Não está fácil encontrar um candidato consensual na Frelimo

DESTAQUE POLÍTICA
  • Adiamento da decisão da eleição do candidato em Abril já é uma realidade
  • Nyusi joga pela sobrevivência e “velhotes” buscam alguém com perfil

O partido Frelimo, que vive um dos momentos mais impopulares da sua história, está a experimentar uma das sucessões mais dramáticas desde que existe. Pela primeira vez, faltando cerca de sete meses para as eleições presidenciais, ainda não tem pré-candidatos conhecidos. Quando tudo indicava que neste Comité Central de 05 e 06 de Abril pudesse ser finalmente conhecido o candidato da Frelimo para as eleições de 09 de Outubro próximo, o partido está a ensaiar um adiamento da discussão da sucessão para uma sessão extraordinária do Comité Central que está a ser prevista para Maio do ano corrente, cerca de um mês antes da data limite de submissão de candidaturas. E o que no início parecia mera especulação acaba de ganhar cunho de verdade, com quadros seniores da Frelimo a assumirem de forma aberta que não consta da agenda do próximo Comité Central a discussão sobre a eleição do candidato presidencial.

É quase que um dado adquirido. A Frelimo poderá discutir tudo, menos a sucessão de Filipe Nyusi no próximo Comité Central. Pelo menos é essa a garantia deixada pelo secretário-geral da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLIN) e chefe da Brigada Central de Assistência à Província de Nampula, Fernando Faustino.

“Que eu saiba, nos dias 5 e 6, o Comité Central vai se reunir e já tem a sua agenda para o encontro. Do que eu sei, não consta da agenda a questão da sucessão ou candidatos presidenciais”, disse Fernando Faustino, citado pelo jornal O País, o que aumenta o nervosismo e incerteza entre os camaradas, numa altura em que mais de uma dezena de “voluntários” já deixou clara a sua intenção de se candidatarem.

Com a incerteza instalada, reina um clima de desconfiança e insegurança entre os prováveis candidatos, o que faz com que quase todos andem reservados, com poucas aparições públicas, enquanto tentam fazer lobby interno.

É a primeira vez na história da Frelimo que faltando cerca de sete meses para as eleições gerais o partido não tenha ainda indicado pelo menos seus pré-candidatos, e fala-se pelos corredores que o próprio presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, ainda não tem a situação controlada, o que tem contribuído para os sucessivos adiamentos da discussão sobre a sucessão.

Fernando Faustino entende haver ainda tempo suficiente para o partido indicar o candidato e garante que está dentro do calendário. Quer isto confirmar o que já se propalava, ainda que a porta pequena, que muito provavelmente o candidato poderá ser eleito numa sessão extraordinária do Comité Central em Maio.

“Nós estamos a seguir um calendário. A Frelimo tem de organizar para que tenhamos um candidato que vá ao encontro dos anseios da população moçambicana. Não é algo fácil. Oportunamente vamos ter um candidato da Frelimo”, referiu o também Secretário-Geral da Associação dos Combatentes de Luta de Libertação Nacional (ACCLIN), vincando que o candidato tem que ser capaz de responder às expectativas do povo.

Um estranho à vontade dos “velhotes”

Adiar tanto quanto for possível a discussão sobre a sucessão é apontado como sendo a estratégia da ala Nyusi para tentar controlar a eleição de modo a assegurar a eleição de um candidato que lhe seja leal, garantindo assim imunidade para o período depois de abandonar o poder.

A governação de Filipe Nyusi, sobretudo o último mandato, tem sido marcada pelo escândalo das dívidas ocultas, com o seu nome sendo citado de forma recorrente em processos em Maputo, Londres e Nova York. Pese embora nunca tenha sido constituído arguido, as constantes citações, aliadas ao facto de nunca ter se mostrado predisposto a esclarecer o seu envolvimento, alegando sempre imunidade diplomática, colocam sérias dúvidas sobre o seu papel no calote em que se terá beneficiado de pelo menos dois milhões em subornos, segundo alegação da Privinvest.

Mas o mais estranho nisto tudo, perante esta aparente estratégia de sobrevivência do grupo de Filipe Nyusi, é o à vontade da considerada reserva moral do partido que pode ser notada nas palavras de Fernando Faustino, o que pode ser revelador de que o grupo dos veteranos ainda tem a situação controlada.

Aliás, o general na reserva, António Hama Thai, também fez questão de enfatizar este à vontade dos veteranos, referindo que a demora na indicação do candidato da Frelimo às eleições presidenciais não pode ser vista como problemática, mas sim entendida como um processo normal para a escolha de uma figura à altura dos desafios do partido.

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