Pais denunciam bullying, extorsão e “pornografia de vingança” na Willow International School

DESTAQUE SOCIEDADE
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  • Alunos chegaram a fazer montagem pornográfica de uma mãe para chantageá-la
  • Um aluno chegou a entrar armado na escola
  • Direcção da escola acusada de conivência, nega todas as denuncias

A Willow International School, um dos mais caros e prestigiados estabelecimentos de ensino do País, está imersa num grave escândalo que abala a sua reputação. Pais e encarregados de educação denunciam uma cultura de “bullying institucionalizado”, esquemas de extorsão entre alunos e produção e divulgação nas redes sociais de conteúdo pornográfico com rostos de colegas e mães com o objectivo de vingança e chantagem. As acusações apontam para uma chocante inércia e conivência por parte da direcção da escola, a qual cobra anuidades que podem chegar aos 500.000 meticais. Apesar de reiteradas denúncias, aquele estabelecimento de ensino prefere fazer ouvidos moucos ou optar por punições meramente paliativas, enquanto as vítimas sofrem no corpo e na alma os traumas de uma violência recorrente, porém negligenciada.

Evidências

Por detrás de uma imagem bonita e relatos de excelência no modelo de ensino internacional no País que projecta para fora, a Willow Internacional School pode estar a esconder uma realidade nua e crua, que tem deixado alunos e pais e encarregados traumatizados.

Os relatos vão desde práticas de extorsão entre colegas, com uns a exigirem que paguem certas taxas para circularem livremente e sem sofrer violência no pátio, a montagens de vídeos pornográficos com o intuito de se vingarem ou chantagear as vítimas.

Os ataques não se limitam aos alunos, os próprios pais tornam-se vítimas directas num ambiente que descrevem como tóxico e perigoso. Apesar das denúncias, a direcção daquela unidade de ensino tem estado a minimizar os casos e dar atenção a casos envolvendo encarregados de raça branca, sobretudo de ascendência turca, ou pessoas politicamente expostas, ou seja, quem tem costas quentes.

O Evidências recebeu diversas denúncias, com destaque a de uma mãe de um aluno de 12 anos, que se viu transformada em alvo após ter sido convidada pela própria escola para proferir palestras aos estudantes. A sua provação começou de forma subtil, com a criação de um “sticker” usando uma foto do seu filho, foto essa partilhada num grupo de WhatsApp para a zombaria dos colegas.

Apesar de ter reportado este incidente à direcção, sentiu que a sua queixa foi minimizada com a justificação de que o grupo não era oficial da escola. Contudo, a situação escalou de forma drástica e criminosa. No dia 03 de Maio, por volta das 23 horas, a mãe recebeu imagens pornográficas chocantes, meticulosamente manipuladas, com o seu rosto montado num corpo de uma mulher completamente nua. Outra montagem colocou o seu rosto no corpo de um homem com os órgãos genitais fora e com dizeres de zombaria.

Trata-se de uma acção levada a cabo por um grupo de cinco crianças com idades entre 12 e 13 anos que a seguiam nas redes sociais e haviam recolhido fotos suas do seu status na rede social WhatsApp e de uma palestra que dera na escola.

O grupo espalhou as imagens manipuladas em grupos de WhatsApp e passaram a fazer bullying com o seu colega, no caso filho da vítima, o que transformou a vida dos dois num autêntico inferno.

Depois de abraçar o silêncio, Willow só agiu mediante de pressão, mas com punição branda

Após reportar o sucedido ao director de turma, à secretaria e à directora da secção masculina, a escola permaneceu em absoluto silêncio durante todo o mês de Maio. A inacção levou a mãe, desesperada, a expor as imagens no grupo de WhatsApp dos pais, cobrindo o rosto, mas relatando o que tinha acontecido.

A reacção da escola foi imediata e drástica: em menos de duas horas, o grupo foi apagado e todos os pais removidos, sem qualquer explicação. Inconformados, os pais decidiram investigar a origem das imagens, tendo sido identificados os alunos envolvidos, que acabaram por confessar o “crime”.

Mesmo depois da confissão dos petizes, a direção da escola continuou a abraçar a impunidade, procurando sempre minimizar o facto. Foi preciso muita pressão dos pais e encarregados de educação para a direcção tomar medidas sobre o caso, contudo a punição foi meramente paliativa, não sendo suficiente para desencorajar actos tão traumatizantes como aqueles.

