Mulheres e jovens deslocados beneficiam de empoderamento económico para fortalecer a resiliência e gerar renda

SOCIEDADE

Em 2019, a província de Cabo Delgado, situada a norte de Moçambique, foi duramente atingida pelo ciclone Kenneth, que destruiu a subsistência de muitas pessoas nos distritos costeiros. Esta catástrofe combinada com o conflito armado em curso deslocou mais de 800.000 pessoas, agravando as suas condições básicas de vida e criando uma resposta humanitária de emergência. Com vista a fortalecer a resiliência entre as pessoas e desenvolver habilidades, conhecimentos e atitudes saudáveis para o seu bem-estar, organizações da sociedade civil, em parceria com o governo, estão a desenvolver projectos de recuperação de Cabo Delgado, focalizados nas necessidades das mulheres e dos jovens.

Neila Sitoe

Promover a recuperação de pessoas internamente deslocadas de conflitos e desastres naturais e parte da comunidade acolhedora, com ênfase na segurança alimentar, aprimorar a capacidade de mulheres e jovens para a geração de renda, aumentar a capacidade de liderança positiva entre mulheres e jovens são algumas das acções que estão a ser desenvolvidas com vista a empoderar mulheres e jovens que tiveram a sua subsistência destruída.

Esmeralda Cassambai, coordenadora do projecto ‘Suporte ao Grande Desenvolvimento Socio-Económico e Recuperação em Cabo Delgado’, ou simplesmente RCD, que está a ser implementado pela ADPP (Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo), em parceria com governo e a Associação h2n, com o apoio da USAID, disse que o empoderamento é feito de forma holística, integrado para promover igualdade de género e empoderamento das mulheres e diminuir a dependência absoluta.

“O género e inclusão são temas transversais para assegurar que os beneficiários desenvolvam habilidades, conhecimentos e atitudes saudáveis para o seu bem-estar, que é o que pretendemos com este projecto, onde no início fez-se a Inclusão das mulheres nos clubes de productores para criar oportunidades de aumentar rendimento, segurança alimentar e expandir meios de vida. Elas são incluídas também nos comités de gestão dos clubes para assegurar que as decisões tomadas tenham em consideração as necessidades das mulheres e aumentar a sua auto-suficiência, através da distribuição de insumos agrícolas e frango para que as mulheres e jovens aumentem a produção agrícola e reduzam a vulnerabilidade e dependência do apoio humanitária”, explicou.

A fonte acrescentou que a formação e mentoria em cursos de habilidades para a vida e boas práticas agrícolas para aumento da produção, formação em associativismo para promover a coesão social e trabalho em equipa de forma a restaurar a dignidade do ser humano e criar redes de apoio são processos cruciais para este empoderamento.

“Os grupos são compostos por 60% de mulheres e 40% de homens”

Esmeralda Cassambai, coordenadora de projecto

A coordenadora afirmou ainda que em todas estas formas e processos de empoderamento a presença e participação activa da mulher em todas as actividades do projecto e a valorização das actividades desempenhadas por mulheres são prioritárias, com vista ao alcance da igualdade e equidade de género no empoderamento económico dos deslocados e das comunidades acolhedoras.

“Em todas as actividades do projecto e estabelecimento de grupos de trabalho, os grupos são compostos por 60% de mulheres e 40% de homens. Neste momento, o projecto está a empoderar 1219 mulheres, sendo que 1102 estão nos Clubes de Produtores, 83 nos Comités de Gestão e 34 em treinamento de jovens chamados Aceleradores Juvenis (AJ), em habilidade sociais (soft skills), comunicação e radiojornalismo”, finalizou.

Testemunho dos beneficiários

Muanahati Nazário, membro de aceleradores juvenis

Faz parte das estáticas, Mariamo Assane, de 49 anos de idade, que se refugiou na comunidade de Ngalane após o ciclone Kenneth, que destruiu tudo o que ela e sua família possuíam,  actualmente, faz parte das Mulheres Engajadas na produção agrícola para garantir a Segurança Alimentar e Geração de Renda para a sua família.

“Durante o ciclone perdi quase tudo e tive que viver num centro de deslocados, no início não foi fácil me adaptar, mas aquela era a minha nova realidade e tive que me acostumar. Depois de um tempo fomos viver com familiares que nos acolheram e deram-nos um espaço para praticar agricultura. Foi algo muito bom, mas a insuficiência de água para irrigação de campos/hortas durante o período seco fazia com que nem sempre tivesse boa produção, mas pela graça de Deus, no início deste ano, recebi kits compostos por insumos agrícolas e ferramentas de trabalho da ADPP, e as coisas tem melhorado bastante”, louvou.

Quem também beneficiou-se do empoderamento e louva a iniciativa é Muanahanti Nazário, que foi formada em comunicação e radiojornalismo. “Sou membro do Aceleradores Juvenil de Paquitequete, e graças a formação participo na gravação de programas da rádio, com vista a mobilizar e sensibilizar a população sobre diversas temáticas, incluindo a nutrição, saúde e bem-estar, e já desempenho actividades numa área em que sempre sonhei”, enalteceu.

O projecto ‘Suporte ao Grande Desenvolvimento Socio-Económico e Recuperação em Cabo Delgado’, ou simplesmente RCD, tem a duração de 4 anos, teve o seu início em Agosto de 2021 e o término está previsto para o mesmo mês de 2025. Está a ser implementado nos distritos de Metuge, em cinco (5) Centros de Reassentamento e nas respetivas comunidades de Tratara, Ngalane, Naminawe, Ngunga e Ntokota, e no distrito de Pemba, no bairro de Paquitequete, e beneficiará directamente 25 mil pessoas. 

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