Autarquias de Manhiça e Gurué negam ceder espaço para actividades do ANAMOLA

DESTAQUE POLÍTICA
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  • Coincidência ou favorecimento do partido Frelimo?
  • Caso da Manhiça expôs crise de popularidade da Frelimo. VM arrastou multidões, e Frelimo um punhado

As autarquias da Manhiça, na província de Maputo, e da cidade de Gurué, na Zambézia, todas dirigidas por edis do partido Frelimo, negaram, recentemente, autorizações ao partido ANAMOLA para a realização de actividades políticas em espaços públicos, alegando coincidência de datas com eventos previamente solicitados pelo partido FRELIMO. A situação reacende o debate sobre a alegada limitação do espaço político para formações da oposição em Moçambique.

Elísio Nuvunga

Segundo documentos oficiais das duas edilidades, a recusa deveu-se ao facto de os locais pretendidos já estarem reservados para actividades do partido no poder, liderado pelo Presidente da República, Daniel Chapo.

Na Manhiça, o despacho do presidente do Conselho Autárquico, Luís Munguambe, datado de 30 de Setembro, refere que a Praça 18 de Maio, no centro da vil, já havia sido requisitada pela FRELIMO para uma reunião do secretariado alargado, marcada para o dia 9 de Outubro, entre 8h30 e 16h30.

“Infelizmente não será possível, pois o partido FRELIMO submeteu uma carta no dia 30 de Setembro de 2025 para o uso da praça 18 de Maio, onde irá decorrer uma reunião do secretariado alargado”, lê-se no documento.

Situação semelhante verificou-se em Gurué. O presidente do Conselho Municipal, José Fernando, respondeu no dia 9 de Outubro ao pedido do partido ANAMOLA, que pretendia realizar uma marcha no dia 11 do mesmo mês, informando que o mesmo espaço e data já estavam reservados para actividades da FRELIMO.

“O Conselho Municipal da Cidade de Gurué aconselha o partido ANAMOLA a não realizar esta actividade na mesma data para evitar cruzamento entre membros dos partidos FRELIMO e ANAMOLA”, refere o despacho.

Apesar das recusas formais, o partido ANAMOLA avançou com as suas actividades políticas na vila da Manhiça, reunindo uma multidão de membros, simpatizantes e apoiantes. No mesmo local, segundo relatos, também decorriam actividades da FRELIMO.

No caso da Manhiça, a situação foi totalmente vergonhosa para o partido no poder. Na enorme praça havia literalmente mais bandeiras do que pessoas. Um vídeo amador gravado naquele local durante a passagem da caravana de Venâncio Mondlane escancara a crise de popularidade da Frelimo.

No vídeo, vê-se uma inundação de gente – milhares de simpatizantes e curiosos – a acompanhar a caravana do ANAMOLA pela EN1, enquanto, lá ao fundo, menos de uma centena de membros da Frelimo perdiam-se na imensidão do verde da praça 18 de Maio. A situação está a ser interpretada como um erro de cálculo.

O porta-voz do ANAMOLA, Dinis Tivane, considera que as decisões das autarquias configuram perseguição política e revelam falta de neutralidade por parte das instituições do Estado.

“Tem acontecido por todo o lado. Parece que lhes custa deixar que outros partidos exerçam os seus direitos constitucionalmente consagrados. Parem de usar a posição do vosso membro, que é o Presidente da República, para exercer pressão sobre outras instituições. Esquecem-se de que essas instituições são do Estado e não da FRELIMO”, afirmou.

Casos como este têm sido denunciados há vários anos por partidos da oposição, que acusam as autoridades locais de dificultarem o exercício da actividade política fora do partido no poder, sobretudo em períodos próximos a eventos eleitorais.

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