A punição final para os agressores, comunicada semanas depois, foi uma suspensão de apenas quatro dias, medida que a vítima e o seu marido consideraram um insulto e uma prova da falta de seriedade com que o caso foi tratado.

A vítima que está desde o ocorrido a esta parte a passar por um acompanhamento psicológico, para tentar se recuperar do trauma causado pela situação, descreve a sua frustração com a gestão do processo pela escola, sentindo que a sua denúncia foi ignorada até ser forçada a tomar uma atitude pública.

“Esse tipo de acção não é de criança. Eu disse, estão acontecendo coisas. Mandei tudo aquilo que me mandaram. De repente, receberam ordens da escola para apagar o grupo. Todos nós fomos tirados do grupo. Imagens foram apagadas. Nem A, nem B”, desabafou.

Para a mãe que viu o filho a desenvolver repulsa pelo ambiente escolar por causa do bullying que vinha sofrendo, a medida branda adoptada pela direcção da Willow da Matola demonstrou uma clara intenção de abafar o caso em vez de o resolver. Para ela, mais do que proteger as vítimas, a escola pensou somente em garantir as propinas dos “pequenos malvados”, sem nunca fazer-lhes uma repreensão pública sequer.

Acto contínuo, de forma negligente, aquela escola não se deu sequer ao trabalho de prestar qualquer assistência psicossocial à vítima de linchamento de carácter e seu filho. O custo humano deste episódio é imenso. A mãe descreve um profundo abalo psicológico que a incapacitou profissional e socialmente.

“Eu estou abalada emocionalmente, eu estou desde Maio sem me fazer ao serviço. Vocês estão a entender o que eu estou passar? Todo aquele tempo de Maio eu estava com as portas fechadas. Eu estava com vergonha de uma coisa que eu não fiz”.

A reunião que culminou na sanção dos alunos foi descrita como um momento de profunda humilhação e raiva para a vítima. A punição de quatro dias de suspensão foi recebida com incredulidade.

“Quatro dias é muito pouco. Não estamos a ver pessoas a morrerem por causa da disposição da sua imagem?”. Para piorar, a motivação apresentada pela escola, vinda dos próprios alunos, foi que eles se sentiram desrespeitados pela mãe durante a sua palestra.

Reina na escola um ambiente de medo e violência

Este incidente, por mais grave que seja, parece ser apenas a ponta do iceberg de uma cultura de violência e medo instalada na escola. Foram relatados múltiplos outros casos que reforçam a denúncia de um “bullying institucionalizado“.

Um dos problemas mais alarmantes é um sistema de extorsão entre alunos, em que os mais fracos são coagidos a pagar para não serem agredidos. As taxas diárias variam entre 300 e 500 meticais para ter a segurança que a escola devia garantir.

Relatos de outros pais confirmam este cenário. Uma mãe teve de ir à formatura da escola confrontar publicamente os agressores do seu filho, pois a escola não agia. Outros incidentes incluem um aluno que levou a arma do pai para a escola no ano anterior e uma briga que deixou um estudante inconsciente.

As acusações de negligência são agravadas por uma percepção de discriminação e tratamento preferencial. A mãe vítima sentiu que a sua queixa foi tratada com descaso, uma experiência que ela atribui, em parte, à sua raça.

“Nós somos pretos, por isso temos que provar o nosso valor todos os dias”, desabafou. Esta sensação de desigualdade foi materializada durante uma tensa reunião com a direcção.

Diante do que consideram ser uma falha sistémica e uma protecção dos agressores, a família e outros pais sentem que não lhes resta outra opção senão levar a luta para fora dos muros da escola.

Direcção da Willow nega todas as acusações

Contactada pela nossa redacção, uma representante da escola negou categoricamente todas as acusações, sugerindo que os factos relatados podem não ter ocorrido na sua instituição. A representante afirmou que todas essas questões que foram levantadas não constituem verdade.

Sobre os pontos levantados, a escola distancia-se dos acontecimentos. Sobre a suspensão de quatro dias aplicada aos alunos, a alegação de que existe um esquema de extorsão entre alunos a representante foi taxativa ao afirmar nunca ter recebido estas queixas formalmente.

“Falou-se com a direcção também, nunca tivemos este assunto, nem fomos apresentados”, disse a representante, que nega também a existência de grupos de comunicação via WhatsApp.

“Nós não usamos grupos do WhatsApp, nós usamos uma plataforma chamada EduPage. Essa plataforma é individual, uma plataforma a qual todos os encarregados têm acesso”.

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