Traumas da guerra dificultam o retorno dos deslocados às origens

DESTAQUE POLÍTICA SOCIEDADE
  • Deslocados continuam sem assistência, mas, o horror e a incerteza da guerra minam o abandono no Centros
  • Mãe apenas se apercebeu que seu bebé morreu nas costas quando a virou para amamentar
  • Organizações humanitárias não actuam nas zonas de guerra por falta de garantias de segurança
  • Em Mocímboa da Praia, algumas residências ainda não foram devolvidas aos legítimos donos
  • Casas de civis estão ocupadas por militares ruandeses e o Governo encolhe-se no silêncio

Ndjaka António fugia dos terroristas quando o bebé de colo perdeu a vida por desidratação. Não sabe por quanto tempo carregou o cadáver nas costas e enquanto procura recuperar do trauma da perda, hoje luta pela sobrevivência no maior Centro de Acolhimento de Metuge. Sérgio Mário, de apenas 24 anos, é órfão de pai desde 2020, quando os terroristas entraram em Mocímboa da Praia e decapitaram seu pai a sua frente, sem que pudesse fazer nada. Desde então é o novo chefe da família. Já, Lúcia Mbamzi ficou viúva quando o seu marido foi surpreendido pelos terroristas, ela retornou mais ainda não tem casa própria. A que tinha foi incendiada pelos terroristas. Essas são apenas algumas histórias dramáticas vividas e (hoje) contadas em primeira pessoa por vítimas do terrorismo de todas as idades, que hoje fazem das tripas o coração para sobreviver. Estas vítimas constam das estatísticas da ONU que apontam para um milhão de deslocados espalhados pela província de Cabo Delgado e um pouco por todo o País. Numa altura em que o Governo tem estado a incentivar o retorno dos deslocados às suas origens, os dados sobre a população que retoma ainda não são consistentes, pois persiste ainda o receio de voltar às aldeias porque nenhuma organização de assistência humanitária está nas zonas “resgatadas” por falta de garantia de segurança e, por outro, o Governo não garante assistência mínima. Mas para quem permanece nos centros de acolhimento, a assistência foi reduzida e já houve comunicação de interrupção. Oficialmente, o Governo não interfere na vida dos deslocados, cabe a estes permanecer nos centros ou retomar aos distritos com uma relativa estabilidade. Em ambos os casos, os desafios são palpáveis.

Nelson Mucandze

Acabávamos de chegar no terminal de Metuge, na vila-sede, quando abordamos Amade. Ele voltava da cidade de Pemba onde ia comprar uma antena de televisão para um cliente. Ganha a vida reparando electrodomésticos, uma arte aprendida bem antes da eclosão do terrorismo em 2017. 

Procuramos saber onde ficava o Centro de 25 de Julho, por sinal, o maior de Metuge que acolhe a população que fugiu do terrorismo em Bilibiza, uma das aldeias de Quissanga. Era a pessoa certa, afinal estávamos perante uma das milhares de vítimas de terrorismo.

Ele estava cansado e com fome de viagem. De Metuge a Pemba são mais de 100 km. Fez duas viagens. Chegado em casa, foi levar dois biscoitos e um copo de água. É o que tinha para abrandar a fome. Naquele princípio da tarde, sua esposa Ndjaka António ainda não sabia o que ia preparar para os filhos. A preocupação do marido era outra, conseguir mais espaço para montar mais uma casa.

Reclamou à nossa reportagem que o incomoda partilhar a casa de menos de 4 metros por 3 metros, com as suas duas enteadas já “maiores de idade”. Elas estão no intervalo das 15 – 17. Mas as preocupações não param por aí. A lona que cobre a minúscula casa que acolhe os cinco membros da família se encontra cansada, clamando pela substituição. São tendas doadas pela UNICEF e que deviam ser renovadas anualmente, mas já se vão dois anos que não são renovadas.

Chegou a pensar em cobrir a casa com fundos próprios, mas o seu ofício de reparar eletrodomésticos não tem muita utilidade naquela aldeia, pois os deslocados não tem corrente elétrica, não tem eletrodomésticos e não tem dinheiro. Dependem de doações que são canalizadas a cada dois meses pelo Programa Mundial de Alimentação (PMA) e que já anunciou falta de fundos para continuar.

