Deysi Nhaquile: uma campeã que sonha em formar campeões

DESPORTO

Qualificar-se para os Jogos Olímpicos não é tarefa para qualquer um, mas Deysi Nhaquile  tornou-se na primeira atleta moçambicana a conseguir apuramento para a maior competição a nível planetário. A atleta do Clube Marítimo de Maputo é actualmente a número “um” no continente africano na classe Laiser Radial. Nesta edição, o Evidências apresenta ao leitor uma parte da história de vida da hexacampeã africana de vela.

Duarte Sitoe

A actual campeã africana de vela, na classe Laiser Radial, nasceu a 30 de Julho de 2000, em Maputo. Entrou no mundo da vela em 2010, quando tinha 10 anos, convidada pelo Clube Marítimo de Maputo.

Para ser velejador é imperioso saber nadar, por isso, Neidy, antes de começar a pilotar barcos, foi obrigada a treinar natação. Depois de aperfeiçoar os dotes nas águas, a hexacampeã africana e nacional passou para a vela. Nos primeiros dias tinha medo do mar, mas graças ao incentivo de Hélio da Rosa, actual presidente da Federação Moçambicana de Vela e Canoagem, acabou ingressando na modalidade dos barcos movidos pela força do vento.

Presentemente, frequenta o terceiro ano curso de gestão desportiva na Universidade Eduardo Mondlane. Sonha em ser campeã mundial, mas está ciente de que, para conseguir este sucesso não será da noite para o dia, mas sim na base de muito trabalho e humildade acima de tudo.

Afirma que se não fosse a família que a apoia, sobretudo o pai, teria desistido da modalidade, mas ele sempre a incentivou a lutar pelos seus sonhos. Fora da vela, Deisy, sonha em ser uma “top model” ou uma estrela de televisão.

A qualificação para os Jogos Olímpicos

Em 2019, Deysi Nhaquile sagrou-se, pela sexta vez consecutiva, campeã africana de vela na classe Laser Radial, feito que lhe valeu a classificação directa aos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, evento, entretanto adiado para este ano.

Falando da qualificação, a atleta do Clube Marítimo de Maputo e da selecção nacional disse que a qualificação para o maior evento desportivo a nível planetário é resultado de dois anos de trabalho.

“Eu queria o primeiro lugar a qualquer custo. No último dia, consegui qualificar-me para os Jogos Olímpicos e consegui o meu título de volta. Sagrei-me hexacampeã africana e qualifiquei-me para os Jogos Olímpicos, o que me deixou muito feliz. É o melhor sentimento da minha vida, porque foi um sonho concretizado”, disse Nhaquile para depois lamentar o facto de os seus colegas não terem conseguido carimbar o passaporte para os Jogos Olímpicos.

“Fiquei feliz porque garanti a presença de Moçambique nos Jogos Olímpicos, mas não estou feliz porque meus colegas não conseguiram a qualificação. Para mim não era importante ser a primeira apurada, queria ter mais atletas moçambicanos apurados para a competição. A qualificação para os jogos olímpicos é fruto de muito trabalho. Treinei bastante para alcançar este objectivo. Foram dois anos de muita luta, foi gratificante para os meus treinadores e para o meu clube que sempre me apoiaram”

Deysi Nhaquile é a atleta com mais anos de competição e acumula medalhas de ouro no continente. Em 2012 conquistou uma medalha de ouro na classe Optmist na Tanzania, feito que repetiu na África do Sul, em 2013; em Marrocos, em 2014; na Argélia, em 2015 e em Moçambique no ano 2016. Apesar de ser a número “um” no continente africano, a atleta ainda não se sente realizada.

“É difícil estar realizada porque o ser humano tem a tendência de sempre querer mais e tenho um grande sonho, que tornei-o objectivo, que é participar nos jogos olímpicos. Quero preparar-me condignamente para os próximos jogos olímpicos com vista a lutar pelas posições de pódio. Quero trabalhar a longo prazo para realiza-lo. Quero passar o meu conhecimento na modalidade para os mais novos. Quero ser treinadora e ajudar a modalidade a ser conhecida e a fazer campeões. Sentir-me-ia realizada se fosse uma boa treinadora que traz bons resultados e contribuir para o prestígio da modalidade além fronteiras”, projectou.

“A vela não é prioritária mas traz resultados e prestígio para Moçambique”

Participar nos Jogos Olímpicos, seja por mérito desportivo ou por convite do Comité Olímpico Internacional, é sonho de todo o atleta. Nhaquile conseguiu o apuramento depois de ter se sagrado campeã africana, mas não tira mérito aos atletas que irão a Tóquio na condição de convidados.

“É bastante gratificante colher os frutos daquilo que plantamos.  Sinto-me realizada por este feito na minha carreira. Não há melhor sensação do que saber que vou aos Jogos Olímpicos por mérito próprio e que fui a primeira moçambicana a qualificar para os jogos. Mas também não tiro mérito aos que vão na condição de convidados porque também é meritório, uma vez que não convidam qualquer atleta, convidam atletas que se esforçaram mas não conseguiram a qualificação, ou olhando para o currículo do atleta”.

No seu Programa Quinquenal, o Governo considera que o Desporto contribui para a socialização do Homem, eleva a auto-estima dos moçambicanos, promove a cultura de paz, Unidade Nacional e Coesão Social, melhora a sua qualidade, desenvolvimento integral e bem-estar individual, incluindo a consolidação da amizade entre os povos.

Entretanto, há uma discussão em torno das modalidades prioritárias e não prioritárias. Para a hexacampeã africana de vela são os resultados desportivos que definem quais são as modalidades que devem ser consideradas prioritárias, tendo também feito um grande apelo à comunicação no sentido de promover algumas modalidades.

“O Governo olha para estas modalidades prioritárias por causa do público e dos patrocinadores. No caso de futebol um patrocinador consegue ver que terá mais visibilidade. O futebol e o basquetebol são modalidades que movimentam massas e são modalidades históricas. Os nossos resultados nas competições internacionais fazem-nos perceber que existem modalidades prioritárias. Os media devem também apoiar as ditas modalidades não prioritárias, sobretudo quando estas trazem bons resultados, para mostrar ao público que Moçambique tem atletas que ganharam e dar-lhes visibilidade. A minha qualificação, por exemplo, veio mostrar que, mesmo não sendo prioritária, a minha modalidade é das melhores, traz resultados e prestigio para o país”.

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