Problemas mecânicos forçam Nyusi a alugar um outro jacto presidencial

DESTAQUE POLÍTICA
  • Aeronave presidencial comprada a 560 milhões de meticais está em terra
  • A avioneta não tem nem cinco anos e já foi dispensada por várias avarias
  • Foi comprado pelo Fundo de Desenvolvimento dos Transportes (FTC) mas hoje, recorre Global Express XRS para alugar uma outra aeronave executiva
  • Filipe Nyusi já não voa no avião moderno deixado pelo seu antecessor

A aeronave executiva Bombardier, modelo Challenger 850, comprada em nome da LAM, para mercado doméstico, porém alocada ao Presidente da República, Filipe Nyusi, para viagens oficiais e não só, dentro e fora do país, encontra-se “arrumada” devido a problemas mecânicos. Trata-se do polémico avião executivo adquirido pelo Ministério de Transporte e Comunicações (MTC), através do Fundo de desenvolvimento dos Transportes (FTC), no consulado de Carlos Mesquita, que custou 560 milhões de meticais, mas que em menos de cinco anos virou “sucata”, após um quadro de avarias recorrentes. Já houve casos em que a aeronave executiva mostrou dificuldades de fechar a porta, comprometendo uma viagem do Chefe do Estado levando a que fosse desviado um avião comercial da MEX para atender as necessidades presidenciais. Neste momento para o Presidente da República se deslocar para certos destinos dentro e fora do país, recorre-se a uma aeronave alugada na África do Sul, numa operação cujo impacto financeiro é desconhecido.

Nelson Mucandze e Reginaldo Tchambule

Em finais de 2017, no segundo ano do primeiro mandato de Filipe Nyusi, foi gasto mais de meio bilhão de meticais do Fundo de desenvolvimento dos Transportes (FTC), que não consegue comprar autocarros que garantam transporte condigno aos moçambicanos, para comprar uma avioneta “executiva” que devia garantir a dignidade e pontualidade das viagens do Chefe de Estado, que por razões desconhecidas não tem voado nas aeronaves, algumas modernas, das Forças Áreas de Moçambique.

No entanto, a nova aquisição, adquirida num processo pouco transparente, afinal, não passava de uma “sucata”. Como tal, com menos de cincos no solo pátrio, já apresenta sérios problemas mecânicos que a impedem de voar.

Um dos episódios que não passou despercebido foi em plena viagem presidencial do Botswana, em Abril passado, quando o Chefe do Estado, Filipe Nyusi já se encontrava a bordo e a avioneta apresentou dificuldades para fechar a porta.

Houve tantas insistências, mas foi debalde e para que o Presidente da República não ficasse por terra em prejuízo dos seus compromissos, na última hora, teve que se desviar um avião da MEX, a subsidiaria das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), para garantir a ida do Presidente da República a Botswana.

Actualmente, para garantir a deslocação de Nyusi, tem se recorrido ao aluguer de um jacto da empresa sul-africana Global Express XRS, um ZS- KDR com capacidade para 12 passageiros que, curiosamente, é um jacto de 1999, mas que se mostra mais moderna e resistente do que a Challenger 850.

Foi a bordo deste avião, branco com faixas pretas, que Filipe Nyusi viajou na semana antepassada para Uganda onde cumpriu uma visita presidencial.

Apesar de Moçambique ter péssima fama na oferta das opções para viagens áreas, para deslocação do Presidente da República, o país dispõe de algumas opções que podem ser úteis para o transporte de Nyusi.

Uma das opções é um jacto deixado pelo antigo Presidente da República, Armando Guebuza, que ainda em exercício havia dispensado às Forças Aéreas de Moçambique, passando a viajar através dos voos da LAM. Trata-se ‘Hawker 850XP’, comprado em segunda mão, construído em 2005, nos Estados Unidos, com a matrícula FAM 002, que dez anos depois continua se mostrando mais moderno e sem quaisquer problemas mecânicos. Filipe Nyusi usou este avião durante os primeiros dois anos do seu primeiro mandato, mas depois dispensou-o.