Até Junho de 2022, o PMA assistia aos deslocados mensalmente, mas por falta de recurso passou a prover comida a cada dois meses. Trata-se de um saco de arroz de 50 kg, 10 kilos de feijão e 4 litros de óleo.

No começo, o Centro de 25 de Junho tinha 31 mil deslocados, mas a falta de condições obrigou que mais de um terço dos deslocados abandonassem e retornassem às suas zonas de origem sem garantia de segurança.

Estes fazem agricultura em Bilibiza onde têm machambas, mas quando chega o período das doações dos kits alimentares voltam para Metuge para se beneficiar de ajuda. Quissanga, onde se localiza a aldeia de Bilibiza, apesar da tímida retoma da população, é o único distrito que continua sem administrador residente, continuando a trabalhar a partir de Metuge, o que ilustra o nível de insegurança que os deslocados se expõem ao retomar sem garantia de segurança.

Um cadáver nas costas

Fora das lutas diárias, há lembranças que os deslocados lutam para esquecer. É o caso da Ndjaka António, 35 anos de idade, mãe de três filhos. Seriam cinco filhos se não fosse o terrorismo. Ao lembrar da madrugada da fuga caem-lhe lágrimas nos olhos.

“Os terroristas entraram a tarde, deviam ser 16 horas e chegamos aqui dois dias depois da caminhada. Sai correndo com as crianças a pé e deixamos tudo para trás. Nessa fuga perdi duas crianças, a outra era bebê”, lembra, detalhando que perdeu a menor por “falta de água”.

De acordo com a Ndjaka a mais nova perdeu a vida quando a mãe corria durante a perseguição terrorista. Ela não sabe explicar o que terá acontecido, apenas se apercebeu quando queria amamentar que a criança que trazia nas costas tinha perdido a vida. Veio-lhe o pranto, os gritos e uma dor profunda, mas tinha que seguir em frente.

“Já enterramos três pessoas de forma rápida para não correr o risco de ser encontrado pelos terroristas. A única criança menor que vês (aponta para o nosso repórter ver), tivemos aqui no Centro”, narra, ao lado marido.

Centro de Acolhimento de 25 de Junho

Já no Centro, ela lamenta a falta de ajuda. “Eu prefiro voltar para onde eu estava, porque aqui não tenho terreno e nem machamba para praticar agricultura. Então não vejo razão de continuar aqui”, reclama.

Ao redor, a nossa reportagem testemunhou as condições precárias. As lonas doadas pela UNICEF para cobertura das casas improvisadas já não impedem a entrada de chuva para o interior da casa. Na alimentação quem tem ajudado é a PMA, que desde finais do ano passado (2022) reduziu as doações mensais para bimensais alegando falta de fundo. Houve relatos de casos de desvio de doações. Não há por ali marcas do Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD). Além do Centro de 25 de Junho, Metuge tem mais 19 Campos de Reassentamento para deslocados.

Abdul Arlindo, chefe do Centro de Acolhimento de Bilibiza, desabafa que o seu sonho é ver a guerra terminada, mas infelizmente nem a informação da sua evolução tem.

“Não temos informação oficial da administração ou do Governo, nós estamos a tentar retornar as nossas aldeias sem saber se a guerra já acabou ou não”, reclama.

Ele diz que vivem sem programa e que não mudou nada desde que foram colhidos naquele Centro. “Estamos a espera que o governo nos diga vão para casa, a guerra já diminuiu. Onde estávamos, cada pessoa tem seu terreno, aqui não temos terrenos. Os que estão a voltar é por falta de condições aqui”, desabafa Arlindo.

“Não há liberdade longe da Vila”, Sama Assumane, líder religioso de Mocímboa da Praia

A nossa reportagem seguiu numa viagem inédita para Mocímboa da Praia, onde oficialmente estão criadas as condições para o retorno das comunidades. Dois anos depois do resgate, o desafio se mantém e os esforços colectivos tentam recuperar o tempo perdido.

