O assunto do dia continua a ser a crise que se agudiza, em meio a um esforço para humanização da polícia. A cada dia, fica mais certo que o país não será mais o mesmo, uma consciência que parece não ter eco no Governo, cuja resposta mostra-se lenta para dilemas estruturante como economia dilacerada, radicalização do discurso anti-frelimo até a normalização da anarquia. E o governo, apesar do discurso de ruptura, está para acções que sugerem continuidade: mais preocupado em garantir privilégios de camaradas que capturaram o Estado. A lentidão em completar o governo e a inclusão de lobistas na primeira leva de ministro, sugerem isso.
Já estamos a duas semanas do novo governo em Moçambique, se olharmos para os Estados Unidos de América, onde o novo Presidente tomou posse a menos de uma semana, vamos ter uma realidade que nos elucida sobre o nível de preparo e liberdade de cada presidente. No mesmo dia, tomou decisões que quatro dias depois tiveram efeitos até em países como Moçambique. Em paralelo, por aqui, duas semanas depois de tomar posse tudo mantém como efetivamente foi encontrado. Não é sobre a relevância dos países, mas dos sujeitos. Isto mostra o nível de liberdade e preparo.
Ao evoluir para o contexto social, chegaremos a uma interpretação de que as autoridades não têm a real consciência dos efeitos das manifestações, que deixaram de ser localizadas nas províncias de Maputo (cidade e província). Da mesma forma que elas vão elevando a consciência dos cidadãos sobre os seus direitos, estão também a normalizar anarquia precipitada pelo desgaste da confiança nas instituições públicas. Estão a normalizar a desobediência recorrendo a fraude eleitoral que belisca a legitimidade do governo. A forma repetida com que isso vai ocorrendo, normaliza a violência e o torna no único meio de dizer não nas acções. A outra consequência disso, é que já não é Maputo que tem na manifestação violenta a sua forma exclusiva de se fazer ouvir. Agora temos os protestos de Nampula, Inhambane, que se manifestam nos mesmos moldes. O decreto do VM está a ter um cunho formal no meio das massas.
É claro que, a par de motivações inocentes, há aproveitamento politico. Este aproveitamento busca esgotar a Frelimo, inviabilizando o seu governo e deixar cada vez mais isolada e falida, na perspectiva de associação. Mesmo que isso custe o país – que morra a Frelimo e seu país. Sem dinheiro não há salário na função pública, não há saúde não há educação… e com economia instável, não há investimento e nem confiança para empréstimos. E agora essa de Trump.
E Chapo deve separar os interesses da Frelimo, que impôs das do Estado, que precisa ser liberto de grupos em nome de construção de um ideal colectivo. É aqui onde reside a preocupação. Até a resposta, tem sugerido governo que parece-nos mais voltada a assegurar a hegemonia da Frelimo que em salvar o país, num contexto em que não há qualquer chance de salvar os dois – país e a Frelimo. É preciso sacrificar a última… um sacrifício temporário que passa pela implementação plena do discurso de rutura, proferido no acto de investidura. A ausência do governo completo até hoje, confirma a inexperiência do Chapo (outros vão sugerir que quer arrastar o processo até CC), mas também a falta de alinhamento com o partido que já anda aos murmúrios pelo facto de ter sido surpreendido com um discurso que ignora o seu Plano Quinquenal, reduz cargos de gratificação no governo. E a sua falta de humildade em falar com o VM, ilustra também a visão do partido que para além de negociar com os seus opositores, os alcunha de terroristas. Ilustra um PR em conflito, metido em continuas reuniões a porta fechada enquanto o país mantem-se em chamas do lado de fora.

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