Depois do voo inaugural, Aeroporto Filipe Nyusi não recebeu nenhum outro voo até hoje

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  • Primeira semana em branco

Tal como se suspeitava, o Aeroporto Filipe Jacinto Nyusi está longe de ser um destino preferencial para passageiros. Uma semana depois da sua inauguração e quase um mês desde o anúncio de passagens promocionais, ainda não recebeu nenhum voo sequer para além dos dois voos que aterraram e partiram no dia da sua inauguração. Numa pesquisa por bilhetes no site da Linhas Aéreas de Moçambique não foi possível encontrar nenhum voo agendado para aquele destino, e em contacto com operadores aeroportuários e quadros seniores da LAM, o Evidências confirmou o que já se temia: Nenhum voo escalou o elefante branco, que a qualquer dia pode virar um salão de festas.

Reginaldo Tchambule

Foi inaugurado com pompa e circunstâncias, mas poderá se tornar numa grande dor de cabeça para os gestores dos Aeroportos de Moçambique, que deverão fazer um esforço financeiro enorme para garantir a manutenção de mais uma infra-estrutura completamente improdutiva.

Uma semana após a sua inauguração, o majestoso aeroporto de Chongoene, que leva o nome de um do mais alto magistrado da nação, está às moscas e as crianças de Gaza nunca mais viram um avião pousar naquele recinto. Para além dos dois voos demonstrativos que fizeram a alegria dos petizes, em uma semana nenhum outro avião escalou aquele destino.

Na manhã desta segunda-feira, dia em que o Aeroporto Filipe Jacinto Nyusi completava uma semana depois de ter entrado oficialmente em funcionamento, o Jornal Evidências entrou no site da LAM para simular a compra de um bilhete com destino a Xai-Xai, contudo, embora o destino já conste da planilha, não havia nenhum voo disponível e nem sugestão para um futuro breve.

Na verdade, a pesquisa tinha como objectivo calcular a média de preço da passagem de Maputo a Xai-Xai depois da propalada promoção inaugural, contudo a inexistência de voos fez-nos contactar alguns operadores aeroportuários que confirmaram que o aeroporto está a funcionar em serviços ínfimos, sem previsão de quando iniciará o tráfego.

De um gestor sénior da Linhas Aéreas de Moçambique, a informação veio dura e seca “Nenhum voo meu irmão”. Insistimos para saber se a LAM tem algum voo previsto para Xai-xai nos próximos dias, mas não tivemos nenhuma resposta optimista, o que confirma a inviabilidade, pelo menos agora, daquele investimento.

Recorde-se que a viagem promocional de ida e volta, de Maputo a Xai-Xai, estava fixada em 13 800 meticais, contudo, Evidências apurou que ninguém aderiu e os únicos passageiros que já aterraram naquele aeroporto foram convidados do Ministério dos Transportes e Comunicações e dos Aeroportos de Moçambique.

Até hoje não é conhecido o estudo de viabilidade do Aeroporto Filipe Jacinto Nyusi. No dia da inauguração, o Presidente da República disse que o aeroporto orçado em 60.3 milhões de dólares vai receber pouco mais de 220 mil passageiros por ano, grande parte dos quais espera-se que sejam atraídos pelo potencial turístico, indústria extractiva e negócios, embora os números, sem nenhuma inflação, estão longe de ser animadores a médio prazo.

Na sua intervenção, Filipe Nyusi destacou o potencial turístico da província de Gaza, com destaque para praias; lagoas; parques, reservas e fazendas bravias; bem como locais históricos que fazem parte do património cultural; a cultura, com destaque para as danças, gastronomia e artesanato.

No entanto, apesar do referido potencial, mesmo antes do flagelo imposto pela pandemia da Covid-19, que se mostra uma realidade que vai perdurar por mais alguns anos, o número de pessoas que procura aquela província para turismo, por via aérea, era simplesmente insignificante.

“Com esses dados, o novo aeroporto exigirá mais acções de promoção para vender a oferta de Gaza e de Moçambique, de forma a atrair mais turistas da Europa, América e da Ásia, cujo meio de transporte mais usado é o avião”, reconheceu Filipe Nyusi, instando os gestores a vários níveis a eliminarem as barreiras ao sector do turismos e não terem medo da competição para desviar o tráfego dos aeroportos regionais e dos países vizinhos.

A agricultura como bóia de salvação

Sem apresentar projecções tangíveis, Filipe Nyusi esforçou-se para mostrar que o aeroporto que carrega o seu nome não será um elefante branco e até a agricultura foi chamada à colação. Aliás, chegou a dizer “não vamos fazer um aeroporto para depois não haver voos para aqui. Vamos ‘gymar’, ou seja, fazer  para vermos se trazemos soluções para isto”.

“Não fizemos o aeroporto só por causa do turismo. Seria pensar curto. A província de Gaza é também portadora do potencial de recursos noutros sectores. A agricultura, a pesca e a indústria e os recursos minerais, incluindo grandes projectos na cadeia de valor da agricultura no Limpopo, como uma zona económica especial”, disse Filipe Nyusi, dando a entender que os produtos agrícolas do baixo Limpopo poderão ser escoados via aérea para o mercado.

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