Os que retornaram se conformam com as restrições e tentam reerguer suas casas, suas vidas com cicatrizes das acções jihadistas e a incerteza de novos ataques. A vila sede de Mocímboa da Praia foi resgatada dos terroristas em meados de 2021, começou a ser ocupada pelos civis no ano passado (2022), depois de uma de reposição de serviços mínimos e sob forte ocupação dos militares ruandeses e Forças de Defesa e Segurança (FDS).

Sama Assumane, líder religioso do distrito de Mocímboa da Praia, teria abandonado a sua família, mas os terroristas tinham os líderes locais como alvo. Ele voltou a Mocímboa da Praia no ano passado e reconstruiu, dos escombros, o único alojamento que existe na vila sede de Mocímboa da Praia.

“A população está a vir para Mocímboa da Praia, fazem as suas actividades de agricultura e pesca, apesar de não existir a liberdade de ir longe, ou seja, sair da área”, explica em conversa com Evidências. O perímetro de maior segurança compreende o interior da Vila onde desfilam militares ruandeses com seu equipamento bélico sofisticado.

De acordo com Sama, a vila sede está tranquila apesar de saber que essa esperança “não é 100%. Aqui estamos seguros. O meu apelo é que os nossos filhos, sobrinhos e amigos que estão no mato, voltem, pois, o lugar do homem é na cidade e não no mato. O mato é lugar para os animais”.

Adiante reclama a falta de Banco (para levantar dinheiro) em Mocímboa da praia. Explica que é difícil sair de Mocímboa da Praia para Mueda (mais de 100 Km) e ir levantar 1000 MT, sendo que o dinheiro de transporte por viagem até Mueda são 300 MT. Ao todo, são 600 MT só de viagem.

Sama tem outra convicção sobre as origens da guerra. Ele afirma que não são os filhos de Mocímboa da Praia que começaram com os ataques.

“Vieram pessoas de longe (Tanzânia) para atacar, trouxeram dinheiro como isca e aliciaram os filhos de Mocímboa da Praia”, afirma, assegurando que “essa guerra em Cabo Delgado não é nossa, todos os jovens dos distritos em alusão, foram recrutados e esforçados a entrar no esquema, embora há quem foi por livre vontade. Essa guerra não tem nada a ver com religião, como algumas pessoas acreditam”.

Afirma que voltou porque a vila sede está militarizado. “Fiquei um pouquinho assustado, porque os militares andam sempre com arma de um lado para o outro. Tem esses irmãos ruandeses, tem nossos militares, tem polícia e carros blindados que circulam na vila, isso transmite segurança”, diz, descrevendo que quando voltou o lugar estava cheio de mato, tinha muitas cobras. Mas agora está tudo estável.

Sama não está só. Como ele está a Lúcia Mbamzi que mais do que empreendimento, perdeu marido, casa, mas não a vontade de reconstruir.

Ela conta que seu marido foi degolado pelos terroristas em 2021, ele era camionista, natural de Mocímboa da Praia. E porque não pode viver da dor do passado, ela olha para frente e diz que está “satisfeita por ter voltado para sua terra natal. Sai de Mocímboa da Praia em 2020 correndo com a família. Voltei para Mocímboa da Praia no dia 04 de Outubro do ano passado”.

Quando chegou encontrou sua casa destruída e ainda não conseguiu reconstruir. Ela disse a nossa reportagem que vivia em casa do primo. O sonho que carrega é de desta vez encontrar a paz que tanto precisa.

“Já imaginou um idoso sem teto? Uma criança órfã sem família? Cabo delgado pode não ser Europa, mas sim faz parte de Moçambique”, revindica  Mbamzi.

Sérgio Mário, um jovem de 24 anos, a semelhança dos demais, esteve em Pemba, no intervalo dos últimos dois anos. Conta que seu pai morreu tentando escapar dos terroristas, quando tentava fugir de barco que rumava a Pemba.

