Comissão Política censura Castigo Langa e repudia “atitude” que atenta contra “integridade” de Nyusi

DESTAQUE POLÍTICA

A Comissão Política do partido Frelimo (CP) diz que o pronunciamento de Castigo Langa, no decurso do XI Comité Central extraordinário, havido a 15 de Setembro em curso, sobre um alegado terceiro mandato atenta contra “imagem do Partido e integridade do seu Presidente (Filipe Nyusi)”. O teor da carta dirigida à Nyusi é de apelo, mas não foi do agrado da Comissão Política, que reforça a afirmação do Presidente da Frelimo, de tratar-se de “um ponto fora da agenda aprovada”.

A Comissão Política da Frelimo esteve reunida esta quarta-feira (21), na sua77 Sessão para analisar a actual política, económica e sócio-cultural do país. No final da sessão que decorreu dois dias antes do arranque de XII Congresso, foi produzido, como de praxe, um comunicado que aborda os pontos apreciados, que, como sempre, se resumem a saudação aos feitos do Presidente do partido, Filipe Nyusi.

No seu comunicado, a Comissão Política escreve que “lamenta e repudia veementemente a atitude do camarada Castigo Langa, Membro do Comité Central, em ter levantado no decurso da II Sessão Extraordinária do Comité Centra, um ponto fora da agenda aprovada e, à posterior, ter feito circular uma carta nas redes sociais, com afirmações que atentam a imagem do Partido e integridade do seu presidente”.

Apesar da Comissão Política afirmar que a carta foi vazada por Castigo Langa, o Evidências soube que aquela intervenção no CC foi posta a circular sem o seu consentimento, tendo, nalguns corredores, lamentado a exposição de assuntos debatidos a porta fechada.

Eis na íntegra a intervenção de Castigo Langa:

“Camarada Presidente

Agradeço a oportunidade de tomar a palavra nesta derradeira fase da preparação do 12º Congresso do nosso Partido.

Por vezes perguntam-me se não tenho medo de abordar assuntos tão delicados no Comité Central. Eu respondo que não, porque os membros do Comité Central são meus Camaradas. Se eu estiver errado, hão-de corrigir-me. Tenho medo, por exemplo, de ir a Nelspruit porque oiço dizer que em NkomatiPort há bandidos.

Camarada Presidente,

Camaradas Membros do Comité Central,

Entendo que o objectivo desta sessão é assegurar que o Congresso decorra de acordo com o estatuído e seja um momento de festa e de reafirmação do compromisso da FRELIMO em desenvolver o nosso país e construir a prosperidade do povo.

Durante alguns anos chefiei o Sector de Estudos e Análise do Partido e nessa condição tive o privilégio de reunir-me regularmente com diferentes quadros e estudiosos para debatermos os mais diversos assuntos e produzirmos recomendações para a direcção do Partido. Tal como se diz na gíria, uma vez polícia, polícia para o resto da vida. Esta função criou-me o vício de tentar prever o desfecho ou consequências de determinados fenómenos. Foi assim que no Congresso de Muchara, ao comentar o discurso de encerramento com o Camarada Filipe Jacinto Nyusi, então Ministro daDefesa Nacional, sugeri que tomasse nota de determinado aspecto, porque ele iria ser o nosso Presidente.Abriu a sua pasta tirou um bloco de notas e assim o fez.

Quando finalmente foi eleito pelo Comité Central candidato a candidato à Presidente da República, fui dar-lhe um abraço e ofereci-lhe um texto por mim escrito em 2012 intitulado A FRELIMO E O SÉCULO XXI e um livro intitulado PORQUE FALHAM AS NAÇÕES?, escrito por DaronAcemoglu e James Robinson. Então perguntou-me: Como é que sabias?

Este relato vem à propósito duma iniciativa que teve lugar no último congresso, em que, sem estar na agenda, foi aprovada uma resolução indicando o Camarada Presidente como candidato presidencial da FRELIMO para eleições que se avizinhavam, bem como da narrativa de alguns fazedores de opinião acerca de um terceiro mandato.

O meu apelo vai pessoalmente para o camarada Presidente: caso apareça uma proposta no sentido de ser o próximo candidato da FRELIMO nas eleições presidenciais, por favor, faça como fez com a oferta de tractor: não aceite. Não seria bom nem para o Camarada Presidente e sua família, nem para a FRELIMO e, seria um precedente com consequências imprevisíveis para o nosso país.

Uma proposta nesse sentido, tanto pode provir de oportunistas com o objectivo de cavalgarem o Camarada Presidente na prossecução de seus fins egoístas, contrários ao interesse nacional, como de camaradas de boa-fé, apenas invadidos pelo medo do desconhecido.

Em relação a estes últimos, gostaria de socorrer-me do debate havido quando o Camarada Presidente Joaquim Alberto Chissano manifestou perante o Comité Central a intenção de não se recandidatar nas eleições de 2004. Alguns camaradas expressaram o seu receio de não encontrarmos um candidato capaz de assumir o cargo. Em resposta, o Camarado Presidente Joaquim Chissano sossegou-nos dizendo que, do seu conhecimento dos vários chefes de estado pelo mundo fora, naquele Comité Central havia muitos camaradas capazes de exercer devidamente o cargo. A experiência provou que estava certo. Depois do camarada Presidente Armando Guebuza que era um veterano com longos anos na direcção da FRELIMO, temos connosco o Camarada Filipe Jacinto Nyusi que até poucos anos antes, não frequentava sequer os bastidores do governo Central mas saiu-nos um grande estadista, um presidente com obra feita nas mais diversas vertentes da vida do País.

Dada à nossa amizade dos tempos de estudante engenharia, estaria pessoalmente confortável com a eventual continuação do Camarada presidente Filipe Jacinto Nyusi mas pesa-me a consciência porque sei que mudanças inconstitucionais podem encorajar iniciativas de igual natureza por parte de outros protagonistas, com elevado potencial de descambarem em tragédia.

Se da tragédia resultar sangue, será o Camarada Presidente a sujar as mãos enquanto os proponentes se distanciam sem qualquer pudor nem hesitação.

Muito obrigado”.

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