- Infecções sexualmente transmissíveis afectam cada vez mais jovens
- Falta de educação sexual adequada, o baixo uso de preservativos e os tabus culturais sobre a sexualidade contribuem para a propagação dessas doenças
O mundo celebrou o Dia Mundial de Luta contra o HIV/SIDA a 01 de Dezembro, data fundamental para a conscientização sobre os impactos devastadores dessa doença. Porém, em Moçambique, a realidade vai além da luta contra o HIV. As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) – como sífilis, gonorreia, clamídia e outras – têm afectado gravemente a saúde dos jovens no país. Na população jovem, os dados do Ministério de Saúde indicam que a taxa de prevalência do HIV é de aproximadamente 6,4%, com a maior incidência entre as mulheres jovens. Por outro, cerca de 13% da população adulta convivem com este vírus. Para os especialistas, estes números reflectem não apenas um sistema de prevenção falho, mas também um panorama de desinformação e estigma que perpetua a disseminação dessas doenças.
Luísa Muhambe
De acordo com o Ministério da Saúde de Moçambique (MISAU), a taxa de prevalência do HIV na população jovem (15 a 24 anos) é de aproximadamente 6,4%, com a maior incidência entre as mulheres jovens. Além disso, o país continua a enfrentar um aumento significativo de outras ISTs, com a gonorreia, a clamídia e a sífilis em ascensão. Estudos indicam que cerca de 13% da população adulta em Moçambique vive com o HIV, e uma grande parte desse número envolve jovens. A falta de educação sexual adequada, o baixo uso de preservativos e os tabus culturais sobre a sexualidade contribuem para a propagação dessas doenças.
Marlene, uma jovem de 19 anos, conta que passou a perceber algo estranho com seu corpo. “No começo, tive um corrimento amarelado e fiquei muito assustada, mas pensei que fosse uma infecção simples”, diz ela, hesitando. A situação piorou quando ela começou a sentir dores fortes ao urinar e uma sensação estranha na bexiga. “A dor foi insuportável, e eu sabia que não era normal”, relata. Depois de falar com uma amiga e tentar entender o que estava acontecendo, ela decidiu ir ao hospital. “Quando fui diagnosticada com clamídia, senti um medo enorme, eu nunca tinha ouvido falar dessa doença e não sabia como lidar com isso. Nunca imaginei que algo assim poderia acontecer comigo”, confessa.
Mesmo com o medo, ela fez o tratamento e, felizmente, se recuperou bem. “Foi uma experiência muito difícil, mas me ensinou a importância de me proteger. Agora, sempre falo sobre isso com minhas amigas para que ninguém passe por isso.”
Clara, de 23 anos, também compartilhou sua história com o intuito de alertar outros jovens. “Eu notei um corrimento amarelado com um cheiro muito forte, o que me deixou extremamente desconfortável”, conta. Depois de um tempo tentando ignorar os sintomas, ela decidiu procurar ajuda. “Fui ao posto de saúde e, para minha surpresa, fui diagnosticada com gonorreia. Foi um choque, não sabia o que pensar nem como contar para o meu namorado”, revela Clara. Ela conta que o tratamento foi iniciado rapidamente, com o apoio de seu parceiro, e ambos se curaram. “Tivemos que passar por um tratamento juntos, e, apesar de difícil, nos aproximou. Aprendi que a prevenção é essencial, e que não vale a pena arriscar. Espero que outras pessoas não precisem passar pelo que passei”, conclui.
Jaime, de 24 anos, optou por falar anonimamente sobre sua experiência. “Eu era aquele tipo de pessoa que não levava a sério o uso do preservativo. Usava de vez em quando, mas nunca de forma constante”, admite. Ele revela que, após algumas relações sexuais desprotegidas, foi diagnosticado com gonorreia. “Eu senti dor ao urinar e sabia que algo estava errado. Quando fui ao médico e recebi o diagnóstico, me senti péssimo. A pior parte foi saber que, por minha irresponsabilidade, poderia ter transmitido a doença”, confessa, com uma expressão de arrependimento. Para Jaime, o diagnóstico foi um momento decisivo em sua vida. “Passei a entender que a saúde não é algo garantido, e que a prevenção deve ser sempre uma prioridade. Agora, depois do tratamento, valorizo muito mais a proteção, e sou muito mais responsável nas minhas relações.” Ele reforça a importância de aprender com os erros: “É uma lição dura, mas que nunca vou esquecer. Para quem está ouvindo, use sempre preservativo. A prevenção é a única forma de garantir a saúde de todos.”
“Se houve uma infecção, significa que não houve protecção”, alerta Faela
Stélio Faela, Oficial da Juventude da AMODEFA, destaca que a falta de prevenção é o principal factor para a disseminação das ISTs. “Se houve uma infecção, significa que não houve protecção. O uso do preservativo é essencial, e devemos assegurar que todos tenham acesso a contraceptivos, especialmente o preservativo, para prevenir tanto doenças quanto gravidezes”, afirma Faela.
Ele também sublinha a importância de tratar as infecções de forma combinada com o parceiro. Além disso, Faela aponta que a falta de diálogo entre pais e filhos sobre questões sexuais é um dos maiores desafios no combate às ISTs. “É fundamental que os pais tomem a iniciativa de conversar com seus filhos sobre sexualidade devido a delicadeza do assunto e as especificidades da própria sexualidade”, disse Faela, defendendo a implementação de programas de educação sexual mais abrangentes.
Apesar das dificuldades, há iniciativas em Moçambique que visam combater o aumento das ISTs, como campanhas de conscientização e programas de prevenção oferecidos tanto pelo governo quanto por organizações da sociedade civil. Contudo, o país ainda enfrenta desafios consideráveis no acesso a cuidados de saúde adequados e na superação dos tabus culturais sobre a sexualidade. Segundo Faela, “a sociedade precisa ser capacitada para lidar com as questões de saúde sexual e reprodutiva, e é crucial que os jovens tenham acesso à educação sexual abrangente, que é fundamental para uma vida saudável.”
Para Faela a falta de educação sexual adequada e o estigma social que envolve as ISTs são questões que precisam ser resolvidas com urgência. Além disso, a implementação de políticas públicas de saúde eficazes, o aumento do uso de preservativos e o acesso a serviços de saúde de qualidade são fundamentais para combater a propagação dessas doenças em Moçambique.
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