Um começo, diga-se, turbulento de Daniel Chapo como Presidente da República. A crise pós-eleitoral, as manifestações e a violência policial nas ruas são um teste à capacidade de liderança do jovem Presidente. Estes desafios exigem uma resposta urgente e contundente do recém-empossado Presidente da República e, ao que tudo indica, a única alternativa ou resposta viável para a pacificação da nação é um diálogo aberto, sincero e inclusivo. O novo Governo precisa, urgentemente, de restabelecer a confiança da população e sanar as feridas abertas pela violência, particularmente, nas periferias onde os abusos policiais têm sido cada vez mais flagrantes e brutais. Diante desta crise, o Presidente Daniel Chapo é chamado a demonstrar uma postura de liderança responsável e inclusiva, e isso passa, inevitavelmente, pela necessidade de dialogar com Venâncio Mondlane, a figura central para grande parte da população que não reconhece a legitimidade do actual Governo. Como diz o ditado, é perante crises que sobressaem os bons líderes.
A partir do acto de tomada de posse, Daniel Chapo deixou de pertencer somente ao Partido Frelimo e passou a ser líder de todos os moçambicanos, incluindo do Venâncio Mondlane e todos aqueles que o seguem e protestam nas ruas. Esse entendimento é fundamental para o processo de pacificação. O Presidente Daniel Chapo deve, igualmente, entender que a força do movimento liderado por Venâncio Mondlane reflecte a insatisfação de uma parcela significativa do eleitorado, e ignorá-la pode resultar em uma divisão ainda mais profunda e perigosa para a unidade e coesão nacional. O diálogo com Mondlane não deve ser apenas um gesto simbólico, mas sim um compromisso de uma política de unidade nacional que vise superar as divergências eleitorais a favor da paz e da reconstrução da confiança nas instituições democráticas do País.
É perceptivel que o Presidente esteja a enfrentar alguma resistência interna, sobretudo das alas conservadoras do Partido, habituadas a dirigir Moçambique como se fosse propriedade da Frelimo. Essa guerra, o Presidente vai vencê-la a partir de Fevereiro quando assumir, na totalidade, o controlo do Partido. Isso é um passo extremamente importante para que o Presidente tome decisões sem nenhum receio da primazia partidária na gestão do País e continue com as reformas que ele próprio prometeu na tomada de posse.
O momento sensível em que vivemos exige que o Presidente emita um discurso claro de reconciliação, que vá além de palavras vazias e que inclua a condenação expressa das violações dos direitos humanos pela polícia. O uso da força para silenciar opositores ou civis indefesos não pode ser tolerado sob nenhuma circunstância, e uma postura firme contra esse tipo de prática é essencial para reverter o dano causado à imagem do governo da Frelimo. Esse discurso deve ser acompanhado de acções concretas, como a revisão das práticas policiais, a implementação de mecanismos independentes de monitoria e a promoção de um treinamento adequado para os agentes de segurança, de forma a garantir que a protecção dos cidadãos seja prioridade, e não a repressão aos direitos fundamentais.
Ao exonerar Bernardino Rafael do cargo de Comandante-Geral da Polícia, Chapo emite um sinal claro de que o caminho que pretende seguir não pode estar infestado de permanentes desentendimentos entre ele e o povo por causa da má actuação de elementos das forças policiais. É um sinal inequívoco de que a paz e a reconciliação devem guiar a todos os moçambicanos, independentemente das crenças e da filiação política.
Ora, a ausência de esforços para uma acção de reconciliação e de uma resposta pública eficaz pode levar a uma escalada da violência, enfraquecer ainda mais a credibilidade do Governo e aprofundar a crise política e social. Ou seja, pode levar o País a ingovernabilidade. Como sempre fizemos referência nesta coluna, a estratégia de diabolização de Venâncio Mondlane, levada a cabo pela maioria dos membros do Partido Frelimo, num contexto em que aquele goza de relativa aceitação pelas massas populares, não vai nunca resultar. Pelo contrário, teremos uma situação permanente de instabilidade, em que uns seguem ordens de Venâncio Mondlane e outros, as do Presidente Chapo. O País não pode ter dois centros de poder. Precisamos, rapidamente, de encontrar uma solução sustentável que ajude o País a sair deste marasmo político em que vivemos.
A pacificação do país passa por um compromisso claro de que a violência não será a resposta do Estado às tensões, mas sim o diálogo, o respeito pelos direitos humanos e a construção de um futuro onde a paz seja a base para o progresso. Ignorar essa necessidade de reconciliação, ou tratá-la com superficialidade, pode custar caro, tanto para a estabilidade do governo quanto para a integridade social do País. Este momento exige coragem política, e cabe ao Presidente Daniel Chapo tomar a dianteira nesse processo, em benefício de todos os moçambicanos, sem exceção.
O Presidente Daniel Chapo não pode sentir-se diminuído em ter essa iniciativa, pelo contrário, isso é algo que o vai engradecer perante os olhos de todos os moçambicanos e da comunidade internacional. Daniel Chapo passou por situações desafiadoras no seu percurso político e essa experiência, é importante para ajudar a encarar a actual situação do País.
Lembro-me que, aquando da sua indicação para o cargo de Administrador de Nacala-à-Velha, devia ser por aí 2009, aquele território tinha uma grande influência da Renamo e quase ninguém participava nos seus comícios populares, incluindo alguns líderes tradicionais. Com legitimidade beliscada, Daniel Chapo teve de embarcar numa jornada de busca pela reconciliação através de diálogo permanente com as populações. É verdade que a entrada de grandes investimentos como os da Vale (Projecto Corredor Nacala e Terminal de Carvão) ajudaram bastante a apaziguar esses ânimos, mas valeu também a entrega e a dedicação do jovem administrador. Hoje, Chapo chega ao mais alto cargo do País, num contexto igualmente desafiador. É tempo de mostrar as suas valências e a sua abertura para o diálogo e incorporação de ideias contrárias, desde que estas sejam importantes para o País.
É tempo de fazer as coisas de forma diferente.

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