As boas ideias têm cor, a intolerância política também

EDITORIAL

A ausência de disposição para aceitar pessoas com pontos de vista diferentes está cada vez mais gritante no país e os episódios que denunciam o não abandono da intolerância política são arrepiantes.

Depois do nobre exemplo que recebemos de Quelimane, onde a oposição (Araújo e Muchanga) exaltou a democracia e a tolerância política, ameaçando a tradição política imposta pela Frelimo, que até elege os seus representantes com base no regionalismo, descuidando-se de estar a promover o tribalismo, como critério de aceitação ou negação, eis que de Tete, vem outro exemplo abominável da direcção do Hospital Provincial, que tentou vedar o acesso do material médico aos utentes simplesmente porque foi oferecido pela Renamo. Um absurdo!

O Hospital Provincial de Tete optou pela rejeição da doação de vários materiais de saúde, dentre eles 2200 seringas, simplesmente por terem sido oferecidos pela Renamo, cristalizando a partidarização das instituições públicas e a forma como os militantes absorveram a intolerância política, uma rejeição ao multipartidarismo, comprometendo o desenvolvimento do país, que só é possível numa sociedade inclusiva e que pauta pelas ideias construtivas antes de questionar a raça, a cor e a proveniência política, como já assegura a Constituição.

Antes desse evento tivemos um partido enraizado no sul, a conviver pacificamente com outros partidos da oposição ao mesmo tempo que arrastava multidões, quebrando o conceito Frelimista de regionalismo e intolerância, o que denuncia a imposição de uma cultura que afinal não existe, de tribalismo e regionalismo, como a Frelimo tenta fazer perceber.

Aliás, foi mal dessas imposições que nos empurrou para a eleição do actual executivo, um critério obsoleto que não olhou para competências, tendo se limitado na vez do norte e o resultado não podia ser diferente, o país veio a conhecer o modelo errado de governação.

O discurso de que as boas ideias não têm cor precisa encontrar terreno e ser absorvido por todos, por mais verdadeiro que seja, se no terreno é proibido a outros cidadãos proverem soluções, simplesmente por pertencer ao partido que não detém o poder, não sairemos dessa caverna. Às vezes, a Frelimo não precisa fazer, mas precisa deixar os outros fazerem, mas o que assistimos é a uma Frelimo que não faz e nem deixa fazer, uma postura condenável, que mina a coesão dos moçambicanos.

As diferenças que são sempre aplausíveis em todas as sociedades não podem ser motivos de guerras, exclusão, pelo contrário, deve-se recorrer a elas para se encontrar inúmeras soluções que ajudem a prover soluções a todos, sem se olhar para o protagonismo político. Nossas vidas não podem ser vítimas de protagonismos políticos, é um insulto à democracia e a Frelimo. Aliás, a ser verdade que não se identifica com esses actos, deveria exonerar a pessoa que tentou sabotar a doação da Renamo.

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