O jovem reclama a falta de melhores condições, mas celebra o facto de estar em casa. “Boas coisas não estamos a ver, mas pelo menos estou a dormir na minha casa e com minha família”, afirma, para depois rematar “nós queremos que outras pessoas que saíram daqui voltem para reconstruir a nossa terra”, apela.

Falta garantias de segurança para organizações de assistência humanitária

Em Mocímboa da Praia, Palma (totalmente renascida) e Macomia é notável a retoma, o que sugere que a população deslocada de guerra tende a voltar para as suas zonas de origem pesa embora não tenha havido uma instrução oficial da parte do Governo a dizer que as condições no campo já estão criadas para as famílias voltarem.

“O que sei é que foi comunicado o retorno do pessoal da Administração Pública”, lembra Manuel José Nota – director da Cáritas Diocesana de Pemba, Cabo Delgado.

Para Mocímboa da Praia, Nota explica que como organização foram informados pelo Governo Local que tinham muitas famílias com problemas de falta de meios para a prática da agricultura e problema principal que estava a se enfrentar naquele momento era a fome.

“E não tem assistência humanitária nessas zonas de guerra (com excepção de Palma). São poucas organizações humanitárias que se prontificam a ir para Mocímboa da Praia neste momento. Nós já fomos convidados para ver se podíamos implementar algumas actividades para recuperação das famílias porque foram quase dois anos que Mocímboa da Praia esteve deserto, sem população, de certeza que as casas que as pessoas deixaram já não estão do mesmo jeito, então precisam de reconstruir, precisam de material para poder praticar a agricultura, muitos viviam na base da pesca e precisa-se de material de pesca que é para ver se as famílias retomam a sua vida normal”, retrata Nota.

Ele destaca que os que ficaram nos centros de reassentamento são aqueles que sentiram na pele o efeito da guerra, são famílias que tiveram a oportunidade de ver um seu ente querido a ser assassinado.

Caritas diz ter conversado com algumas pessoas nos Centros para saber porquê não imitaram os outros que estão a voltar. “Disseram que para eles ainda é cedo pensar em voltar porque o que viveram não dá para voltar a viver num curto espaço de tempo, então essa é a nossa maneira de olhar os porquês de ter muita gente a voltar; essa gente não viveu na pele”, sentencia.

Há falta de organizações de assistência humanitária em quase todos os distritos que tem focos de ataques militares. Apenas no distrito de Palma é que se pode falar de presença de organizações humanitárias.

Cáritas também diz que foi convidada a estar presente em Palma, mas ainda está em estudo para ver até que ponto a segurança do seu pessoal está garantida uma vez que não é seguro para o seu pessoal depender de coluna em escola militar. “É muito arriscado”, diz Nota.

Muitas organizações humanitárias querem estar próximas da cidade. “Por muito tempo nós trabalhamos em Metuge então quando vimos que havia muitas organizações a atender as mesmas pessoas achamos bem ir para um pouco mais longe onde os outros não querem ir, então, agora estamos a trabalhar em Montepuez, em Balama e estamos a trabalhar em Mecufi onde também apesar de estar perto as organizações humanitárias não vão para lá, o porquê não sei. Procuramos saber e eles dizem que não têm cobertura para aquela área”, explica.

Numa outra abordagem, Nota olha para o INGD como aquele órgão que actua em questões emergenciais e depois não se faz mais presente.

Governo não interfere na escolha de retorno dos deslocados

O administrador de Mocímboa da Praia,Sérgio Domingos Cipriano, explicou a nossa reportagem que a retoma tem sido gradual. Destacou os serviços de saúde, de educação e outros sociais, reconhecendo, no entanto, as limitações financeiras do governo local.

“O regresso às zonas de origem é voluntário, o governo não chama ninguém, o cidadão moçambicano está livre de ir onde ele quer”, afirmou quando abordado sobre as garantias dadas às vítimas de guerra para voltarem as suas casas.

“Então nós não chamamos a ninguém, o governo não assume isso. É mesmo voluntário. O cidadão aparece e nós acolhemos e registamos. Dizemos a ele para fazer a sua machamba, se é pescador, então organiza-se para pescar nesse sentido”, sublinha.

