Ibrahim Traoré, Bassirou Faye e a 3ª Revolução Africana _ Parte 4

OPINIÃO

Felisberto S. Botão

Os pilares da 3ª revolução africana – Cont. 2

Lembre-se sempre que os sistemas estabelecidos, em uso no nosso dia a dia, tanto no estado, no governo, nas instituições privadas e singulares, nomeadamente o financeiro, democrático, fiscal, comercial, normalização e outros que lhe possam ocorrer, são criações do bloco ocidental, e só eles possuem o PUK, fazendo com que você, volta e meia, tenha que recorrer a eles para o desbloqueio quando enfrentas problemas. Isso permite que o bloco ocidental mantenha o controle sobre todos nós.

Daí a importância de rever a estrutura das instituições internas, que o colono é que deixou, a relação com as instituições externas como o Banco Mundial, FMI, FAO, OMS, etc., e os acordos de cooperação, económicos e de exploração de recursos, para não se tornar novo cliente do sistema ocidental, tal são as artimanhas de suborno e bullying que eles usam, que conseguem dobrar os nossos homens mais fortes e íntegros, a entrar em esquemas de fraude ou clientelismo institucional.

Repito mais uma vez, África não precisa mais do que 5 anos para mudar a sua situação de pobreza, e converter-se em nações prósperas com um padrão social alto para todo o seu povo, se retirar a influência ocidental dos seus recursos e da sua política. Mesmo nas condições actuais, se os líderes africanos não levassem dinheiro público para si, e exportassem para as “suas terras” na europa, há dinheiro suficiente para um desenvolvimento e crescimento económico razoável, e pelo menos dar comida, água potável e saneamento para toda gente.

Abordamos na semana passada as questões de conteúdo local, exportação de matéria prima e o desenvolvimento de infraestruturas, mas torna-se imperioso referir que, o mais importante disto tudo será o incentivo ao consumo local, para que possamos desenvolver a capacidade de absorção da nossa produção, independentemente da exportação. Precisamos combater o sentimento de que o que temos de melhor é para exportar para os outros consumirem, como se os “outros” fossem melhores consumidores que nós, e merecem as coisas de melhor qualidade. Me lembro do saudoso presidente Samora Machel, que mandava todo camarão para fora do país, e você podia até ser preso por comer camarão, porque era produto de exportação.

Os pilares, que devem ser tomados em conta nesta 3ª revolução africana, para evitarmos erros do passado:

  • Controle de tecnologias e sistemas de pagamento

Quando tomei conhecimento da história do Dr. Thomas Mensah, decidi explorar um pouco mais, para passar para si uma referência real, e actual, da grandeza de África.

Dr. Thomas Mensah é um inventor e engenheiro químico ganês, de renome mundial, naturalizado americano quando se mudou para lá nos anos 80, mais conhecido por suas inovações pioneiras em tecnologias modernas como a fibra óptica e nanotecnologia, embora tenha obtido sucesso em outros campos da ciência ao longo de sua carreira profissional e de investigação.

Em 1986, Mensah ingressou na AT&T Bell Laboratories, onde liderou o desenvolvimento de fibra óptica utilizada em mísseis guiados. O trabalho de Mensah na Bell Laboratories acabou resultando no desenvolvimento de um sistema de fibra óptica que foi implantado com sucesso em velocidades de até Mach 1, cerca de 1,225 km/h. As melhorias específicas de Mensah no processo de fabricação de cabos de fibra ótica melhoraram drasticamente a relação custo-benefício da produção desses cabos, abrindo caminho para um grau muito maior de tecnologias de fibra ótica em funcionamento em nosso mundo hoje, quase indispensáveis, tais como a internet, o YouTube, as ATMs, o Twitter, Tic Toc, etc.

