Questionado, VM7 anuncia seu retorno a Maputo e justifica: “saí para organizar ideias”

DESTAQUE POLÍTICA
  • Este texto contém a resposta do VM7, em exclusivo, sobre a clareza dos passos a seguir

O candidato presidencial Venâncio Mondlane anunciou, na live desta sexta-feira (01), que estará em Maputo, na marcha da próxima quinta-feira, que encerra a terceira fase das manifestações em curso. A decisão de VM7 pode ser em resposta a uma pressão social da massa crítica que defende que ele devia dar peito aos protestos, mas nas duas vezes que liderou presencialmente as marchas expôs a vida ao risco. Sem colocar em causa as razões da sua luta, VM7 se viu questionado sobre o seu objectivo, a clareza dos passos a seguir e a garantia de direitos básicos, como assistência médica, nas manifestações que registam focos de violência e o direito de não participar. VM7 não ficou indiferente, o Jornal Evidências teve em exclusivo a resposta na qual VM7 afirma, sem dar respostas objectivas, que a maior parte dos grandes saltos na história foi crucial o elemento “fortuito” e não o “racionalismo”. Assumindo que seu sucesso é “definido por factores muito para além dos prognósticos”, e guia a sua vida com “essa tese quase dogmática”, escreveu ele.

No seu último comunicado virtual em que falou para mais de 60 mil seguidores em directo no facebook, seu principal veículo de interação com as massas, anunciou o regresso à cidade de Maputo, depois de sair do país quando havia ordens sem rosto para ser impedido. Venâncio Mondlane saiu de Moçambique no dia 24 de Outubro, pela fronteira do Ressano Garcia, onde há relatos de que os funcionários que permitiram à sua saída sofreram sevícias.

“Eu tive que sair para ir organizar as ideias, organizar o plano, comunicar com o povo e agora o plano está em execução”, explicou-se, assegurando que o mesmo terá o ponto alto na quinta-feira. “Eu, Venâncio Mondlane, vou estar no dia sete de Novembro na cidade de Maputo (…) Antes das 8h, já estarei nas ruas da cidade de Maputo com o povo”, disse, advertindo que “se tirarem a minha vida, vocês já sabem o que fazer”.

O itinerário da “marcha triunfal” compreende as avenidas Eduardo Mondlane, 24 de Julho e Julius Nharere. É nestas avenidas onde se localizam os principais poderes, o que suscita o debate sobre a possibilidade de assalto aos principais poderes, principalmente depois de dedicar grande parte da sua live nesta sexta-feira (01) a “dar aulas” sobre o papel das Forças Armadas e das possíveis consequências se impedir o povo de exercer um direito constitucional: O direito a manifestação. “Se o Governo mata as pessoas que estão a se manifestar, está a dizer que não quer cumprir com o mandato que o povo deu”, sentenciou, ilustrando as fragilidades  materiais e imateriais das Forças de Defesa e Segurança.

Esta aposta coloca em causa a sua batalha formal. É que enquanto o país se curva às ordens do Venâncio Mondlane, criando um cenário de um vazio do poder institucional ou insubmissão a este, até dos apelos da PRM e Ministério Público, existe uma batalha legal movida pelo PODEMOS, que representa a extensão da luta das ruas ou da manifestação popular. Mas a batalha legal é preterida, afinal, o VM não mostra fé no Conselho Constitucional para onde foram submetidos os mais de 300 kg em documentos que “atestam” a sua vitória. Provas que não são partilhadas com o público e as exibidas (ver neste link: encurtador.com.br/DtS3K) ilustram que o PODEMOS não teve estrutura para cobrir e reunir provas suficientes da vitória do seu candidato. Esta fragilidade pode justificar o recurso às manifestações, num contexto em que a FRELIMO e o seu governo não têm simpatia das massas, além dos fortes indícios da fraude.

Ainda no comunicado virtual desta sexta-feira, VM7 falou de uma luta que vai além da fraude eleitoral, os problemas estruturais do país e os erros de governação, incluindo os abusos da polícia. É verdade que “esta manifestação tem a ver com resultados mafiosos, resultados eleitorais falsos, mas esta manifestação veio também a levantar uma série de violações de direitos dos moçambicanos”, disse VM7.

“Sacrifícios (…) devem ser organizados, claros e justos”

A ambiguidade das questões reivindicadas, torna urgente a identificação dos objetivos exactos de uma luta cujas causas os moçambicanos se identificam. Pelo menos, é o que demonstra uma carta aberta que o VM elogiou, mas as suas respostas não foram de encontro às questões colocadas. Ao confrontar os dois textos, fica evidente que ele devia ter feito melhor, ter sido mais claro.

“Estamos a enfrentar uma situação delicada, onde episódios de violência por parte da polícia têm transformado protestos pacíficos em verdadeiros banhos de sangue. Testemunhei, como muitos outros, a repressão violenta contra jovens que apenas desejavam exercer o seu direito à manifestação. Estas são acções inaceitáveis, que revelam o desprezo pelas vozes que pedem justiça e dignidade. No entanto, mesmo diante desta adversidade, precisamos ser estratégicos. Uma luta deste porte deve ser organizada com um plano claro e detalhado, algo que, até agora, tem faltado”, descreve e sugere a carta aberta ao VM7, feita há uma semana e respondia pontualmente.

