Caifadine colocado em Banho-Maria e eleições distritais saem sem resolução do CC

DESTAQUE POLÍTICA
  • Em mais um Comité Central de arregimentação do silêncio em torno do Grande Líder
  • Assunto Caifadine ainda não chegou ao CC, mas segue seus trâmites após sua contestação
  • Problemas estruturantes do partido não foram discutidos. Camaradas temem ser conotados
  • Processo contra Castigo Langa arquivado, mas alguns camaradas nem sabiam que existe

Caiu, no passado sábado, o pano da II Sessão Ordinária do Comité Central da Frelimo, que, em dois dias, serviu para arregimentar o silêncio. Como tal, os problemas mais estruturantes da Frelimo neste momento, incluindo a proposta de adiamento das eleições distritais, que não colhe consenso entre os camaradas, não teve qualquer resolução, apesar de ter sido levantado por alguns membros. Mas quem respirou de alívio foi o antigo porta-voz da Frelimo, Caifadine Manasse, que viu adiada a “sentença” sobre a sua continuidade ou não no órgão depois de ter sido afastado pelo comité provincial. Evidências apurou que, após a decisão, apresentou uma contestação a nível da Zambézia, o que atrasou o envio do processo ao Comité de Verificação do Comité Central, que irá arguir sobre o caso em última instância.

Evidências

Desde que Castigo Langa foi combatido com grande garra por ter ousado questionar a liderança sobre o tão propalado terceiro mandato, há cada vez menos abertura de debate interno no partido no poder e com sinais de arregimentação do silêncio em torno de assuntos que constrangem a liderança máxima do partido.

Com efeito, o último Comité Central foi marcado por um debate fraco, tendo passado à margem dos principais assuntos candentes da sociedade e do partido. Entre os assuntos ignorados destaca-se a não discussão da proposta de adiamento das eleições distritais, que está avançar sem ter sido objecto de debate interno e o pouco debate sobre uma inusitada orientação para que os cabeças de lista das 63 autarquias passem a ser indicadas a dedo pelo Presidente do Partido e não eleitos na base como acontece actualmente.

Segundo Evidências apurou, os dois assuntos não faziam parte da agenda dos trabalhos, contudo foram apresentados por alguns camaradas na esperança de que fossem objecto de debate mais amplo para que saia uma decisão do partido mais abrangente.

O assunto sobre as eleições distritais foi levantado por um influente camarada, defendendo um debate mais alargado sobre o mesmo e dissipar algumas dúvidas que ainda pairam sobre as intenções de alguns grupos. No entanto, o assunto foi ignorado, numa altura em que já há um avanço do ponto de vista legislativo da bancada parlamentar da Frelimo, com vista ao adiamento das eleições distritais. Aliás, o debate deste assunto consta do rol das actividades agendadas na Assembleia da República, prevendo-se algumas mexidas na legislação relativas a marcação das datas das eleições gerais.

Embora estivesse agendada a discussão sobre o desempenho das autarquias sob gestão da Frelimo, no âmbito da preparação das eleições que se avizinham, foi recusada aos membros a possibilidade de discussão sobre o perfil dos candidatos. O assunto chegou a ser levantado, mas seguiu numa direcção oposta.

Era do interesse de alguns membros compreender uma nova orientação que existe no sentido dos candidatos presidentes das autarquias passarem a serem escrutinados directamente pela Comissão Política e em última instância pelo Presidente do partido. Este último ponto inquieta alguns camaradas, mas não tiveram força para impor a discussão.

Igualmente, passou a margem do Comité Central o caso Caifadine Manasse que, segundo o Evidências apurou, ainda não transitou para o Comité Central em virtude do visado ter submetido uma contestação junto do Comité Provincial da Zambézia, aguardando ainda o desfecho por parte órgão.

Alguns camaradas tentaram levantar o caso. José Chichava questionou o facto de um órgão inferior, neste caso o Comité Provincial, ter tomado a decisão de afastar um membro do Comité Central, mas foi  informado que o processo está a seguir seus trâmites normais.

Processo contra Castigo Langa arquivado, mas alguns camaradas nem sabiam que existe

No decurso do Comité Central, o Comité de Verificação comunicou aos membros sobre o arquivamento do caso de Castigo Langa, que foi processado por ter ousado a questionar Filipe Nyusi sobre a propalada intenção de um terceiro mandato. Não só não teve a resposta do Presidente do partido como enfrentou, nos dias a seguir, a ira dos grupos de choque.

A notícia sobre o arquivamento do caso pegou de surpresa alguns camaradas a exemplo de Teodoro Waty que se mostrou estupefacto a ponto de perguntar “o que ele fez” para ter o referido processo. Mas de topo veio a explicação de que ele teve uma repressão simples depois de ter levantado numa das sessões do Comité Central pontos que estavam fora da agenda.

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