Não há mocinhos na LAM, há boladeiros vencidos e derrotados

EDITORIAL
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O Presidente da República ecoou o seu lamento sobre a LAM. Deu razão a nós, que sempre denunciámos que o desmantelamento de aviões, em nome de uma suposta “padronização”, escondia um plano assassino e antipatriótico de alimentar a teia corrupta que tem nas comissões de aluguer de aviões a sua principal fonte de sobrevivência. Os baladeiros foram tão ousados a ponto de colocar a venda aviões funcionais e ainda em processo de pagamento, em 2019.

Trata-se de uma teia que só prospera com a cobertura do poder político. A mesma que num passado recente, celebrava triunfos enquanto a FMA escangalhava a LAM. Sem esse apoio, seria praticamente impossível concretizar tais esquemas. Mas não foi precisamente dessa teia que o Presidente da República falou no seu discurso – uma teia que, na sua visão, sabotou a aquisição de pelo menos três aviões nos primeiros 100 dias do seu governo.

Para executar esse plano de sabotagem, criou-se uma Comissão Técnica (apesar de não contar com verdadeiros técnicos) para gerir o processo de compra de aviões. A empresa vencedora foi escolhida a dedo pelo poder político – o mesmo que, curiosamente, propagou a narrativa da sabotagem. Logo no lançamento, criaram-se obstáculos para os outros concorrentes, inclusive no envio da documentação, sem incluir os prazos para submissão de documentos, que já eram apertados (menos de 10 dias).

Aliás, o processo de compra já tinha sido iniciado ainda na gestão de Américo Muchanga. O novo PCA, Marcelino Gildo, apesar de demonstrar rigor administrativo ao cancelar operações insustentáveis, falhou redondamente na parte operacional e, no lugar de alinhar, acabou por forçar um concurso que colocou inexperiente administrador financeiro para estar na linha da frente, só que, a essa altura, o tempo já não era suficiente. Altino Mavile, que veio para a LAM junto com Américo Muchanga, na época em que este era responsável pelos aeroportos.

Para efeitos de avaliação, 12 pessoas foram enviadas a um trabalho que poderia ser realizado por apenas três (técnicos de manutenção e pilotos). Passaram 15 dias na Europa numa missão que, na prática, poderia ter sido resolvida em 4 dias. O mais grave? A delegação incluía membros do júri do concurso, um claro conflito de interesses. São os casos de Lionel Mamusse, Isabel Chissulete e Inita Uqueio, funcionários de gabinetes como Planeamento de Voos e Estudos e Planificação, irrelevantes para a missão e que, não por acaso, respondem diretamente ao PCA.

Era evidente que se tratava de “miúdos” escolhidos a dedo para legitimar expedientes políticos – o que não isenta de responsabilidade a atual Administração, que confiou uma tarefa técnica crucial a pessoas sem qualificação adequada.

Enquanto um grupo queria sabotar a operação para manter o negócio do aluguer de aviões, outro escolheu uma empresa de interesse para lucrar com comissões. E foi este último, ao que tudo indica, que vendeu ao Presidente a narrativa da sabotagem – sem que ele questionasse a falta de transparência no processo.

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