- Falta de caracterização de viaturas cria oportunismo
- Utentes denunciam casos de tentativa de violação e assaltos perpetrados por motoristas
- Yango diz que prestou apoio para as vítimas e disponibiliza-se para cooperar com as autoridades
- ATAXCIMA defende que todos taxis devem ser identificados para
Os taxis por aplicativo revolucionaram o sector dos transportes na capital moçambicana, Maputo, uma vez que para além da comodidade trouxeram preços apetecíveis. No entanto, nos últimos meses, os utentes que procuram estes serviços estão decepcionados com alguns provedores destes serviços. A título de exemplo, os utentes da Yango, um aplicativo que revolucionou o mercado, denunciam casos de assédio sexual, burlas e assaltos. Em relação aos últimos acontecimentos, a Yango reconhece que houve incidentes que não dignificam o seu nome, tendo referido que entrou em contacto com as vítimas para oferecer apoio. Enquanto a Polícia da República de Moçambique (PRM) promete pronunciar-se oportunamente sobre o assunto, a Associação dos Taxistas da Cidade de Maputo (ATAXCIMA) mostrou-se preocupada com a situação e adverte que os taxis por aplicativo devem ser identificados para melhor organizar a actividade.
Duarte Sitoe
Na última década, face à explosão demográfica, os munícipes da cidade Maputo e Matola têm vindo a enfrentar dificuldades para o cumprimento das suas várias actividades nas primeiras horas do dia e nas horas de ponta devido ao problema de transporte.
O crônico problema dos transportes abriu espaço para o empreendedorismo. Muitos foram os que decidiram abraçar o taxi por aplicativo, o que de alguma forma abriu espaço para uma rixa com os que vinham desempenhando a actividade com o licenciamento do Conselho Municipal de Maputo, assim como o da Matola.
Os taxis por aplicativo ganharam adeptos devido a comodidade e, sobretudo, pelos preços aplicados. Entretanto, nos últimos meses, os mesmos escondem um perigo devido ao modus operandi de alguns motoristas oportunistas.
Marta Magaia, de 29 anos de idade, apostou na plataforma digital para empresas e operadores de transporte que visa facilitar o transporte seguro para o cidadão, ou seja, a Yango, para voltar à casa depois de um convívio com os amigos, mas ao longo do caminho foi assediada pelo motorista.
“Desde aquele dia prefiro andar de transporte público de passageiros porque acredito que seja mais seguro em relação aos taxis por aplicativo. Estava na Liberdade, num convívio com amigos, e na hora de regressar, por ser tarde, solicitei um taxi por aplicativo, mas para o meu azar quase era violada sexualmente. No meio do caminho o motorista começou com conversas estranhas e quando chegamos no bairro do Fomento entrou numa rua alegando que pretendia arranjar o carro, porém não era nada disso. Do nada disse que gostou de mim e que queria manter relações sexuais comigo, não aceitei. Ele tentou me forçar, mas fui mais forte, gritei e apareceram pessoas para ajudar. Depois disso, colocou-se em fuga. Infelizmente, não fiz nenhuma participação na esquadra mais próxima”, contou a vítima.
Há cobranças ilegais
Lourenço Cossa solicitou o taxi por aplicativo com o objectivo de levar a esposa para o hospital, mas pagou mil meticais numa viagem que o aplicativo indicava que custava 270 meticais.
Segundo Cossa, o motorista alegou que não tinha dinheiro trocado e que enviaria os trocos através da carteira móvel, mas, debalde, de lá a esta parte nunca mais viu a cor do dinheiro, e para variar o motorista anda com o telemóvel desligado.
“Há muitos burladores que se fazem de motoristas da Yango para roubar. Infelizmente, já fui vítima. Solicitei o taxi porque queria levar a minha esposa ao Hospital Central porque ela não se sentia bem. O aplicativo indicou que a viagem custava 270 meticais. Quando cheguei ao destino paguei com uma nota de mil meticais, mas o motorista alegou que não tinha trocos e porque era madrugada não era fácil procurar trocos, o motorista disse que ia enviar o valor remanescente através da carteira móvel. Entretanto, estranhamente não enviou o valor e dias depois andou com o telemóvel desligado, e isso significa que paguei mil meticais para uma viagem de 270 meticais”, contou Cossa.
Quem também faz parte do rol das vítimas dos criminosos que se escondem na capa de motoristas da Yango para protagonizar assaltos é Lucrécia Neves, uma vez que ficou sem os pertences depois de ter solicitado o taxi para se fazer a uma festa.
A sobrevivente lembra nostalgicamente do dia que cruzou o caminho de um motorista que se identificou pelo nome de Freddy.
“Passavam das 21h quando solicitei o taxi por aplicativo para me levar a uma das casas de pastos da Cidade de Maputo. No meio do caminho o motorista pediu para levar um passageiro que ia ao meu local, não me opus a ideia, mas não sabia que se tratava de uma quadrilha, porque quando chegaram a uma rua tiraram uma faca e pediram para entregar todos meus pertences. Por temer pela vida entreguei e deram-me apenas 50 meticais para voltar à casa. Gostava do taxi por aplicativo, mas perante a actual situação prefiro o transporte público”, relatou.
