recusaram a afixar o boletim de resultados, ou que voltaram mais tarde com um novo edital com mais votos para a Frelimo.
“Durante o apuramento, houve várias fraudes. Uma das mais importantes é a de colocar uma marca de tinta extra num boletim de voto da oposição para o tornar inválido – nulo – ou simplesmente colocar um boletim de voto da oposição na pilha de nulos. A lei exige que a CNE verifique todos os boletins de voto inválidos e devolva os votos reais à oposição. Mas este ano a CNE não requalificou, o que é ilegal, os nulos, o que provavelmente custou milhares de votos à oposição. Ao redigir os resultados nas assembleias de voto, os números são trocados – por exemplo, se a Frelimo não está a ganhar, então o número de votos da Frelimo e do Podemos foram simplesmente trocados. Um truque usado nas eleições autárquicas do ano passado e nas gerais deste ano, tem sido o facto de o chefe da mesa de voto só completar a folha de resultados depois da meia-noite, por vezes só ao nascer do sol. Nessa altura, os observadores e os delegados dos partidos já adormeceram, pelo que o presidente da mesa de voto pode escrever um edital totalmente fictício.”
Por considerar que a imensa fraude eleitoral descredibilizou todo o processo eleitoral e não legitima os vencedores anunciados, Centro de Integridade Publica (CIP), Centro para a Democracia e Direitos Humanos (CDD) assim como o Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC) defendem, por um lado, que todo o sistema eleitoral deve ser alterado para se tornar transparente e neutro, e o parlamento recém-eleito não tem legitimidade para o fazer sozinho. Isto exige um papel central da sociedade civil.
Por outro, para não permitir um parlamento em que a Frelimo possa alterar a Constituição a seu bel-prazer, exigem recontagem publica de votos e a publicação dos editais originais de todas mesas.
“Exigimos Uma recontagem dos votos em todas as assembleias de voto do país. A recontagem deve ser feita publicamente, na presença de observadores e dos meios de comunicação social. Exigimos também a publicação dos editais originais de todas as mesas. A lei existente permite que a CNE o ordene agora. Se a CNE recusar, então o CC tem o poder de emitir tal ordem. A nossa exigência não corrigirá todo o enchimento de urnas e outras fraudes mas mostrará a extensão da fraude e reduzirá o poder esmagador do partido no poder. Esta acção pode ser feita pela CNE, se quiser mostrar a transparência do processo. Se a CNE continuar a recusar, o CC pode ordenar essa recontagem”.

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