- Falhou tentativa da REVIMO retomar cobranças
- Nem a polícia armada até aos dentes conseguiu frear os ânimos dos manifestantes
Cobradores e motoristas de transportes semi-colectivos e camiões de longo curso, apoiados por populares, sobretudo residentes do bairro Guachene, na Ka-Tembe, forçaram a tenebrosa empresa Rede Viária de Moçambique (REVIMO) a recuar da sua impopular decisão de retomar a cobrança das taxas de portagens na praça localizada junto à Ponte Maputo – Katembe. Aquela praça de portagem até esteve, desde as primeiras horas, abarrotada de agentes da UIR armados até aos dentes, que até dispararam, mas não foi suficiente para fazer recuar manifestantes determinados.
Evidências
Os tumultos na portagem de Maputo-Katembe, em protesto contra a retoma das cobranças de portagem, começaram por volta das 09 horas, quando a polícia tentou reprimir a acção de utentes que com as próprias mãos abriam as cancelas para forçar a passagem sem pagamento das portagens.
A partir daí instalou-se o caos. Organizados, os transportadores bloquearam a via nos dois sentidos com semi-colectivos atravessados à rua, desligaram os motores e puseram-se na estrada em pretesto.
Enquanto singulares aflitos para chegarem aos seus destinos tentavam digerir a confusão instalada, mais carros foram se juntando nos dois sentidos e aos “chapeiros” se juntaram os camionistas para os protestos.
Do bairro Guachene, onde se localiza aquela praça de portagem, foram chegando curiosos que se juntaram aos manifestantes nos protestos. Em pouco tempo, o que iniciou como uma acção de um pequeno grupo de transportadores acabou se transformando numa acção de uma multidão.
Com uma postura intimidatória, a polícia mobilizou várias unidades da polícia, incluindo a UIR e agentes à paisana que iam fazendo o mapeamento dos líderes e o devido reconhecimento. A estas alturas, por volta das 10 horas, todas as cancelas já estavam abertas, os automobilistas até conseguiam transpô-las no sentido Katembe – Cidade, mas não era possível seguir marcha.
Como resultado, os carros foram se acumulando e formou-se um longo congestionamento dos dois lados. E porque do lado da concessionária não saía nenhuma iniciativa de negociação com os manifestantes, estes decidiram tomar a iniciativa de aproximarem-se ao bloco administrativo da REVIMO para encontrarem um interlocutor.
Ao se aproximarem do local, a UIR abriu fogo, efectuando diversos disparos para cima com balas reais, antes de lançar gás lacrimogéneo. Bom grado não houve nenhuma vítima mortal, mas há registo de pelo menos dois feridos, para além de uma viatura danificada e que por pouco se incendiava após uma bala de gás lacrimogéneo quebrar o vidro e deflagrar no interior.
Parte da cadeira do veículo, um celular e uma bolsa pegaram fogo. Valeu a intervenção de populares que evitaram que o pior acontecesse.
Dissipado o gás lacrimogéneo, os manifestantes voltaram à carga. Desta vez com mais agressividade a exigirem a libertação de um manifestante detido durante a confusão. A polícia tomou, a partir dali, uma postura mais dialogante, procurando negociar com os manifestantes.
Foram várias as tentativas negociais, mas as primeiras esbarravam numa única exigência. A libertação do detido. A polícia sempre insistia que o jovem já estava em liberdade, mas os manifestantes exigiam prova de vida. Nada estava feito sem verem o seu companheiro. Só depois de cerca de uma hora, depois de chegarem alguns agentes do SERNIC, é que apareceu o jovem, visivelmente embriagado.
Quando tudo parecia resolvido, os manifestantes introduziram duas novas exigências. Queriam garantias de que a PRM e REVIMO iriam se responsabilizar pela reparação dos danos causados à viatura atingida por uma bala de gás lacrimogénio, bem como uma garantia de que as cobranças seriam imediatamente suspensas.
A polícia até tentou simular assunção de responsabilidade só para abrir a via, mas, destemidos, os manifestantes exigiram um compromisso por escrito, ao mesmo tempo que exigiam que a gestora da REVIMO fosse conversar com eles, para lhes dar as garantias.
A polícia, sobretudo um agente regulador de trânsito muito calmo, paciente e conciliador, fez chegar o recado e com ele veio um jovem, que foi rejeitado. A equipa negocial da polícia teve que voltar para mobilizar a gestora de operações, que era com quem os manifestantes queriam falar.
Desta vez, ouviram a garantia de que as cobranças estavam imediatamente suspensas. Mas, os manifestantes não se contentaram e exigiram que fosse deixado claro por quanto tempo vigoraria a suspensão, ao que a gestora disse que tal decisão caberia aos seus superiores. Não ganhou para o susto. Os manifestantes mandaram-na voltar para consultar os superiores, enquanto aguardavam pacientemente sem mover uma agulha sequer.
Quando finalmente a resposta veio positiva. Estes exigiram que fosse feito por escrito. Impaciente, a polícia mobilizou um rebocador pesado no intuito de desobstruir a via à força. Após uma pequena concertação, os automobilistas, um a um, começaram a retirar os carros que tinham bloqueado a via.
Refira-se que a retoma de pagamento de portagens iniciou na semana passada, concretamente na quinta-feira, quando a TRAC voltou a cobrar, sob forte resistência de automobilistas e manifestantes.

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