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Após a realização das eleições gerais de 09 de Outubro, Moçambique enfrentou um período marcado por manifestações violentas em contestação aos resultados eleitorais, o que resultou na destruição de bens públicos e privados, com consequências negativas em diversos sectores do país. Em resposta à crise, o governo firmou vários acordos com os líderes dos partidos políticos com o objectivo de restaurar a ordem e pôr fim aos tumultos. No entanto, apesar desses esforços, persistem desigualdades sociais, perseguições políticas e até tentativas de assassinato, factores que, segundo analistas, evidenciam uma fracasso na consolidação da unidade nacional.
Elisio Nuvunga
Recentemente, o governo e os principais partidos políticos com assento na Assembleia da República, províncias e municipais assinaram um acordo político para diálogo nacional e inclusivo com vista a colocar fim as manifestações violentas. Além deste acto, decorre deste 07 do mês corrente em acto simbólico a chama ou tocha da Unidade Nacional na esperança de reacender o sentimento de coesão entre os moçambicanos.
Entretanto, num país ainda marcado por sequelas de manifestações, altos índices de desemprego, falhas no sistema de ensino e saúde, insegurança crescente e casos de raptos, os analistas político Alexandre Chiúre e Samuel Simango afirmam que a chama, embora bem‑vinda, chega num momento inoportuno para promover a verdadeira união nacional, destacando assim a redefinição das propriedades para aquilo que são as aflições do povo para consequentemente alcançar este desiderato.
Para o jornalista e analista político, Alexandre Chiúre o não alcance deste objectivo deve-se a vários factores que vão desde a separação das classes e a defesa de interesses pessoais ou partidárias em detrimento do bem colectivo, ou seja, há grupos mais privilegiados aqueles que os chamou de “moçambicanos de primeira” e os excluídos tratando os de “moçambicanos da segunda”.
“Há muita coisa que está a falhar. Não nos olhamos como moçambicanos. Há uns que são da FRELIMO e por via disso são aqueles que têm benefícios, tem melhores oportunidades, são aqueles que ganham os concursos públicos, tem melhores oportunidades de negócios e empregos e podem ser nomeados. Esses, são moçambicanos de primeira. Temos também de segunda – aqueles que são dos partidos com menos oportunidades, não são promovidos ou nomeados porque são da oposição, porque são da RENAMO etc”
Para solidificar seu argumento, Chiúre recorreu a alguns exemplos: “António Muchanga caso ele concorra num concurso público não pode ganhar porque é da RENAMO. O Venâncio Mondlane, por exemplo, se concorrer para algum concurso não vai ganhar porque é da oposição”.
Para o jornalista, enquanto existir níveis de tratamento segundo posicionamentos partidários, políticos, sociais, os moçambicanos nunca serão unidos. Aliás, há que respeitar as diferenças e os moçambicanos devem abraçar as causas comuns, nomeadamente, “qualidade de vida, educação de qualidade, saúde de qualidade, habitação condigna”.
A chama da unidade aparece num momento em o governo tem legitimidade enfraquecida
Enquanto isso, o professor e analista político, Samuel Simango, observa que “o estado que nós temos já não é o estado persegue as igualdades entre os cidadãos ao estilo do socialismo” por isso destaca a necessidade da redefinição só conceito da unidade nacional e o mesmo “ deve abarcar a nova realidade que o país tem ou enfrenta”.
Em relação a chama da unidade, o académico diz a tocha encerra um simbolismo, uma recriação que aconteceu nos anos de 1975, com o objectivo de mostrar aos moçambicanos que no passado, Moçambique já viveu momentos de união para além de partilhar e lutar pelos objectivos comuns.
Por outro lado, Simango enfatiza que “esta chama da unidade ela aparece num momento em que o governo tem uma legitimidade enfraquecida e que esta chama tem um dos grandes objectivos tentar legitimar o governo que saiu das eleições de 2024,e portanto, criar uma ideia de que afinal de contas alguma coisa nos pode unir, nos aproximar”.
No entanto, por outro lado, o academico de uma coisa tem a certeza: “definivamente a tocha ou a chama da unidade não vai unir nenhum moçambicano e, provavelmente poderá dividir mais porque neste momento nós temos ideias de alguns a favores e os outros que não estão a favor”.
Ademais, o professor universitário afirma ainda que “temos um grupo que valoriza mais o dinheiro que vai ser gasto com aquela tocha do que no simbolismo que ela representa. Aquela chama não vai trazer mudanças significativas na situação política que nós vivemos hoje. Não vai nem mesmo a legitimação o governo vai aparecer por causa dessa chama da unidade nacional”.
Alexandre Chiúre em parte converge com o posicionamento do Samuel Simango sustentando que a chama não vai criar coesão entre os moçambicanos mas destaca a relevância simbólica.
“A chama da unidade já foi lançada por quase todos os presidentes neste país e, se fosse para unir os moçambicanos já estaríamos todos unidos. Para mim a chama da unidade só vale pelo simbolismo e em termos concretos não vai unir os moçambicanos e vamos a ter mesmos problemas que temos hoje. Só vamos gastar dinheiro em algo que só vale em simbolismo e não vai nos valer em resultados concretos que é termos os moçambicanos unidos”.
“precisamos de redefinir o que nós queremos como unidade nacional”
Aliás, para este, a chama não constitui prioridade neste exacto momento e o mais prioritário é resolver os problemas da fome, o custo de vida que está a apoquentar os moçambicanos, a questão da segurança, raptos, terrorismo e tantos outros problemas que temos aqui no país o que não resolução desse problemas significa que “temos problemas muito sérios na definição das prioridades”.
E para a resolução deste problemas e consequentemente alcançar a unidade nacional, Samuel Simango, destaca necessidade da redefinição das prioridades do país alinhadas com a realidade moçambicana, para não sustentar uma unidade utopias.
“Primeiro, precisamos de redefinir o que nós queremos como unidade nacional. Este é o primeiro passo. Será que a unidade nacional vai significar todos nós concordarmos com o governo do dia? Será que a vai significar que todos nós concordamos com a oposição? E, essa redefinição deve ter em conta o aquilo que em o realismo de Moçambique. Não vale apena agente pensar numa unidade nacional utópica, uma unidade nacional irrealizável, uma unidade nacional lunática.
A unidade nacional, em princípio, segundo o académico, deve aglutinar todas diferenças e defender um bem comum: “para mim, a unidade nacional significa que dentro das nossas diferenças possamos reconhecer que temos uma bandeira comum, temos um território comum e a que as riquezas do país devem beneficiar a todos nós nem que não fosse de forma igualitária mas que as diferenças sociais sejam melhoradas”.
Quer dizer para Samuel Simango, a unidade nacional não pode significar que todos nós concordemos com a ideia do governo ou da ideia da FRELIMO: “me parece que ao nível do partido FRELIMO, a unidade significa que todos nós temos que estar de acordo com a política nacional da FRELIMO”, rematou.



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