O nosso País atravessa um momento turbulento e de incertezas em relação à sua estabilidade política e social, e um dos temas centrais desse debate é o crescente número de manifestações no país. Esses protestos, liderados por jovens, adolescentes e adultos sedentos de mudança, incluindo funcionários públicos, sobretudo médicos e professores, são uma expressão legítima de descontentamento com a governação da FRELIMO que conheceu o seu período mais sombrio nos últimos 10 anos e refletem o anseio da população por mais justiça, igualdade e transparência.
Em meio a essa onda de contestação, surge uma questão fundamental: qual é o caminho a seguir para resolver as causas dessas manifestações e, ao mesmo tempo, garantir a paz e a ordem no País?
O que impulsiona essas manifestações, não é exclusivamente o contencioso eleitoral, pois este foi ultrapassado, na minha opinião, por ter transitado em julgado no controverso e contestado acórdão do Conselho Constitucional que é, por demais, irrecorrível. Para mim, o principal combustível destas manifestações é a fome e desemprego da grande maioria dos moçambicanos, induzidos por políticas mal conseguidas nos últimos 50 anos e que teve os seus momentos mais sombrios durante a governação de Filipe Nyusi.
Dados do Inquérito ao Orçamento Familiar de Moçambique, realizado em 2019/20, indicavam que 47% das mulheres e 39% dos homens com idades entre os 20 e os 24 anos não têm emprego, educação ou formação específica. O flagelo do desemprego, para muitos jovens que acabam o ensino secundário, técnico professional ou até mesmo superior, mostra que as políticas públicas não têm sido eficientes em abordar esta questão, no sentido de prover melhores condições para o povo.
Ademais, o surgimento de uma figura proeminente como Venâncio Mondlane trouxe à tona uma nova dinâmica no processo de mobilização popular. VM7, com seu discurso firme contra as injustiças e promotor de causas sociais, conseguiu conquistar um apoio considerável entre as camadas mais afetadas pela pobreza e pela marginalização. Ele conquistou o apoio popular e ensinou o povo a se manifestar, a lutar pelos seus direitos e a questionar as ações do governo.
Nesse contexto, as manifestações passaram a não ser apenas sobre o contencioso eleitoral, mas um meio de protesto contra as decisões do governo que favorecem um minoria. Chegou-se a um estágio em que as pessoas não temem as balas da PRM e preferem dar o peito as balas para enfrentar o status quo.
No entanto, essa nova realidade traz consigo uma série de desafios econômicos, socias e políticos, pois, embora as pessoas gritem “Povo no Poder’’ ou se considerem “No poder’’, bloqueio de estradas, ou vandalizações, num País, com uma economia fraca, sem grande robustez e dependente de apoio externo, isso trará consequências graves a curto, médio e longo prazo.
Em face desse cenário, surge a necessidade de haver um diálogo urgente, inclusivo, que envolva todos os setores da sociedade. O governo, para que possa restaurar a confiança da população, precisa ir além das promessas de campanhas eleitorais e adotar medidas concretas para combater as injustiças e promover a equidade. Ao mesmo tempo, deve ser mais aberto às reivindicações do povo, não tratando as manifestações como mero “vandalismos ou marginalismo’’, mas sim como uma oportunidade para repensar as políticas públicas e as suas falhas.
Portanto, a resposta à pergunta de como acabar com as manifestações não passa necessariamente pela repressão ou pela negação das reivindicações do povo. Pelo contrário, o caminho mais viável e sustentável está no diálogo, na transparência e na promoção de uma verdadeira democracia participativa. É necessário que os moçambicanos, em todos os níveis da sociedade, se unam para construir um país mais justo e próspero, onde as manifestações sejam vistas não como um problema, mas como uma expressão legítima da liberdade de expressão e da busca por um futuro melhor.
Em última análise, Moçambique precisa de uma liderança que seja capaz de ouvir, entender e agir de acordo com as necessidades reais da população. O país não precisa de mais confrontos, mas de soluções colaborativas que possam garantir a paz e o desenvolvimento de todos. Não temos um outro País além deste, organizemos a nossa casa!

Facebook Comments