- Esgotada capacidade de internamento no maior hospital do país
A terceira vaga da Covid-19, formalmente anunciada há dias, já baralha a curva das infecções ao contornar o cenário verificado até 30 de Maio, quando o país tinha apenas 433 casos activos. Desde princípios do mês corrente que a actualização diária retrata uma balança que tende para recordes de novas infecções e de óbitos, do que para recuperados. Este cenário dramático está a pressionar o sistema de Saúde, que está perto de uma medicina de catástrofe, quando os principais hospitais operam no limite. O ministro de Saúde, Armindo Tiago, já tinha alertado que a “nossa capacidade de internamento e de provisão de oxigénio” poderá ficar esgotada.
No último Domingo (30) de Maio, o país tinha 433 casos activos, de um cumulativo de 70 780 casos. As contaminações diárias retratavam um quadro menos dramático, com novos casos situando-se na casa de dois dígitos. No entanto, a passos galopantes, este retrato foi substituído por um quadro assustador, de recordes de mortes e de novas infeções, o que tem pressionado o sistema de Saúde que tem operado no limite. Até Domingo (11), eram 14.265 casos activos.
Aliás, neste domingo, o Ministério de Saúde (MISAU), na sua atualização diária, anunciou um recorde de 20 óbitos, todos de nacionalidade moçambicana. São pessoas que perderam a vida entre sexta e domingo. É o maior número de mortes já anunciado em 24 horas, o primeiro foi no dia 18 de Junho. Neste intervalo, 74 pessoas foram internadas e outras 42 tiveram alta, contabilizando, agora, 363 pacientes em leito hospitalar devido à Covid-19.
O cumulativo de casos diagnosticados desde o início da pandemia passa a ser 88.868, sendo 88.499 de transmissão local e 369 importados.
Até sábado último, Polana Caniço estava com cerca de 50 por cento da taxa de ocupação, enquanto no Domingo, o Hospital Central de Maputo convocou uma conferência de imprensa para anunciar que estava esgotada a sua capacidade de internamento.
“A nossa enfermaria para a Covid-19, que tem uma capacidade para 40 doentes e mais uma tenda para 10 doentes onde ficam os doentes suspeitos, antes de terem o teste positivo, também já está esgotada, já tivemos também que aumentar mais três camas de modo a internar o maior número de doentes possível”, disse Farida Ussene, directora clínica do hospital, alertando mais adiante que receia que nos próximos dias o sangue também comece a faltar.
“Com esta terceira vaga, o número de dadores voluntários que vinham normalmente ao hospital doar sangue baixou bastante e dentro em breve iremos ter problema de sangue”, sublinhou Farida Ussene.
Os jovens estão no topo das novas infeções, num momento em que 74 pessoas morreram na primeira semana de Julho, forçando uma medicina de catástrofe.
“A nossa capacidade (…) poderá ficar esgotada”, Armindo Tiago
Dados dos primeiros sete dias do corrente mês indicam que o país registou pouco mais de 7.081 (sete mil oitenta e um) casos da Covid-19 e 56 (cinquenta e seis) óbitos. Esta situação levou o Ministério da Saúde a emitir, em conferência de imprensa concedida pelo ministro Armindo Tiago, uma mensagem de alerta e apelo à sociedade para um mais eficaz cumprimento das medidas de prevenção e encorajamento aos infectados.
“A situação que vivemos, nestes primeiros dias do mês de Julho, é mais grave que aquela verificada no início do mês de Janeiro”, começou por dizer Armindo Tiago, que acrescentou que “no mês de Junho foram registados seis vezes mais casos e duas vezes mais óbitos que no mês de Maio. Assim, o número de casos e óbitos que registamos nestes primeiros dias de Julho confirmam a tendência do aumento crítico da transmissão do novo coronavírus em Moçambique”.
Moçambique usa cinco indicadores para monitorar a pandemia e, estes, segundo o ministro da saúde, mostram um agravamento progressivo em todas as províncias do país, sendo que a Cidade de Maputo e as Províncias de Maputo, Sofala, Manica e Tete têm alguns indicadores no nível vermelho, que é o nível mais alto de alerta.
De acordo com o ministro da saúde, os dados do País, referentes às últimas semanas e a situação vivida nos países da região indicam que em Moçambique, esta terceira vaga será mais grave que as duas primeiras.
“Se a tendência actual de agravamento perdurar, poderemos atravessar a uma situação dramática nas próximas semanas, com um número incomportável de casos, internamentos e óbitos por Covid-19. A nossa capacidade de internamento e de provisão de oxigénio para o tratamento de doentes poderá ficar esgotada em algumas províncias”, alertou Armindo Tiago.
Face a este cenário gravíssimo, o ministro da Saúde reiterou a necessidade de com urgência, todos melhorarmos a implementação das medidas de prevenção, para evitar as piores consequências da terceira vaga, e lembrou que as medidas são as mesmas praticadas durante as duas vagas anteriores, nomeadamente, distanciamento físico de pelo menos 1,5 metros; uso correcto de máscaras para cobrir a boca e o nariz; etiqueta da tosse e do espirro; lavagem frequente das mãos com água e sabão, ou desinfecção com álcool.
Armindo Tiago chamou atenção para o facto de, tendo em conta o contexto de alta transmissão que Moçambique atravessa, poderem existir muitas pessoas infectadas nas comunidades. “ As pessoas infectadas podem transmitir o novo coronavírus mesmo que não estejam a manifestar sintomas da doença”, lembrou, chamando depois atenção para o facto de nos locais de trabalho, no transporte público, na comunidade, no estabelecimento comercial ou no mercado, as pessoas poderem estar infectadas pelo novo coronavírus e não manifestarem sintomas da doença.
Por essa razão, o ministro da saúde recomendou a observância de medidas como evitar saídas desnecessárias de casa; evitar permanência em locais com aglomerados; nas saídas absolutamente necessárias, permanecer o mínimo de tempo possível fora de casa; em caso de contacto com alguém com Covid-19, cumprir com o período de quarentena e; em caso de o indivíduo estar com sintomas de Covid-19, cumprir com o isolamento domiciliar.
Outra recomendação deixada por Armindo Tiago e, tendo em conta a gravidade da situação epidemiológica, tem que ver com a necessidade de se evitar a realização de convívios e eventos sociais privados. “Quando falamos de convívios sociais privados referimo-nos a casamentos, aniversários natalícios, baptizados ou outro tipo de celebrações colectivas. Nestes ambientes, a transmissão do coronavírus é facilitada pela ausência de distanciamento físico, pelo não uso da máscara e pela interacção social intensa. Nestas semanas de alta transmissão, os convívios e eventos sociais podem originar um número muito alto de cadeias de transmissão, resultando na contaminação dos nossos entes mais queridos. Entendemos a necessidade que todos temos de conviver mais após tantos meses de restrições. Contudo, quanto mais cedo controlarmos a terceira vaga, mais cedo poderemos voltar às nossas interacções sociais e familiares”.
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