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- João Machava reage à suspensão como membro do partido
- Desmobilizados prometem ir “em peso” ao Conselho Nacional marcado para este mês
O Conselho Jurisdicional da RENAMO, liderado pelo deputado Arnaldo Chalaua, anunciou recentemente a suspensão de João Machava, antigo porta-voz da extinta Junta Militar, por alegadas “graves violações ao Estatuto do Partido” e incumprimento das obrigações partidárias. Em contacto com o Jornal Evidências, Machava afirmou que não foi formalmente notificado, tendo tomado conhecimento da decisão apenas pelas redes sociais. No breve contacto, deixou escapar que os ex-guerrilheiros preparam-se para ir em peso ao Conselho Nacional do partido marcado para 16 de Outubro corrente.
Elísio Nuvunga
Afinal, aquele que é um dos rostos mais visíveis da resistência interna contra a liderança de Ossufo Momade, João Machava, não foi formalmente notificado e desconhece a existência de qualquer processo que tenha sido instruído e culminado com o seu afastamento.
“Eu também vi aquele documento através do Facebook e WhatsApp. Não faço parte de nenhuma direcção do partido, seja nacional, provincial ou distrital. Nunca se reuniram comigo, apesar das várias tentativas que fiz para falar com o presidente Ossufo Momade. Para mim, esta suspensão não me afecta em nada”, declarou.
Machava, um desmobilizado da RENAMO, acrescentou que, se fosse expulso, seria até um alívio, pois poderia exigir compensação pelos mais de 30 anos de trabalho no partido sem remuneração.
“Trabalhei de graça todo este tempo. Se me expulsarem, terão que me compensar”, sublinhou.
O porta-voz do grupo, o qual critica a liderança de Ossufo Momade, teceu duras críticas ao seu líder, acusando-o de má gestão financeira, cortes nos subsídios das delegações distritais e provinciais e desvio de fundos do partido.
“As delegações não têm dinheiro para comprar nem uma caneta de 15 meticais. Mas quando realizamos uma conferência nacional, sem patrocínio, conseguimos juntar mais de 400 pessoas de todas as províncias durante dois dias. Isso mostra que o problema não é falta de dinheiro, mas falta de vontade”, afirmou.
Questionado sobre uma possível tentativa de silenciá-lo, Machava negou e atribuiu a decisão à frustração da liderança. “Eles sabem que não vão conseguir me calar. Continuarei a lutar pela RENAMO, que é a nossa casa. O problema não é o partido, mas a liderança e os que a protegem”, frisou.
Machava apontou nomes como Domingos Gundana e Arnaldo Chalaua como responsáveis pela suspensão. Recordou desentendimentos passados com Gundana, que chegaram a resultar na sua prisão entre 2016 e 2018. Sobre Chalaua, afirmou que não mantém qualquer relação: “Ele não me conhece. Só ouve falar de mim ou me vê em fotografias. Não lido com malucos”.
Apesar da suspensão, Machava insiste que continua como porta-voz dos desmobilizados e membro da RENAMO. “Sou filho da RENAMO. Ninguém me tira. Se quiserem me afastar, têm que negociar a compensação pelos 31 anos que trabalhei sem receber nada”, declarou.
Machava anunciou que prepara uma conferência de imprensa com outros membros desmobilizados para pressionar a direcção e reivindicar maior transparência nos fundos do partido.
“Estamos a organizar-nos para estar em prontidão. No Conselho Nacional, vamos comparecer em peso. É lá que este problema deve ser resolvido”, concluiu.
Desde as eleições gerais de Outubro de 2024, a RENAMO enfrenta uma crise interna, marcada pela contestação à liderança de Momade e protestos de ex-combatentes, que chegaram a encerrar sedes partidárias e exigir a realização urgente do Conselho Nacional para discutir liderança, pensões e subsídios.

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