TotalEnergies só vai regressar à Cabo Delgado em 2024 e a produção de gás poderá arrancar em 2028

DESTAQUE POLÍTICA
  • Rystad Energy traça um cenário assombroso para o projecto Mozambique LNG
  • Globalmente, os custos do gás natural liquefeito aumentaram 25%, e este cenário pode forçar a revisão dos contratos.

O relatório de Jean-Christophe Rufin, personalidade reconhecida pela sua experiência nas áreas de acção humanitária e de direitos humanos a quem o CEO da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, confiou a missão independente de avaliar a situação humanitária na província de Cabo Delgado, abriu uma janela de esperança sobre um possível regresso da TotalEnergies à Moçambique ainda no decurso do corrente ano. No entanto, o analista da consultora Rystad Energy, Pranav Joshi, aponta que a multinacional só vai retomar as operações em Afungi em 2024, sendo que o início da produção, que inicialmente estava previsto para 2027, só deverá iniciar em 2028.

Duarte Sitoe

Numa altura em que o Governo e os moçambicanos anseiam pelo regresso da TotalEnergies, que prometeu voltar a Cabo Delgado assim que fosse acautelada as condições de segurança, Jean-Christophe Rufin, através do seu relatório independente, concluiu que a situação de segurança em Cabo Delgado evoluiu positivamente em 2022, abrindo assim uma janela de esperança para o regresso da multinacional francesa ainda no corrente ano.

Para além de recomendar uma revisão do quadro de relações entre a Mozambique LNG e as Forças de Defesa moçambicanas à luz desta melhoria das condições, tendo já iniciado o diálogo com as autoridades moçambicanas para o efeito, Rufin aconselhou a TotalEnergies e os seus parceiros à criar um plano de acção para melhorar as condições de vida das populações abrangidas pelo projecto e pelo terrorismo na província de Cabo Delgado. Para o efeito, o consórcio estabeleceu uma Fundação Provincial denominada “Pamoja Tunaweza” (“Juntos Podemos”, em Kiswahi).

O relatório de Jean-Christophe Rufin abriu portas para um possível regresso da TotalEnergies à Moçambique no último trimestre de 2023. Contudo, o analista da consultora Rystad Energy, Pranav Joshi, mostra-se convicto ao afirmar que ainda não será este ano que serão retomadas as obras do projecto que é considerado o maior investimento estrangeiro da história do continente africano.

“As coisas podem complicar-se, já que os contratos podem precisar de ser renegociados e os novos acordos podem incluir o impacto da inflação, o que pode levar ao atraso o levantamento da ‘force majeure’ para o próximo ano; assim estimamos que o projecto só comece em 2028”, disse o analista Joshi citado pela Lusa para depois referir que a multinacional francesa está limar as arestas no âmbito das recomendações do relatório de Rufin.

“A TotalEnergies parece estar a trabalhar nos bastidores para garantir um levantamento suave da ‘force majeure’ e estavam a apontar para o final do ano, tendo publicado recentemente um relatório assinado pelo perito em direitos humanos Jean-Christophe Rufin, que apresentava muitas recomendações, incluindo a constituição de um orçamento socioeconómico multi-anual de 200 milhões de dólares”.

Pranav Joshi observa, por outro lado, que a TotalEnergies poderá negociar os contratos com os fornecedores de bens e serviços, visto que houve aumento dos custos e subida de inflação em Moçambique assim como no mercado internacional.

“Globalmente os custos do gás natural liquefeito aumentaram 25%; no entanto, baseado no âmbito e no modelo de execução, o valor varia de projecto para projecto, tipicamente entre 15 a 30%. Se a TotalEnergies não mudou o conceito do projecto, estarão expostos ao mesmo nível de aumento dos custos da inflação, tal como os outros”, refere o analista.

Refira-se que na sequência do ataque dos insurgentes no dia 24 de Março de 2021, nas proximidades das suas instalações em Afungi, a TotalEnergies retirou todo pessoal, tendo acionado a cláusula da força maior para justificar a sua posição junto da contraparte moçambicana, nos credores e fornecedores.

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