Ao FAM 002 junta-se a FAM 003, uma avioneta cedida às Forças Aéreas de Moçambique pelo PCA dos CFM, Miguel Matabel, que humildemente dispensou para passar a usar voos comerciais. Na recente visita de Estado a Uganda, o FAM002, foi usado pelo ministro de Defesa, Cristóvão Chume que fazia parte da delegação do Presidente da República, quem vinha transportado no jacto alugado à sul-africana, Global Express XRS.

O ‘Hawker 850XP faz parte de um lote vasto comprado para a Força Aérea entre 2013 e 2014, com parte do dinheiro das dívidas ocultas. Trata-se de dois aviões de transporte Antonov An-26, em segunda mão e três helicópteros Mi-8 de fabrico russo. A estes juntavam-se os oito MIGs reformados e outras pequenas avionetas usadas para treinamento.

É indisfarçável o esforço de Nyusi, desde 2017, de contornar o uso dos equipamentos comprados por via das dívidas ocultas, numa tentativa de se desassociar do escândalo cujos rastros não ocultam o seu envolvimento., o foi usado pelo ministro de Defesa. De lá para cá, a última vez que recorreu ao avião foi em 2020 numa deslocação a Lichinga.

Fora destes aviões, o país dispõe, através das Linhas Aéreas de Moçambique, quatro aviões alugado para voos comerciais. A companheira da bandeira não tem nenhum avião próprio, o que ilustra o falhanço na gestão deste património que já conheceu melhores dias.

Jato de Nyusi foi comprado já subvalorizado no mercado

O Bombardier Challenger 850 é um jacto fabricado entre 2006 e 2015. Dados da empresa, até 2015, indicam que o custo de aquisição para o Challenger 850 normalmente varia de 32 milhões de dólares, novo, e 24 milhões de dólares para uma aeronave usada.

Do resto, é um preço que depende do ano de produção. Um dado curioso, é que para Moçambique o mesmo viria custar menos de um terço de valor de compra de um jacto novo, o que indicia que o avião foi comprado já subvalorizado, talvez por ser o mais antigo.

Do seu historial, consta que o Challenger 850 é um jacto executivo bimotor super médio projectado e fabricado pela Bombardier Aeroespacial para rotas aéreas domésticas e transcontinentais.

“Em 2006, Bombardier começou a entregar o 850, seu maior Challenger. O 850 teve vida curta, no entanto, como Bombardier interrompeu a produção de seu grande jacto em 2012”, lê-se no perfil da empresa.

Em Maputo, o anúncio da compra foi feito em Novembro de 2017, por Carlos Mesquita, que apesar de ter garantido que a compra de aeronave resulta de uma solicitação da LAM-Linhas Aéreas de Moçambique e a sua filial MEX para desenvolverem a sua actividade de transporte de passageiros no segmento executivo, nunca esteve afecto à companhia de bandeira, o avião visava, pelo que se viu, para transporte do Presidente da República.

“Trata-se de uma aeronave, com matrícula civil, que tem o propósito específico de realizar voos executivos, um segmento que se está a mostrar-se bastante atractivo, conforme consta da abordagem apresentada pela MEX ao Governo”, referiu o ministro, na altura.

Na sua argumentação, teria referido que Nyusi várias vezes tem viajado em voos comerciais da LAM, onde têm sido constatadas incompatibilidades de horários entre os voos estabelecidos pela transportadora nacional, com os programas do estadista, quer na sua chegada ou na partida, por vezesocasionando constrangimentos aos restantes passageiros.

“Daí que a Presidência da República possa ser um atractivo para esse segmento de negócio da MEX, caso a Presidência da República queira utilizar anova aeronave”, explicou o governante, actual Ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos.

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