Yango diz que já prestou apoio às vítimas e está disponível para cooperar com as autoridades
Mário Jossias é motorista da plataforma Yango. Numa conversa com o Evidências, Jossias reconheceu que há motoristas desonestos inscritos na plataforma, o que de certa forma coloca em xeque a actividade.
“Não podemos tapar o sol com a peneira, existem no nosso meio motoristas que não são honestos. Os nossos passageiros sempre reportam casos que não dignificam a classe. Infelizmente, todos já estamos com os nomes mergulhados na lama por culpa de atitudes de uma minoria. Ao meu ver, o provedor do sistema deve ser mais atento e não se preocupar apenas com os lucros porque é a vida das pessoas que está em jogo. Esta onda de assaltos, tentativas de violação e assédios são uma mancha para todos que desenvolvem esta actividade para fintar o desemprego. Espero que esses motoristas sejam responsabilizados pelos seus actos”.
Contactado pelo Evidências, o director-geral da Yango em Moçambique, Zameer Adam, que referiu que a missão da empresa por si dirigida é fornecer um serviço que não seja apenas seguro e fiável, mas também transparente, mostrou-se preocupado com as acusações que pesam sobre os motoristas do aplicativo, tendo revelado que já entrou em contacto com as vítimas para prestar apoio.
“Recentemente, chegaram até nós relatos nas redes sociais sobre incidentes alarmantes que envolvem os nossos passageiros e motoristas parceiros em Moçambique, pelo que queremos expressar a nossa profunda preocupação. A segurança e a confiança da nossa comunidade são os pilares sobre os quais a Yango está construída. Encaramos estas denúncias com a maior seriedade. Como tal, entrámos em contacto com os passageiros afectados e com as autoridades locais para oferecer o nosso apoio”, referiu Adam, para posteriormente acrescentar que foram criadas funcionalidades de segurança para criar um ambiente seguro para passageiros e condutores, sendo que já exortou a Polícia da República de Moçambique para investigar os incidentes.
“A nossa aplicação inclui um Centro de Segurança dedicado, acessível em todas as fases da viagem, que oferece acesso imediato ao número dos serviços de emergência e ao nosso centro de apoio. Além disso, a funcionalidade partilha de rota permite que os passageiros partilhem os detalhes da sua viagem com contactos de confiança, aumentando a tranquilidade dos passageiros e dos seus entes queridos. Como Director-Geral da Yango em Moçambique e membro empenhado da nossa comunidade, exorto a Polícia da República de Moçambique (PRM) a investigar estes incidentes, sobre os quais já informamos as autoridades locais, oferecendo a nossa total cooperação para ajudar nas investigações.
ATAXCIMA exige que as viaturas da Yango passem a ser caracterizadas
A Associação dos Taxistas da Cidade de Maputo (ATAXCIMA), através do seu porta-voz, Lucílio Bambo, mostrou-se preocupada com os últimos acontecimentos em torno da actuação dos taxis por aplicativo, tendo revelado que o órgão que regula a actividade na capital moçambicana ainda não foi oficialmente notificada sobre o assunto.
“Sempre tem se relatado sobre o mau comportamento dos motoristas. Sucede que as viaturas dos taxis por aplicativo não estão identificadas porque as viaturas por norma devem levar uma identificação verde e amarela, mas o que nos deixa preocupados é que não recebemos nenhuma queixa das pessoas que foram assaltadas. Nós como associação vamos procurar junto com as autoridades e o provedor do aplicativo onde está a razão. Acompanhamos casos de várias situações através das redes sociais e não recebemos nenhuma notificação, mas mesmo com isso não ficamos de braços cruzados. Tentamos procurar o provedor do aplicativo e questionar por que as suas actividades estão a trazer ameaças e perigo no geral, porque toda actividade está ameaçada. Devido a estas situações, as pessoas vão pensar que taxi não fornece segurança”, disse Bambo
O representante da ATAXCIMA não tem dúvidas de que o modus operandi de alguns motoristas da Yango constitui um grande perigo para actividade, daí que revelou que a sua agremiação está envidar esforços junto do Conselho Municipal da Cidade de Maputo para que os taxis aplicativos tenham identificação e os motoristas terão lições de código de conduta.
“A ATAXCIMA junto com o Conselho Municipal está a desencadear esforços com vista a identificar as viaturas. Actualmente, as viaturas que têm praças levam a pintura verde e amarela. Estamos a trabalhar para que os taxis por aplicativos sejam identificados e os motoristas terão formação sobre código de conduta, porque alguns motoristas são jovens e com cartas de condução não compatíveis porque para o serviço de taxi, pois devem ter uma carta profissional ou serviços públicos, mas a maioria dos motoristas dos taxis por aplicativos não tem estas habilitações”.
Por sua vez, a Polícia da República de Moçambique (PRM), quando contactado pelo Evidências, disse que vai se pronunciar oportunamente sobre o modus operandi de alguns motoristas da Yango.
Facebook Comments