Share this
- Chiquinho Conde lamenta falta de apoio e planos ignorados pela FMF
- Drama burocrático ameaça desempenho da selecção moçambicana na competição continental
A menos de dois meses do pontapé de saída do Campeonato Africano das Nações (CAN 2025), a decorrer em Marrocos entre 21 de Dezembro de 2025 e 18 de Janeiro de 2026, a selecção nacional de futebol, os Mambas, vive um dilema preocupante. O seleccionador nacional, Chiquinho Conde, revelou a inacção que afecta a equipa, com a preparação para o torneio continental a decorrer sem data nem local definidos para o estágio pré-competição. A burocracia e a aparente falta de coordenação entre a equipa técnica e a Federação Moçambicana de Futebol (FMF) pairam como uma ameaça real ao desempenho táctico e à coesão do grupo.
Luísa Muhambe
O técnico dos Mambas, conhecido pela sua frontalidade, não hesitou em apontar o dedo à gestão federativa, lamentando a forma como os seus esforços de planeamento têm sido sistematicamente desconsiderados desde que assumiu o cargo. A falta de recursos e a inércia administrativa são vistas internamente como um entrave maior do que qualquer adversário em campo.
“Lamento que, desde que assumi o comando técnico dos Mambas, a Federação nunca aprovou um único plano meu de preparação,” revelou Conde à DW
Este cenário de improviso forçado contrasta com a seriedade exigida por uma competição do calibre do CAN, onde o tempo de estágio é crucial para consolidar rotinas, promover a integração de novos talentos e afinar estratégias contra adversários de peso no continente. A ausência de uma pré-competição organizada e com apoio logístico pleno pode comprometer seriamente a aspiração de Moçambique de ir além da fase de grupos.
Em contraponto à crise logística, a selecção nacional regista um importante momento de reconciliação e reforço de liderança: Elias Gaspar Pelembe, conhecido como Dominguez, o capitão e figura histórica dos Mambas, está oficialmente de volta ao combinado nacional. O seu afastamento, motivado por um mal-entendido disciplinar com a equipa técnica, gerou grande polémica e críticas nas redes sociais entre os adeptos moçambicanos.
O regresso foi confirmado por Chiquinho Conde, que detalhou o processo de reintegração. A decisão não foi unilateral, mas sim resultado de um processo interno de pedido de desculpas e reconciliação, envolvendo o núcleo duro da equipa.
O próprio presidente da FMF, Feizal Sidat, confirmou que o conflito interno foi ultrapassado. Sidat, em entrevista à comunicação social durante a sua visita à província de Inhambane, revelou que o ambiente de tensão entre as duas figuras centrais do futebol moçambicano chegou ao fim, numa demonstração de pragmatismo.
“Já há consenso entre o seleccionador e Dominguez, já se fuma o cachimbo da paz, agora é pensar nos treinos, nos jogos e no CAN,” garantiu.
Um reforço que acrescenta experiência ao combinado nacional
O retorno de Dominguez não é apenas uma reconciliação, mas um reforço significativo de liderança, experiência e motivação para os Mambas numa fase decisiva. O jogador, que poderá voltar a vestir a camisola nacional após um longo período de ausência, integra o núcleo dos jogadores mais experientes, injectando moral no grupo que ruma ao CAN.
Com os olhos postos nos desafios iminentes, Chiquinho Conde divulgou uma pré-convocatória alargada de 40 jogadores para o ciclo de jogos internacionais da Data FIFA de Novembro, que decorrerá de 10 a 18. A lista, que cruza juventude promissora com experiência internacional em campeonatos diversos (Portugal, Inglaterra, África do Sul, Chipre, Iraque, etc.) será o termómetro da evolução táctica do grupo.
O primeiro compromisso já está agendado: um jogo amigável frente a Marrocos, a 14 de Novembro, na cidade de Agadir. A FMF está ainda em negociação com um segundo adversário para este ciclo preparatório. Nomes como Geny Catamo (Sporting CP) e Witi Quembo (Nacional da Madeira) deverão liderar a ofensiva moçambicana. O grupo é composto por seis guarda-redes, 12 defesas, 10 médios e 12 avançados, reflectindo o desejo do técnico de testar o máximo de combinações tácticas possíveis.
A polémica em torno do afastamento de Dominguez motivou uma resposta categórica do seleccionador no auge da crise. Essa declaração, que se tornou viral, sublinhava a sua autoridade inquestionável na gestão desportiva.
“Amarra-se o burro à vontade do dono. Enquanto eu estiver aqui na selecção nacional, as regras são ditadas por mim: quem convoca sou eu, quem substitui sou eu, quem altera sou eu,” afirmou.
Independentemente da velha polémica, o facto é que a selecção, embora sob pressão logística, caminha para a consolidação interna, essencial para o sucesso no CAN. A expectativa agora centra-se em saber se a FMF conseguirá, a tempo, aprovar e executar o plano de preparação de Chiquinho Conde para que a paz interna se traduza em desempenho de alto nível em Marrocos.



Facebook Comments