Como este, há milhares de casos em que criações importantes de homens africanos passam para o controle do ocidente. Como continente, é importante dar-se mais suporte aos nossos criadores, para que passemos a controlar as tecnologias na vanguarda do progresso global. É só uma questão de consciência da dinâmica de poderes entre diversos grupos na geopolítica global, e vontade política, para acarinharmos os nossos criadores e pensadores cá em casa, para que não sirvam de instrumentos para os países do ocidente.

Como aconteceu no passado, hoje muito do desenvolvimento global sai das mãos e das mentes de africanos, mas que África não tem controlo nenhum. Ontem eramos arrancados os direitos de autoria e de propriedade de forma explícita, hoje acontece o mesmo de forma implícita, com o bullying, com a narrativa negativa e com a desestabilização da sociedade africana, a nível social, político e económico.

O controle das tecnologias que usamos é fundamental para uma revolução sustentável. Já temos notícias de roubo de dados estratégicos no Burkina Faso e outros países do Sahel, isso porque eles não controlam a infraestrutura de internet e dados onde guardam a sua informação valiosa, entretanto a França e seus parceiros precisam espiar para reverter a revolução, e controlam as plataformas.

Por outro lado, numa época em que o dinheiro governa a riqueza das nações, é importante assegurarmos o controlo da moeda e do sistema financeiro. Isso não e possível num mercado onde os bancos dominantes são europeus. Os bancos nacionais, regra geral, que já duvido que exista algum sob controle nacional, parecem ser os estrangeiros, tal é a irrelevância. A nossa estrutura do sistema financeiro é o inverso da europa, dos estados unidos, da Rússia, e de qualquer outra nação soberana.

Devemos dar maior relevância no mercado aos bancos nacionais, que devem pelo menos representar 2/3 do universo existente, não só na perspectiva de quantidade, mas também, na fasquia de mercado, em termos de volume de negócio, o que vai assegurar estabilidade do mercado contra choques financeiros externos.

Não podemos continuar a ter um banco central, que se intitula soberano e no controlo da moeda, mas que não pode e não deve cruzar a linha vermelha do FMI. Isso não é uma questão de normalização, como procuram gentilmente nos convencer, mas é uma questão de controlo, para que as coisas corram como o sistema dominante quer.

Uma instituição de rating pan-africana deve ser estabelecida, uma função que pode ser desempenhada por uma unidade especializada, participada pelos bancos centrais dos países africanos.

Empoderamento de bancos africanos de desenvolvimento, tais com o BAD, BAI, AFREXIMBANK, entre outos, com estruturas societárias que não devem dar abertura para que África não tenha o controlo dos mesmos, para que sejam verdadeiramente africanos e sirvam os interesses de África. As necessidades de capital dos países africanos devem ser supridas por estes bancos africanos, e os estados africanos devem recorrer a estes para os seus investimentos. Em caso de necessidade de injecção extra de capital, são estes bancos que devem recorrer a instituições externas, como o Banco Mundial, Banco Árabe, etc., e não os países africanos singularmente.

A plataforma de pagamentos PAPSS deve ser adoptada incondicionalmente por todos os bancos centrais em África, não só para aumentar a apetência para comércio intra-africano, mas também para reduzir a dependência da moeda ocidental para as transações internacionais. A infraestrutura de suporte do PAPSS deve ser controlada toda em África.

Os países africanos devem conservar minerais físicos em suas reservas, como o Zimbabué está a fazer, como forma de fugir a excessiva exposição da sua moeda ao dólar ou outra moeda externa. E para não termos medo de impactos dos ataques exteriores e manipulação, vamos aumentar o negócio interno através de uma excelente ferramenta já existente, que é o AfCFTA. Diferentemente do Zimbabwe, que está a seguir um caminho promissor, com a combinação de políticas de gestão de minerais e monetária, Moçambique ainda está muito amarrados às directivas do FMI, o que é uma infelicidade nossa, pois tira muito do controlo macroeconómico que o país precisa para crescer ao seu próprio ritmo.

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