- Dois anos após o arranque da reconstrução pós Idai e Keneth
- Desembolsos dos parceiros continuam aquém do desejado
Entre Março e Abril de 2019, as regiões Centro e Norte do país foram fustigadas pelos ciclones Idai e Kenneth, que deixaram um rasto de destruição sem precedentes. Volvidos mais de dois anos, segundo o novo director-executivo do Gabinete de Reconstrução Pós-ciclones (GREPOC), Luís Mandlate, ainda há famílias que se encontram a viver nos centros de acomodação e em péssimas condições de sobrevivência.
Duarte Sitoe
Em Maio de 2019 o governo estimou em mais de USD 3.2 mil milhões necessários para a reconstrução pós ciclones Idai e Kenneth, no centro e norte do país, respectivamente. Com vista a angariar fundos, o executivo organizou, na Beira, uma conferência de doadores, na qual os parceiros de cooperação asseguraram pelo menos USD 1.6 mil milhões.
Grande parte desse apoio ainda não foi desembolsada. Dados levantados no terreno indicam que perto de 200 mil famílias perderam as suas casas e o Banco Mundial disponibilizou-se a financiar a construção de 15 mil casas nas províncias de Sofala e Cabo Delgado, enquanto outros parceiros também prometeram apoiar na reconstrução através de outros programas.
Entretanto, segundo adiantou o director-executivo da GREPOC, Luís Mandlate, neste momento estão em curso trabalhos cujo objectivo passa por angariar fundos para minimizar o sofrimento das 180 mil famílias que perderam as suas residências com a passagem de dois ciclones.
“As necessidades para a assistência no processo de reconstrução de habitações nas áreas afectadas excedem, em larga medida, os recursos disponíveis. Aqueles que têm recursos próprios foram reconstruindo as suas casas, de maneira que, hoje, a necessidade de reconstrução é de 180 mil casas”, reconheceu.
No colóquio com a Comunicação Social, realizado na capital moçambicana, Luís Mandlate declarou que, depois da passagem dos ciclones, com o auxílio de várias organizações financeiras e humanitárias, foi feita a reposição dos serviços considerados básicos, ou seja, a transitabilidade rodoviária, o abastecimento de água, o restabelecimento do comércio, para garantir a sobrevivência dos afectados.
“Depois de responder à emergência, tivemos que passar para a segunda fase, que é a reabilitação e construção de novas infra-estruturas para responder aos danos que foram causados pelos ciclones. Esta requer mais tempo. Para isso, precisávamos de fundos, mas não tem sido fácil ter o desembolso”, declarou Mandlate.
Não há informações sólidas e auditorias sobre a implementação dos projectos
Em 2020, na Conferência de Doadores falou-se da disponibilidade de 1,652.61 milhões, que eram destinados a projectos de reconstrução pós-ciclones. Todavia, do valor tornado público, o GREPOC apenas confirmou a recepção de USD 1.188,86 milhões.
Reagindo ao facto, o director-executivo da GREPOC, explicou que nem todos os valores disponibilizados para o apoio aos projectos de reconstrução são canalizados e geridos pelo Gabinete de Reconstrução Pós-ciclones.
“Cerca de 77% do valor disponibilizado pelos parceiros é canalizado e implementado através de várias agências ou instituições, como a EDM, FIPAG e tantas outras organizações não-governamentais. A falta de informações sobre a implementação dos projectos, auditorias e sua execução, constituem um grande desafio para a GREPOC uma vez que a ela compete a coordenação das iniciativas”, disse Mandlate.
As calamidades naturais deixaram um rasto de destruição e muitas famílias ao relento. Com vista a garantir que os próximos não criem danos avultados, o Gabinete de Reconstrução Pós-ciclones tem levado a cabo um trabalho de sensibilização para que a população não fixe suas moradias em zonas consideradas de risco.
“Nós fizemos um mapeamento para identificar as zonas seguras e aquelas a que não podemos investir, devido ao risco iminente de inundações. O GREPOC tem trabalhado com os municípios dos locais afectados, de forma a identificar novos bairros para reassentamento e já temos famílias a serem reassentadas em bairros como Mutua, Guaraguara, no caso da Beira”, revelou
Refira-se que para dar continuidade aos seus projectos e cobrir o défice financeiro de USD 1,8 milhões, o GREPOC vai intensificar as acções de mobilização de financiamentos junto dos seus parceiros.
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