A reposição de uma história como nunca ninguém contou

CULTURA
  • ‘Aqueles Dias da Rádio’ regressa ao palco

Uma história. Um palco. Um festival de emoções. A narrativa que atravessa as margens do tempo e conta as peripécias de uma rádio que (des)construiu momentos e ajudou a eternizar vivências regressa no próximo dia 22, em Maputo.

Chama-se ‘Aqueles Dias da Rádio’, evento que sob direcção de Zé Pires cruzou música, teatro e dança no Centro Cultural Moçambique-China, em Novembro, e, a pedido do público, será reposto (quase) um mês depois.

Vozes como a de Chico António, Wazimbo, Otis, Pedro Ben, Fernando Luís, Onésia Muholove e Pauleta Muholove coroaram a primeira edição. E nesta nova aventura juntam-se artistas como Mingas, António Marcos e José Mucavele.

Os rostos mais conhecidos do teatro também têm lugar nesta ‘festa da rádio’. Não se pode falar do teatro moçambicano sem se mencionar Adelino Branquinho, Mário Mabjaia, Eliote Alex, Horácio Guiamba e Isabel Jorge. Pois é. Estes e outros actores ajudam a contar como foram ‘aqueles dias da rádio’, recorrendo a uma linguagem cuidada e pedagógica, mesmo com um tom cómico, num esforço elogiável de partilha com as novas gerações qual foi o trajecto da Rádio Moçambique no país.

O concerto resgata memórias e saúda os grandes feitos da Rádio Moçambique como um instrumento crucial para construção da identidade moçambicana, através de entrevistas, reportagens e programas que promovam realizações genuinamente moçambicanas e que contribuam para a reflexão identitária do país.

Para esta criação, Zé Pires diz que foi preponderante estudar a história, procurar as bases e transferir essa história para o palco e transformá-la em arte. Para o músico, um trabalho desta magnitude não seria possível sem uma equipa formada por técnicos, artistas, entre outros.

“É o realizar de um sonho, porque eu cresci naquele meio – a ver o Fany Mpfumo, Alexandre Langa, o Makhelwane – e, depois, cresci vendo, por exemplo, o Stewart”; portanto, “é uma grande conquista”.

E nós somos testemunhas de como cada personagem fluiu durante umas intensas três horas, onde o casamento entre o som e a luz, entre a música e o teatro aqueceram a sala cheia, quase a transbordar de emoção.

Para Mário Mabjaia, um dos principais personagens da história, participar de um musical sobre uma rádio que nos ajudou a fazer revolução e que nos acompanha em todos os momentos é muito especial.

Desde os 12 anos como músico, Ótis é fruto de uma escola de música, mas foi na Rádio Moçambique que se formou como músico profissional, antes de rumar a Portugal, onde está radicado até hoje. De acordo com o saxofonista, foi um prazer participar do evento, e divertiu-se bastante, e aprecia positivamente a iniciativa.

Para Chico António, também parte deste musical, voltar ao passado significa revistar as suas origens: “Eu entrei lá (na rádio) em 1983 e encontrei grandes artistas como Alexandre Langa, Zé Mucavel, Zé Guimarães, Pedro Ben, Wazimbo, Otis, Sox, Milagre Langa e o Zevo, e fiquei lá 10 anos com um grupo seleccionado a dedo. Durante estes anos, aprendi a estar no palco, bem como a compor uma música, e, para mim, a Rádio Moçambique significa uma universidade, tal como aqui onde estamos, na UEM”, partilha.

Para a ministra da Cultura e Turismo, este espectáculo foi uma breve viagem às nossas origens, e hoje vivemos essas memórias, dançamos e cantamos os nossos velhos tempos, e por isso “não estaria mais do que feliz”, confessa.

Eldevina Materula não tem dúvida que este concerto é mais uma oportunidade para educar e formar novos públicos sobre a nossa história, é por isso que, em concordância com o MPDC, se decidiu replicar este concerto.

Numa parceria entre a Rádio de Moçambique e MPDC, pretende-se, acima de tudo, que se resgate a importância que a rádio teve na alteração comportamental da nossa sociedade durante vários anos. É um musical que faz uma visita (entre a realidade e a ficção) à história da rádio em Moçambique, desde os seus primórdios, e eleva os momentos, as pessoas e principalmente o impacto que esta (rádio) tinha como instrumento de socialização, agregação de valores, de fixação da cultura e do conhecimento.

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