Militares denunciam problemas sérios de reabastecimento logístico

POLÍTICA SOCIEDADE
  • Há fome nas fileiras em Cabo Delgado

Numa altura em que várias posições das Forças de Defesa e Segurança (FDS) têm a missão de perseguir os terroristas, clarificar e consolidar o controlo territorial nos distritos assolados pelo conflito, relatos que chegam das fileiras das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) dão conta de problemas sérios de abastecimento logístico em Cabo Delgado, havendo semanas que os militares são obrigados a mendigar comida aos parceiros de cooperação e ou comprar nas comunidades. Em meio a isto, casos há de militares que pela fome acabam extorquindo as populações.

Reginaldo Tchambule

Segundo apuramos de fontes militares no terreno, as posições sediadas no Teatro Operacional Norte, concretamente na província de Cabo Delgado, deparam-se com sérios problemas de alimentação, devido a má gestão e supostos esquemas de roubo por parte das chefias militares.

A crise de alimentação se verifica em quase todas as posições, com casos críticos para a Ilha do Ibo, Quissanga e Mocímboa da Praia, onde os militares chegam a viver de favores de organizações humanitárias e populares.

Numa altura em que vários contingentes de vários países se encontram em Cabo Delgado e com uma logística de se invejar, os militares moçambicanos classificam como vergonhoso o que se vive e deixam claro que a moral da tropa é baixa.

“É difícil e vergonhoso para um Estado que quer enfrentar uma guerra sem condições mínimas para fazer face ao andamento das operações. Até agora não se sabe. Talvez pode ser um esquema de roubo perpetrado pelos nossos dirigentes”, denunciam as fontes.

Por exemplo, no passado mês de Novembro de 2021, os militares foram obrigados a solicitar apoio no armazém do PMA, em Ibo, para poderem ter óleo e arroz. O pedido foi de facto aceite e os militares foram abastecidos com comida destinada aos deslocados de guerra, pessoas necessitadas e idosos que não têm nenhuma assistência dos seus familiares.

Antes deste pedido ao armazém do PMA, sensibilizado com o sofrimento dos bravos defensores da pátria e dos homens, o administrador do distrito do Ibo ofereceu uma série de produtos alimentares ao contingente militar, baseado naquele ponto, com destaque para 80 litros de óleo, seis sacos de arroz e quatro sacos de farinha de milho. Trata-se de produtos adquiridos com fundos próprios do dirigente.

Segundo apuramos, a situação deteriorou-se desde o mês de Novembro do ano passado e o chefe da logística da “Administração” de Pemba, uma subunidade responsável pela gestão da logística em todos os quartéis e posições na província de Cabo Delgado, é apontado como responsável.

Segundo o Evidências apurou, a justificação do responsável pela logística militar em Cabo Delgado tem sido a de que “não existem produtos no armazém e aguardamos o sinal dos parceiros”. Os referidos parceiros são, na verdade, empresas contratadas para fornecer alimentos a todas as posições.

“Só para se ter uma ideia, hoje, quinta-feira, a ementa geral nas FADM é xima com guisado de peru, mas com essa crise que se passa cá no TON, no Ibo tivemos como almoço xima com peixe seco assado. De salientar que este peixe seco foi adquirido mediante um pedido aos pescadores que fazem a secagem do peixe para posterior venda”, denuncia uma fonte.

Refira-se que, para sobreviverem, alguns militares acabam extorquindo as comunidades já martirizadas pela guerra, o que mina o ambiente entre as partes. No princípio de Dezembro, por exemplo, três oficiais das FADM em Ibo, durante uma actividade operacional de “ronda nocturna”, que decorreu no período das 20 às 22h, intimidaram a população, espancaram brutalmente alguns concidadãos e extorquiram somas avultados de dinheiro, mas foram protegidos pelo seu superior hierárquico.

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