Novo ano. Novo governo. Novo Presidente da República. Nova Assembleia da República. Novas Assembleias Provinciais. Novos governadores. Tudo está no começo. Talvez esta seja a melhor ocasião para fazermos o restart ou seja reiniciar o país.
Moçambique não é um país, mas projecto de país. Não é um país normal, porque se o fosse, teria dado um grande salto. Somos ricos em recursos naturais, mas constamos na lista dos dez mais pobres do mundo. Temos uma das maiores reservas mundiais de gás natural, ouro, rubis, carvão, grafite, titânico, mas somos pobres e a nossa economia depende de importações.
Temos madeira, mas as crianças estudam sentadas no chão. Não há carteiras nas escolas. As instituições públicas como esquadras, ministérios e outros não têm balcões de atendimento público feitos da nossa madeira. Entretanto, temos acompanhado casos de contrabando deste recurso para a China e outros países.
Temos areias pesadas em Moebase, na Zambézia, Moma, em Nampula, e Chibuto, na província de Gaza, matéria-prima para a produção de baterias para telemóveis e não só, mas não temos uma única fabrica destes acessórios em Moçambique que daria emprego a centenas de moçambicanos.
Do ponto de vista geográfico, temos uma posição estratégia no Oceano Índico. Estamos conectados aos mercados asiáticos, europeus e africanos. Não se compreende porque é que um país como este, com todo este potencial económico, se debate com problemas básicos.
Moçambique possui 36 milhões de hectares aráveis, água, mão de obra barata, mas as populações morrem a fome. Alguma coisa não está bem. O que se produz não satisfaz as necessidades de consumo dos 30 milhões de moçambicanos.
Segundo estudos, Dubai, no deserto, precisou de apenas 30 anos para ser o que é hoje. Um país desenvolvido. A Coreia do Sul, com poucos recursos naturais, investiu na educação, tecnologias e indústrias e em 40 anos tornou-se numa potência mundial.
Singapura precisou de 30 a 40 anos para tornar-se desenvolvimento. O outro exemplo é de Israel que ficou líder em termos de desenvolvimento tecnológico, em 50 anos. O Japão reergueu-se em 20 a 30 anos como potência, após ter ficado destruído devido à II Guerra Mundial.
Para chegarem onde chegaram, trabalharam e muito. Investiram seriamente na educação, no capital humano, na inovação e tecnologia, em políticas económicas e estratégicas, no desenvolvimento de infra-estruturas e diversificação económica.
Cá entre nós o nosso sistema de educação é pobre. A qualidade de ensino deixa muito a desejar. Os nossos dirigentes ainda não entenderam que este sector é estratégico para o desenvolvimento do pais. Brincamos de fazer coisas sérias.
O pelouro da educação não consegue sequer garantir que o livro escolar de distribuição gratuita chegue a tempo e horas nas escolas, para além de que esses materiais estão cheios de erros ortográficos ou de conteúdo. Lamentável.
Escangalhamos quase todas as indústrias que herdamos do colono, ligeiras e pesadas. Não temos estradas. Quase tudo está rebentado, incluindo a EN1 que liga o sul ao norte. Não temos uma rede de transporte bem organizado.
Infelizmente, aos 50 anos da independência, Moçambique regrediu. Debate-se, ainda, com problemas básicos. Moçambicanos há que não sabem o que comer no dia seguinte, mas dormem por cima da riqueza.
O governo de Daniel Chapo tem uma grande oportunidade de fazer história. Virar o rumo das coisas. Isso não se faz com discursos bonitos ou com promessas, mas com trabalho árduo focado para a solução dos problemas do povo.
Não faz sentido que parte significativa da população continue a morrer a fome quando o país tem terras férteis e grandes potencialidades agrícolas. Para isso, o governo tem que conceber estratégias acertadas para o desenvolvimento da agricultura, aliadas à disponibilização de sementes melhoradas e tecnologias acessíveis aos agricultores.
Para Moçambique desenvolver-se, não precisa de inventar a roda. Tem que seguir bons exemplos dos outros países. Investir seriamente na educação ou na pessoa humana, na tecnologia, inovação e em infra-estruturas.
Os moçambicanos estão todos virados para o novo governo e a nova Assembleia da República. Querem mudanças. Melhor qualidade de vida. Que os recursos naturais sejam explorados em benefício do povo moçambicano. Em suma, querem resultados concretos de governação.
Durante este mandato, o nível de exigência das populações em relação ao desempenho do governo será muito alto. Não há espaço para o período de graça. Os ministros têm que arregaçar as mangas e trabalhar. O sucesso desta governação poderá salvar a pele do partido Frelimo que se tornou impopular. O insucesso pode significar uma ruptura definitiva na relação entre a Frelimo e o povo, dai a maior responsabilidade por parte do regime de Daniel Chapo.

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