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O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento económico de 2,5 por conta da dívida pública alta, para além da crise pós-eleitoral e calamidades naturais. Face a esta situação, a instituição da Bretton Woods exorta as autoridades moçambicanas a pautarem-se pela redução da massa salarial e transparência fiscal nos projectos de Gás Natural Liquefeito (GNL), no Norte do País, concretamente na província de Cabo Delgado. O facto foi avançado pelo representante do Fundo Monetário Internacional em Moçambique, Olamide Harrison, durante um Economic Briefing realizado, recentemente, em Maputo, pela Confederação das Associações Económicas (CTA), que visava discutir e apresentar “dinâmicas económicas de négocios no primeiro trimestre de 2025 e perspectivas económicas”.
Elisio Nuvunga
As tensões comerciais e grande incerteza política pressionam o comércio internacional e, no caso de Moçambique, factores como a instabilidade política, calamidades naturais e dívida pública têm estado a influenciar negativamente o crescimento económico.
Por conta desses factores, Harrison apontou que Moçambique deverá registar um “crescimento económico de apenas 2,5% em 2025”, muito abaixo das necessidades de investimento social e infra-estrutura, alertando igualmente para a dívida pública de quase 100%.
“A dívida pública continua alta. Após ter caído para 91% do PIB em 2023, está agora se aproximando de 100% do PIB. Além disso, a composição da dívida doméstica apresenta riscos significativos de rolagem e de taxa de juros. As agências de classificação de crédito baixaram a classificação da dívida pública doméstica do Moçambique para ´default selectivo´ em Março de 2025 e o Eurobond de Moçambique recentemente viu o ´spread´ se alagar acima de 1.300 pontos de base”, explicou Harrison.
Para fazer face a este cenário, de acordo com Olamide Harrison, Moçambique deve adoptar medidas enérgicas para recuperação e estabilidade económica. No entender do representante do FMI, para dinamizar a economia nacional e garantir estabilidade, há uma necessidade urgente de redução de massa salarial e isenções fiscais.
“Moçambique precisará de tomar medidas corajosas e antecipadas para aumentar a sua resiliência. Reduzir a massa salarial, cortar isenções fiscais e modernizar a administração secretária são medidas essenciais para restaurar a sustentabilidade fiscal. Ao mesmo tempo, os gastos domésticos pró-corpo devem ser aumentados, especialmente dado às cotas nas licenças oficiais ao desenvolvimento. Melhorar a capacidade de gestão da dívida é essencial. O fundo está pronto para fornecer suporte técnico neste sentido”, exortou Harrison.
O FMI manifestou, igualmente, a sua pré-disposição para impactar positivamente para resultados que possam melhorar o sector económico, bem como combater a corrupção e, consequentemente, atrair maiores investidores.
“O fundo está pronto para fornecer suporte técnico, esforços sustentados para fortalecer as instituições, aumentar a transparência e melhorar a governação também para além de reduzir a vulnerabilidade, a corrupção e atrair investimentos privados e na criação de empregos para tirar a população da pobreza. Importa destacar também que o FMI recebeu das autoridades moçambicanas um pedido formal para um novo programa e, neste sentido, iremos trabalhar com as autoridades daqui para a frente”, e adicionalmente ajudar a combater as vulnerabilidades climáticas.
Entre incertezas e desafios há luz verde para o sector privado
O presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA), Agostinho Vuma, reconheceu que “o ambiente macroeconómico nacional, o ambiente de negócio e o ambiente político que caracteriza o início de um novo ciclo governativo traz consigo diversas incertezas influenciando directamente no desempenho empresarial”.
Apesar dos desafios supracitados, o presidente da agremiação empresarial destacou pontos positivos alcançados recentemente, sobretudo no ambiente macroeconómico e estabilidade inflacional, bem como a actuação estratégica do Banco de Moçambique.
“Do ponto de vista macroeconómico, destacamos uma ligeira aceleração da actividade económica durante o primeiro trimestre, com o índice do ambiente macroeconómico subindo de 50% no trimestre de 2004 para 51% no presente trimestre. A inflação manteve-se estável em torno de 3,34% e o metical mostrou alguma resiliência. Contudo, os riscos inflacionários persistem devido ao enriquecimento das importações e os impactos de calamidades naturais no sector agrícola. O Banco de Moçambique manteve uma política monetária especialista, reduzindo a taxa mimo para 11,75%, visando estimular a nossa actividade económica”, sublinhou.
De acordo com o presidente da CTA, contribuíram para esses resultados a restauração da estabilidade sociopolítica; fluxo de transporte à medida que os bloqueios das vias foram sendo reduzidos; redução de custos comerciais em uma média de quase 2,7%.
Negativamente, a federação empresarial constatou o “aumento dos custos de insumos no sector agrícola e o aumento de custos com a logística e manutenção do sector de transporte, principalmente devido aos impactos das mudanças climáticas e constrangimentos na aquisição de insumos decorrentes do défice de divisas do mercado.
Apesar de todos factores arrolados pela agremiação, Vuma é categórico ao afirmar que o “primeiro trimestre de 2025 apresentou sinais de recuperação empresarial num contexto ainda muito frágil”. Na mesma radiografia, Vuma destacou que o índice de tendência de emprego mostra uma ligeira melhoria, de 99,74% para 103,67%.
Medidas e decisões de Trump sufocam o sector privado
Recentemente, o presidente norte-americano, Donaldo Trump, anunciou medidas extremas para a economia global no que respeita às taxas comerciais com tarifas de até 145% para as importações.
Por via disso, o presidente da CTA observa que esta e outras medidas poderão contribuir significativamente para a desaceleração económica do país e, consequentemente, influenciar nos preços de aquisição das matérias-primas e dos combustíveis.
“Por conseguinte, Moçambique, tendo uma economia relativamente pequena, mas com um nível de abertura grande, tanto com proporção de comércio externo sobre o PIB que está acima de 100%, está susceptível a efeitos adversos a tudo o que possa ocorrer no contexto externo. Com efeito, deslumbram-se dois canais pelos quais a economia nacional pode ser afectada, nomeadamente a volatilidade dos preços das matérias-primas, incluindo minerais estratégicos e também os combustíveis”, alertou.
Na mesma senda, Vuma lamentou a suspensão do projecto Millennium Challenge Account por parte da administração do presidente Trump, que previa um pacote de 500 milhões de dólares de investimentos em infra-estruturas e programas agrícolas, sobretudo na província de Zambézia.

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