Edmilson Mate
Na tomada de posse de Daniel Chapo, assim como nos discursos dos seus antecessores, observou-se uma retórica repleta de promessas e palavras de esperança. O antigo presidente Filipe Nyusi, no início do seu primeiro mandato, proferiu a célebre frase “o povo é o meu patrão”, mas, uma década depois, os resultados dessa promessa são negáveis e alarmantes. O que vemos agora é um país ainda mais empobrecido e marcado por uma crescente desigualdade social.
Segundo a Estratégia Nacional de Desenvolvimento (ENDE) 2025-2044, a pobreza em Moçambique aumentou 87% durante o período de Nyusi, atingindo cerca de 65% da população em 2022. Um aumento tão dramático de pessoas vivendo em condições de pobreza extrema não é apenas um reflexo de políticas mal implementadas, mas também um claro sinal de que as promessas feitas durante a tomada de posse não foram cumpridas. Como o país chegou a este ponto, sendo que as promessas de desenvolvimento e prosperidade estavam no centro de todas as campanhas políticas anteriores? Como um país tão rico em recursos naturais pôde ver a sua população empobrecida, em vez de se beneficiar dessa riqueza?
Agora, Daniel Chapo assume a presidência com a promessa de romper com o legado de Filipe Nyusi e corrigir as falhas do passado. Ele declarou, com ênfase, que “o País não pode continuar refém da corrupção, nepotismo e incompetência”, sugerindo uma nova direção para o país. Mas será que estamos realmente a assistir a uma mudança genuína, ou estamos apenas a ver uma réplica das mesmas falácias e promessas não cumpridas de Nyusi?
Até agora, algumas acções têm sido implementadas, como a redução do número de ministérios e a extinção da figura de vice-ministro, que são, sem dúvida, passos positivos. A simplificação do governo pode ser uma tentativa de reduzir a burocracia e, em teoria, melhorar a eficiência administrativa. No entanto, será que essas mudanças são suficientes para causar uma verdadeira transformação no país? Ou estamos apenas a ver um rearranjo cosmético do poder, sem enfrentar as questões estruturais que perpetuam a corrupção, o nepotismo e a falta de competência?
É importante frisar que uma verdadeira mudança na governação vai muito além da simples redução do número de cargos ou ministérios. A verdadeira transformação exige que se mexa nas estruturas de poder e que os moçambicanos vejam um governo realmente comprometido com a melhoria de suas condições de vida. No entanto, o que vemos é um governo que, apesar de seu discurso, ainda parece refém de práticas antigas. A verdadeira inclusão de que o país precisa não deve ser apenas a representação política de diferentes grupos ou regiões, mas a inclusão de pessoas competentes, com espírito público, que possam realmente contribuir para o progresso da nação.
O conceito de “governo inclusivo”, muitas vezes mencionado nas campanhas eleitorais, precisa de ser mais do que uma expressão de efeito. A inclusão, no meu entender, deve ser compreendida como a prática de escolher pessoas para cargos públicos com base na sua capacidade, honestidade e comprometimento com o bem comum, e não na sua filiação política ou em relações de poder. É preciso reflectir: até quando vamos continuar a priorizar a lealdade partidária em detrimento do mérito e da capacidade de gestão? Não é hora de construir uma administração pública baseada no interesse colectivo e não em favores políticos?
Ao longo dos últimos anos, o país tem testemunhado o impacto devastador da corrupção e do nepotismo no seu desenvolvimento. E se a mudança prometida por Chapo for apenas uma ilusão, como podemos garantir que Moçambique, finalmente, dê um passo firme em direcção a um futuro mais próspero e justo? Será que as novas lideranças entenderão que os problemas do país não podem ser resolvidos com mais promessas vazias, mas com acções concretas que transformem a vida do povo?
Estamos, de facto, à beira de uma nova era na política moçambicana ou o ciclo de promessas quebradas vai continuar? Se o novo presidente e o seu governo não tomarem medidas drásticas para combater a corrupção, a ineficiência e o clientelismo, qual será o futuro de Moçambique? Do que mais precisamos para realmente acreditar que a mudança é possível?
Essas são questões cruciais para todos nós, cidadãos de Moçambique, reflectirmos. A governação não deve ser apenas sobre palavras bonitas e discursos vazios. Ela deve ser sobre resultados reais, visíveis e mensuráveis, que tragam melhorias concretas para o povo. A verdadeira mudança exige que as práticas do passado sejam finalmente superadas, e que se construa uma administração pública justa, transparente e eficaz.
O que podemos esperar, então? A promessa de mudança é apenas um reflexo do que já ouvimos em governos passados, ou haverá, de facto, uma transformação real? A mudança será construída apenas no discurso, ou reflectir-se-á nas ações que impactam positivamente a vida dos cidadãos? O povo de Moçambique, que tanto sofre com a pobreza, está preparado para cobrar essas respostas, e os governantes terão coragem para cumprir o que prometeram? Só o tempo dirá, mas uma coisa é certa: é hora de exigir mais do que apenas palavras.

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