Ilha Xefina corre risco de desaparecer

SOCIEDADE
  • Por causa da acção da natureza e do homem

Devido às mudanças climática e a acção do homem, sobretudo a devastação do mangal, a Ilha das Xefinas, localizada a 15 minutos da cidade de Maputo, e que é bastante estratégica sob ponto de vista ambiental e defesa contra qualquer tentativa de invasão inimiga pelo mar, está em risco de desaparecer por causa da subida do nível do mar e a erosão que já consumiram cerca de 200 metros da orla da ilha só nas últimas duas décadas.

 

Sem uma acção concreta capaz de deter o avanço do mar, a Ilha das Xefinas, que no tempo colonial já serviu como uma espécie de fortaleza para protecção da cidade de Maputo, corre o risco de desaparecer devido ao gradual aumento do nível do mar causado pelas mudanças climáticas.

 

Numa visita recente a Xefinas, Evidências constatou que a ilha, que é lar de cerca de 45 habitantes, maior parte dos quais pescadores ou famílias de militares que durante anos estiveram escalados no quartel já praticamente desmantelado, têm estado a perder área de uma forma acelerada como prenúncio das mudanças climáticas.

 

A parte que até a alguns anos compunha a orla da ilha está, neste momento, submersa e especialistas estimam que o mar teve um avanço de pelo menos 200 metros sobre a área da ilha nos últimos anos, fazendo com que algumas edificações que estavam na parte seca hoje estejam totalmente submersas.

 

O exemplo concreto são as casernas e os canhões anti-navios que antes situavam-se a 100 metros da linha do mar, que hoje estão totalmente submersos. Há zonas que a água passa da altura do pescoço em um local que anos atrás era terreno seco.

 

“A ilha tem estado a perder área. Eu vivo há 25 anos aqui na Ilha. Cheguei aqui para pescar, me estabeleci e assisti a transformação da mesma. Como podem ver, cerca de 200 metros para o interior do que hoje é a extensão do oceano era uma grande mata, mas por causa da acção da erosão e a subida do mar, a ilha foi ficando mais pequena”, revelou Artur Sitoe, chefe da ilha, que curiosamente é considerada quarteirão 28, pertencente ao Bairro Costa do Sol.

 

“A Ilha Xefina é muito importante naquilo que é o património cultural. Esta ilha era usada como um quartel para questões de segurança territorial e marítima, mas ao longo do tempo foi ficando desta maneira como se encontra”, sublinhou Orlando Zandamela, chefe do departamento municipal de assistência aos bairros do distrito Municipal Ka-Mavota.

 

Para além de áreas já completamente inundadas, há também novos espaços (já no interior) que ficam alagados durante períodos de maré alta.  

 

A situação causou intrusão salina na ilha, misturando-se com água dos poços e prejudicando a fertilidade dos solos. Por essa razão, os ilhéus enfrentam escassez de água potável, pois para além de ser salobra, a água é turva e imprópria para o consumo humano. Mesmo assim, os moradores daquela ilha bebem e usam aquela água para outras necessidades domésticas.

 

“Aqui não há água. Os poços estão contaminados, por isso a água que sai é bastante turva. Só bebermos por falta de opção. É tão turva que para bebermos precisamos de coar mais de uma vez”, disse Sónia Mulungo.

 

Somente quando tem a possibilidade de atravessar ao continente é que os ilhéus conseguem trazer água potável para o seu consumo, mas para que dure mais tempo são obrigados a racionalizar.

 

“Eu cheguei hoje do continente e trouxe comigo dois bidões de água potável, mas não fazem muita diferença porque duram somente dois dias no máximo e depois voltamos a consumir a água turva”, revelou uma outra moradora da Ilha, que foi abordada quando acabava de chegar para abastecer os sogros com água para beber.

 

Refira-se que para além do problema de água, o ilhéu não tem hospital, nem escola. Por essa razão, a maior parte dos que vivem na ilha são adultos e crianças de colo, pois as crianças em idade escolar são enviadas para o continente para poderem estudar. Para terem acesso aos cuidados médicos só no continente, e recorrem a “boleias” de barcos turísticos ou de pescadores, nem sempre oferecendo condições de segurança.

 

Club Moza repõe vegetação para reforçar defesa contra a erosão

Para enfrentar a ameaça da erosão e das mudanças climáticas, o Clube Moza plantou centenas de mudas de mangal e casuarinas ao longo da zona costeira, com vista a restaurar o ecossistema, evitar erosão e contribuir para a protecção do ambiente.

 

A acção contou com a participação de dezenas de colaboradores do Moza, voluntários do Clube Naval, dirigentes e ambientalistas renomados da praça.

 

“Viemos aqui plantar árvores, mas também mostrar aos nossos membros o que se passa aqui. A situação é crítica conforme podemos ver todos. Portanto, é urgente medidas para resolver esta situação”, referiu Inácio Fernando, presidente do Club Moza.

 

Ambientalistas presentes no evento não deixaram de alertar sobre a necessidade de se prestar mais atenção ao ambiente para prevenção dos eventos extremos.

 

“Como estamos a ver, a degradação da costa aqui na ilha de Xefina é algo que tem que nos  preocupar. Isto é uma barreira protectora natural para quem vive na zona da Costa do Sol e para toda a baía. Por isso, temos que tentar diminuir o nível de erosão que tem estado a ter. Isto é um assunto sério. É preciso tomarmos consciência de que a acção de cada um pode melhorar e reduzir o impacto de fenómenos climáticos”, sublinhou um ambientalista do Moza presente no evento.

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