As marcas de destruição em Mocímboa da Praia continuam nítidas dois anos depois do governo reassumir o controlo de Mocímboa da Praia. Quase todos os serviços locais não estão a funcionar nos lugares habituais porque a marca de destruição está patente e a reconstrução continua uma incógnita. A própria administração local funciona numa espécie de contentor. O município quase que não existe. O hospital em tendas improvisadas e a polícia num espaço aberto, com mais marcas terroristas.

O administrador explica que a reconstrução não é de um dia para outro, mas já está a acontecer.

“Essas infraestruturas que mencionou estão no plano de intervenção. Já tem as empresas que vão tomar conta disso. Estão ali a funcionar e vão ser reabilitados”, argumenta o administrador.

Ele refere que para a administração, “talvez futuramente haverá alguma intervenção, entretanto não será para já. As outras sim, há um plano para já, fomos anunciados que brevemente haverá uma intervenção”.

Adiante, Domingos Cipriano reclama a limitação de recursos, afirmando que a irá esperar porque os recursos são escassos. Não vai acontecer em simultâneo, mas à medida em que os recursos serão adquiridos, haverá essa intervenção e haverá reconstrução.

“Não é só através do Estado ou outros parceiros, também os particulares estão a reerguer. Da próxima vez que vier notara uma diferença, não é com muita força, mas já estamos a notar melhorias”.

Ruanda apodera-se de residências compulsivamente?

No interior de Mocímboa da Praia, no bairro de cimento, na zona do quartel ruandesa, há uma dezena de casas que foram ocupadas pelo exército ruandês logo depois a reconquista da cidade. Sucede, no entanto, que as mesmas são propriedade privada, cujos donos não foram informados nem da ocupação e nem do tempo que a mesma ocupação deverá durar, estando, no momento, impedidos de frequentar as próprias casas.

Um dos proprietários da casa, explicou à nossa reportagem que quando chegou em Mocímboa da Praia, no dia 05 de Agosto, do ano passado (2022), porque já tinha ouvido que a casa estava ocupada pelos militares ruandeses, não se dirigiu a sua residência.

“Fui diretamente com a família para casa onde há uma ruína do meu irmão, fizemos limpeza e nos agregamos ali. Dias depois, comecei a procurar formas de como chegar à casa. Não tive informação e fui falar com o comandante da polícia, por sinal estava um senhor que diziam que era o coordenador da Força Moçambique e Ruanda e falei com ele”, explica um dos proprietários que pediu anonimato.

Procurou saber de coordenador de Moçambique e Ruanda como devia proceder para visitar a sua residência ocupada pelo exército ruandês. Foi encaminhado para uma outra estância ruandesa onde foi preciso esperar dois dias para fazer contacto com os superiores e obter a autorização para ir visitar a casa.

Na visita, testemunhou o aspecto desagradável que se encontra a sua residência. E pediu a autorização para fazer uma intervenção básica afim de que a mesma não se degradasse, mas não foi autorizado.

Mais de 10 pessoas com residência próximo quartel tem até hoje as suas residências ocupadas pelo exército ruandês. São casas bem concebidas, afinal, é bairro de cimento.

“A casa sofreu pela maneira como está a ser usada. Corta o coração ver uma propriedade minha daquela maneira. Apanhei um tubo que sai da casa de banho para a fossa partido e pedi para me autorizarem para repará-lo não aceitaram. Tenho esse material lá em casa, posso mandar alguém partir e substituir esse tubo já que está partido por cima, tamparam com uma tampa e via-se fezes, só para criar condições para eles ficarem bem, depois o que dói mais é o silêncio das nossas estruturas”, desabafa.

O administrador quando abordado teria se limitado em afirmar que ia levar a preocupação para os responsáveis. E manteve a promessa de que tinha que ter paciência que iam devolver a casa.

 “Levei quase 20 anos, agora para reconstruir com os preços e materiais mais caros como vai ser? Eu sou dali, mas acabo procurando um lugar para ficar. Há falta de comunicação, tudo é na base de ditadura militar, mas aqueles bens são privados, não são do Estado”, desabafa.

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