Dinheiro da Guerra: Mais de meio bilião pode ter caído nos bolsos da corrupção

EXCLUSIVO
  • Da conta do fornecedor (Armazéns Anita), o dinheiro saía para contas particulares
  • Bancos suspeitam que o dinheiro que se destinava a alimentar as FDS tenha sido desviado
  • Atanásio Mtumuke e Basílio Monteiro metidos no barulho

O Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique e o Estado Maior General pagaram 600 milhões de meticais a um pequeno estabelecimento comercial, de nome Armazéns Anita, em Maputo, para alimentar o exército da base da Força Conjunta, em Cabo Delgado. Até aí tudo normal, mas o sentido da história muda quando da conta do Armazém, o dinheiro é posteriormente encaminhado para as contas particulares. E porque não foi possível provar o que estava realmente a ser pago, dois bancos comerciais da praça classificaram de “transacção suspeita de corrupção e branqueamento de capitais” e reportaram o caso ao regulador.

Não obstante a cidade de Pemba, na província de Cabo Delgado, contar com dezenas de supermercados com poderio para abastecer uma base militar, o Comando Geral da Polícia da República de Moçambique e o Estado Maior General, foram até Alto Maé celebrarcontrato com um modesto estabelecimento comercial denominado Armazéns Anita.

Trata-se de um pequeno armazém, sem histórico de transacções que excedessemuma centena de milhões em meticais. A julgar pelas instalações, tornam-se curiosas as motivações da sua escolha para abastecer mantimentos à uma base que dista a mais de 2 400 km de Maputo.

O pagamento erapara abastecer a base militar da Força Conjunta que está na linha da frente do combate àinsurgência, em Cabo Delgado.

Entretanto, em tão pouco tempo, sem que haja clareza da lista dos produtos comprados, o dinheiro depositado nas contas daquele estabelecimento comercial foi drenado para outras contas e/ou levantado em cheques.

Essa situação levou os bancos comerciais, nomeadamente Banco Comercial e de Investimentos(BCI) e Banco Internacional de Moçambique (Millenium BIM) a alertarem a entidade reguladora e a classificarem os pagamentos de “transação suspeita de corrupção e branqueamento de capitais”.

Pesou para a suspeita o facto de o rastreio não conduzir às compras declaradas, pelo contrário, indicava levantamentos em numerário e transferências às contas do casal de proprietários, José Pinhal e Calssum Amad.

Atanásio Mtumuke e Basílio Monteiro metidos no barulho

O que chamou a atenção dos bancos foi o volume de transacções feitas a partir do E-Sistafe para a conta do Armazém, de onde o dinheiro saía para contas singulares ou através de levantamentos em numerário ou cheques. Outro facto é que o volume das transacções diverge da capacidade do Armazém e não há evidências claras de ter havido fornecimento do que foi declarado.

Entre as transferências suspeitas constam movimentos dos dias 14 de Maio de 2018, 09 Janeiro 2019 e 10 de Novembro do mesmo ano, que levaram os bancos a reportarem a suspeita ao Gabinete de Informação Financeira de Moçambique (GIFIM).

O abastecimento cobriu o período de 2018 e 2019, quando Atanásio Mtumuke e Basílio Monteiro dirigiriam os ministérios da Defesa e do Interior, respetivamente. Naqueles anos, a insurgência somava primeiro e segundo ano.

Documentos consultados pelo Evidências não alistam os produtos que foram pagos com fundos destinados ao abastecimento dos soldados no teatro das operações em Cabo Delgado.

Em contacto com o porta-voz da PRM, Orlando Modumane, a nossa reportagem procurou saber o que efectivamente foi pago, que justificasse os 600 milhões de meticais. A resposta não poderia ser rude.Modumane cancelou a chamada e não retornou mesmo com a insistência.DeModumane, o Evidências queria ainda conhecer o procedimento seguido para indicação daquele estabelecimento comercial.

Do histórico do modelo da contratação das empresas que intervém em Cabo Delgado, depreende-se que o Armazém Anita, foi indicado a dedo.

Curiosamente, este período de abastecimento coincide com o período em que os soldados denunciavam dificuldades de vária ordem, desde alimentares até logísticas. Houve até vídeos amadores que denunciavam a falta de “moral” no seio das Forças Armadasdevido às condições precárias.

Lembre-se que no seu relatório, a Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e Legalidade (CACDHL) recomendou reforço da capacidade logístico – material das FDS para fazerem face aos ataques dos terroristas com recurso a meios modernos sofisticados.

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