A história mundial ensina que movimentos de resistência bem-sucedidos não se fazem no improviso. Recorre a 1955, para dizer que durante o boicote aos autocarros de Montgomery, nos Estados Unidos, a resistência pacífica liderada por Martin Luther King Jr. foi planificada com etapas claras e precisas. Na África do Sul, o movimento anti-apartheid sob a liderança de Nelson Mandela seguiu uma trajectória estratégica que respeitava os direitos humanos, mesmo nos momentos mais críticos. Em ambos os casos, houve uma comunicação clara sobre os objectivos e métodos a serem empregados. Venâncio, “precisamos do mesmo nível de transparência e clareza”, apela o autor, que pediu anonimato, face ao contexto politico que conclui não ser confortável para assumir determinadas posições por conta da falta de tolerância à diversidade de ideias, tanto na posição, assim como na oposição.

A carta apela a partilha dos objectivos específicos que se pretende alcançar, os prazos estabelecidos e o que será necessário de cada um de “nós para que as metas sejam cumpridas”. Segundo autor, independentemente dos contextos, existem direitos que são inalienáveis. A assistência médica, por exemplo, deve ser uma prioridade. E questiona a falta de “corredores humanitários” que permitam o funcionamento de serviços de saúde, como hospitais e clínicas, sem interrupções. “O direito à vida e à saúde não pode ser um dano colateral numa luta por justiça social”, le-se.

“Além disso, existe a necessidade de proteger os interesses daqueles que confiaram em ti e te elegeram como representante das suas aspirações de mudança. Isso envolve garantir que negócios, propriedades e bens pessoais dos cidadãos não sejam afectados de forma desproporcional durante as manifestações. A tua liderança depende da confiança dos teus apoiadores, e essa confiança só será mantida se houver um compromisso claro de que os seus interesses estarão salvaguardados”, lê-se no documento, que entende que “mudanças exigem sacrifícios, mas precisamos saber até que ponto esses sacrifícios serão necessários e quanto tempo durarão”.

A história ensina que mudanças verdadeiras não acontecem sem sacrifícios, mas também mostra que esses sacrifícios devem ser organizados, claros e justos. “Estamos prontos para lutar ao teu lado, mas pedimos o compromisso de uma liderança responsável e informada. A oportunidade de transformação é real, mas só será possível se caminharmos juntos, de forma organizada e com respeito aos direitos que tanto defendemos”, avança o Jornalista.

Apelando que para além de definir claramente os objectivos que deseja alcançar, precisa explicar o que considera como um possível fracasso nas negociações. Isso envolve traçar limites concretos sobre até onde está disposto a ceder e o que não estaria disposto a trocar sob hipótese alguma. Ter clareza sobre os “não-negociáveis” é fundamental para manter a integridade do movimento e não perder de vista as metas principais.

“Já perdi a jactância do fervor intelectual”, responde VM

A resposta de VM7, feita um dia depois, pretere a racionalidade e mostra-se intuitiva e com traços de maniqueísmo político. Não é novidade, o seu périplo pelo mundo nas vésperas do inicio da campanha eleitoral o aproximou de figuras da extrema direita, como Bolsonaro, o que suscitou debate nas massas criticas.

Na sua resposta, VM7 começa por enaltecer que o texto levanta questões consensuais e legítimas. Adiante, avança que há, contudo, uma linha ténue, quase imperceptível à primeira leitura, em que coloca em simultâneo dois factores inconciliáveis: transparência absoluta vs luta estratégica e táctica.

“Estamos perante uma guerra, mas com uma matiz distinta da guerra clássica de armas, com contornos cromáticos urbanos, essencialmente. Mas deixa-me dizer o que devia dizer no fim: o segredo do sucesso é o segredo”, disse.

Na sua analogia, ilustra que num jogo de futebol, numa competência desportiva, muitas vezes a vitória vem por uma conjugação entre a estratégia e a táctica previamente definida, mas, a sua experiência de vida, a sua convicção como crente, levou a definir a maior tese do seu percurso como ser humano: a maior parte do sucesso humano é definido por factores muito para além dos prognósticos dos seus autores.

“Creia, tenho guiado minha vida de acordo com essa tese quase dogmática”, no texto que o Evidências teve acesso e mostrou-se confortável que fosse publicado. “Veja que a maior parte dos grandes saltos na história das ciências, das artes, da literatura, foi crucial o elemento “fortuito” e não o “racionalismo”.

Adiante, afirma que “já perdi a jactância do fervor intelectual que me levava a pensar que era possível racionalmente ter controlo de factores que são na sua essencial “aversos a lógica racional humana”.

Adiante, afirma que a estratégia, a táctica, o itinerário, são dados a conhecer até ao ponto crítico que não leve a desnudar a noiva antes do matrimónio. “Seria fatal”, sentencia. Se perdia todo encanto e o mistério das coisas, que são a única razão que nos fazem acordar todos dias animados pela crença de que “hoje será diferente”.

“Essa é a razão porque em Auschwitz, o hebreu cativo, sabendo que estava com um quarto do peso normal, acometido por várias enfermidades, com a cisma de que a qualquer momento seria introduzido na câmara de gás capital, continuava crendo que ” o final podia ser diferente” comtinua a acreditar no futuro e tudo fazia para perservar a vida. Uma só palavra para tudo: Life is a Mystery”.

Sobre questões básicas, VM7 não oferece as mínimas garantias. “Em relação a logística para garantir assistência médica, jurídica, abastecimento de água. E outros direitos de forma tão milímetrica como descreve são duma dimensão megalítica. Se eu pudesse ter essas garantias dispensava as manifestações e disponibilizava esses serviços directamente ao povo, é o que escasseia há 50 anos. É a razão da revolta”, disse.

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